Existem poucas constantes no mundo da perda de peso, mas um conceito se mantém: não importa como você perca peso –por meio de alimentação restritiva, cirurgia bariátrica ou a nova classe de medicamentos injetáveis como Ozempic e Wegovy–, provavelmente também perderá músculos.
Isso é uma preocupação especial para os adultos mais velhos, dizem especialistas em medicina da obesidade. Quanto mais músculos alguém com mais de 65 anos perder, maior o risco de ficar frágil ou sofrer uma fratura ou queda (o que pode ser fatal dependendo da idade). É crucial para os idosos manter a massa muscular, assim podem continuar ágeis e independentes.
A massa muscular diminui naturalmente com a idade. Um homem de 70 anos, por exemplo, provavelmente terá menos músculos e mais gordura do que outro de 30 com o mesmo IMC (índice de massa corporal), diz Scott Hagan, professor assistente de medicina da Universidade de Washington, que estudou a obesidade.
Quando as pessoas perdem grande quantidade de peso em um curto espaço de tempo, como ao tomar uma droga como Ozempic, a perda de massa muscular pode ser drástica, com duras consequências para a saúde.
Sabemos muito pouco sobre como os adultos idosos, em particular, se saem com esses medicamentos, afirma Janice Jin Hwang, chefe da divisão de endocrinologia e metabolismo da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte. Ensaios clínicos sobre a semaglutida, o ingrediente ativo do Ozempic e do Wegovy, geralmente envolvem pessoas na faixa dos 40 e 50 anos.
"Tenho lutado com isso ao aconselhar pacientes", diz Hagan, acrescentando que se preocupa com a prescrição desse tipo de medicamento "para uma pessoa de 75 anos apenas porque seu IMC é 40".
Riscos incluem problemas estomacais e nos ossos
Em testes clínicos de semaglutida, pessoas com 65 anos ou mais eram mais propensas a apresentar efeitos colaterais gastrointestinais, como náusea e vômito, do que as mais jovens. Elas também tinham maior tendência a parar de tomar os medicamentos por causa das reações adversas em geral.
A fadiga é um efeito colateral comum desses remédios, e pode ser ainda maior em adultos mais velhos. Pode ser o resultado de não comer o suficiente durante o uso dos medicamentos, mas quando se perde muito peso a pressão arterial também pode cair, diz Hagan, o que pode deixar os pacientes atordoados e cansados.
A hipertensão arterial é comum em adultos mais velhos, mas eles também são suscetíveis à hipotensão ortostática, uma queda repentina da pressão arterial ao se levantarem da posição sentada ou deitada. A perda de peso que acompanha esses medicamentos pode exacerbar a pressão baixa e tornar maiores sintomas como sensação de desmaio ou tontura.
Aqueles que já têm ou estão predispostos à osteoporose –que afeta quase 20% das mulheres com 50 anos ou mais nos Estados Unidos– precisam ter cuidado com esses medicamentos, pontua Hagan, porque a rápida perda de peso pode tornar seus ossos menos densos.
Nossos ossos estão mudando quase constantemente, diz ele, e a perda de peso reduz a força mecânica que colocamos neles, o que pode levar à perda óssea em algumas pessoas. O emagrecimento também pode prejudicar a ingestão e absorção de cálcio, afirma.
A redução da massa muscular significa que os adultos mais velhos também podem perder força e resistência, diz Andrew Kraftson, professor clínico associado da Michigan Medicine. Isso pode tornar mais difícil a tarefa de carregar mantimentos ou subir escadas, por exemplo.
"A imagem da fragilidade seria alguém com osteoporose, sujeito a quedas, com fraturas, incapaz de praticar muitas atividades comuns", afirma. "Estamos tentando não fazer isso."
Como se proteger da perda muscular
Para quem toma esses medicamentos, mas especialmente os idosos, é fundamental praticar exercícios de força regularmente, como levantar pesos, e consumir proteína suficiente para proteger contra o encolhimento muscular.
Hagan geralmente recomenda que os pacientes que tomam medicamentos como Wegovy ou Ozempic consumam pelo menos 100 gr de proteína por dia –o que pode ser um desafio, ele diz, porque os medicamentos diminuem o apetite.
Os médicos também podem prescrever doses mais baixas do medicamento para pessoas com mais de 60 anos, afirma Kraftson, para minimizar os efeitos colaterais e retardar a perda de peso.
"As pessoas devem reorientar suas expectativas e não tentar chegar ao peso corporal que tinham aos 18 anos", diz Kraftson.
Toda semana, porém, os pacientes dizem a ele que querem exatamente isso –"independentemente da idade", afirma.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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