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Influenciadora usa redes para mostrar que musculação significa autonomia

As publicações de Casey Johnston são orientadas para uma prática funcional e sustentável

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Joshua Needelman
The New York Times

O vídeo começa com uma professora e uma barra, como tantos outros no Instagram. Mas então, quando Casey Johnston, a instrutora, levanta a barra (de 20 kg, com mais 80 kg em anilhas) até a cintura, uma frase aparece no canto da tela: "Coisas que temos que pegar regularmente que pesam mais de 12 kg". Em seguida, ela dá uma lista de exemplos, como malas, coolers, móveis e assim por diante.

Johnston, 36, construiu uma comunidade online em torno de defender os benefícios funcionais do treinamento de força e desmistificar uma forma de exercício que pode ser intimidante para quem está de fora. Para ela, musculação é tomar posse do próprio corpo.

Mulher branca cerregando peso
Casey Johnston usa suas redes sociais para mostrar que levantar peso é tomar posse do próprio corpo - Michelle Groskopf/The New York Times

Ela não promete contar o segredo para ter um abdômen de "tanquinho" ou uma cintura mais fina, como fazem muitos influenciadores fitness. Em vez disso, oferece a seus mais de 34 mil seguidores no Instagram e quase 25 mil assinantes de seu boletim informativo, "She's a Beast" (Ela é uma fera, em português), as ferramentas para construir um corpo que pode se mover com mais facilidade na vida cotidiana. E ela escreve visões claras e incisivas sobre o discurso moderno em torno de condicionamento físico, alimentação e outros assuntos relacionados.

"Muitas vezes é culpa, culpa, culpa. Você nunca está fazendo o suficiente", diz Johnston sobre o clima de condicionamento físico convencional. Para ela, as sessões de ginástica "não são sobre experimentar o máximo de dor que você consegue tolerar. São sobre construir uma habilidade básica que é acessível a todos".

Na experiência dela, essa diferença, por sua vez, pode levar a uma melhor saúde emocional e mental. "Isso se torna um ciclo de feedback gratificante, em que é ‘Ah, eu posso ficar mais forte, e meu corpo não existe apenas para ser um saco de carne que segura meu cérebro ou para parecer atraente para outras pessoas'", pontua.

Johnston, que foi editora da Wirecutter, empresa do New York Times que analisa produtos, de 2014 a 2018, começou a escrever sua coluna "Ask a Swole Woman" (Pergunte a uma mulher bombada, em português) para o site Hairpin em 2016.

Ela descobriu que seu texto ressoou nos leitores que buscavam artigos fitness mais acessíveis e, depois que o site foi fechado, no início de 2018, sua coluna saltou por aí antes de se tornar parte da versão paga de seu boletim informativo. Ela também escreveu um e-book, "LIFTOFF: Couch to Barbell", que vendeu mais de 10 mil exemplares e é comercializado como um "guia de levantamento de peso para o resto de nós", além de ter um canal no aplicativo social Discord, onde se conecta diretamente com os leitores.

Antes de começar a levantar peso, Johnston se concentrava em correr e limitar as calorias como forma de buscar o tipo de corpo que havia sido glorificado quando ela estava crescendo, no final dos anos 1990 e início dos 2000. Essa procura foi cheia de negatividade.

Mulher branca cerregando peso
A influenciadora Casey Johnston, 36 - Michelle Groskopf/The New York Times

"Acho que as pessoas da minha idade cresceram num momento extremamente difícil em termos de como a mídia agia em relação às mulheres e as ridicularizava pelas menores falhas", pontua Johnston. "A mídia se achava com todo o direito de policiar a aparência das mulheres ou a maneira como se comportavam em público. Britney Spears é provavelmente o exemplo mais canônico disso: havia manchetes constantes sobre como seu peso flutuava."

Em 2013, Johnston se deparou com uma postagem no Reddit apresentando uma fisiculturista que despertou seu interesse. Ela estava pronta para uma mudança: não estava comendo muito, e suas mãos e pés frequentemente ficavam frios. Através da musculação, percebeu que poderia equilibrar de forma mais inteligente a ingestão de alimentos e exercícios. Mas não está aqui para julgar outras abordagens.

"Estou aceitando radicalmente tudo o que as pessoas querem fazer. Não quero discutir sobre o que elas acham que funciona", pontua Johnston, que se refere àqueles que preferem outras formas de exercício ao levantamento de peso. "Minha única posição é que acho que o treinamento de força tem má reputação."

A primeira vez que ela foi à academia –um "lugar intimidante"–, deixou de lado seus sentimentos de insegurança e realizou três exercícios: agachamento, supino e remada, com três séries de cinco repetições.

Depois, foi se aproximando da lanchonete. "Fiquei com tanta fome", afirma Johnston. "Meu corpo estava como que exigindo seu banquete depois de ir para a batalha."

Ela logo começou a estruturar as refeições em torno do exercício, comendo mais proteínas e carboidratos. Se deliciava com sua força recém-descoberta.

"Ela [Johnston] está constantemente pensando em seu corpo como um sistema", diz Seamus McKiernan, seu parceiro. "O que está entrando nele? E o que você pode fazer com ele? E como ele pode fazer você se sentir melhor e fazer mais?"

Suas plataformas oferecem "às pessoas um lugar onde sabem que estão com outras pessoas que estão na mesma página que elas, onde são orientadas para mais funcionalidade e uma prática sustentável", afirma Johnston.

Seu amigo Choire Sicha, editor-geral da revista New York e ex-editor da seção Estilos do The New York Times, comprou o e-book de Johnston em 2021. Depois de passar longas horas sentado diante da mesa durante a pandemia, ele percebeu que seu corpo estava à beira de "se deteriorar", e se desafiou a fazer algo que o deixasse "profundamente desconfortável", como conta Sicha. Se tornou, então, bombeiro voluntário, mas percebeu que precisava ganhar força.

Recorreu, finalmente, ao guia de musculação de Johnston e descobriu que a filosofia que embasava o trabalho dela também ressoava nele.

"Ela sabe que nem todos seremos campeões de levantamento de peso, e ela sabe que nem todos ficaremos bonitos quando fizermos isso", afirma Sicha. "É uma estética muito anti-Instagram. É muito pró-humana."

Tradução Luiz Roberto M. Gonçalves

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