Homens com mais de 1,90 m apelam a gringos, costureiras e sob medida para se vestir

Dificuldade com peças que caiam bem é unanimidade entre homens altos, que sofrem com formas baseadas em altura média bem inferior

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São Paulo

"Tudo é mais complicado para quem é alto", diz o chef de cozinha de 1,94 m Allan Christian, 29, citando a compra de uma cama como uma de suas dificuldades. Mas talvez a maior delas seja encontrar roupas: primeiro que sirvam e depois que combinem com seu gosto. "Por mais que eu tenha quase 30 anos, às vezes penso que continuo me vestindo como adolescente", diz.

O Brasil está entre os países que viu a média de altura da população crescer cerca de quatro centímetros nos últimos 40 anos, tendência entre os países emergentes, segundo o Imperial College de Londres (Inglaterra). Os homens seguem mais altos que as mulheres e, quando chegam no tamanho de Allan em diante, sentem mais dificuldade com o guarda-roupa.

Lucas Carrieri, 21, é técnico de TI e tem 1,98 m - Karime Xavier/Folhapress

O maior desafio para ele —e para os outros homens entre 1,87 m e 2,11 m ouvidos pela reportagem— é o comprimento das peças. Nas lojas tradicionais, se a largura da roupa é boa, geralmente fica curta, com barras de calça na altura da canela e moletons que mostram a barriga se os braços são erguidos.

Em sua adolescência nos anos 2000, o empresário Bruno Vilela, 38, diz que seu truque foi aproveitar a "moda skatista" da época, de cinturas bem baixas, que disfarçavam a dificuldade em cobrir as pernas de alguém com 1,95 m. Para contornar esses problemas, grande parte destes homens têm uma costureira de confiança, acostumada a adaptar roupas largas para o tamanho certo.

A rotina é de comprar uma peça grande —até em lojas "plus size"—, mas que não fique curta, para ser ajustada pela profissional. Muitos tratam a ida a lojas físicas como "perda de tempo", tendo no comércio online maior possibilidade de achar tamanhos próximos do ideal. A opção seguinte é de roupas sob medida, mais caras, mas que podem atender peças mais difíceis de encontrar. Medindo 2,07 m, o empresário Vinicius Simões, 31, cansou de procurar bermudas que coubessem no corpo e só tem no armário modelos encomendados a uma costureira —no caso, sua mãe.

Assim como as calças, as bermudas são quase um pesadelo geral. Estão entre as mais citadas como peças custosas de conseguir para alguém que passa muito da média de altura do país. Para os homens, ela é de 1,71 m, enquanto para as mulheres é de 1,58 m, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde mais recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2019. Entre as peças mais acessíveis, as camisetas de manga curta beiram a unanimidade, coisa difícil nessa pesquisa. A roupa social, por exemplo, aparece como céu ou inferno a depender do homem.

Os calçados são um caso à parte: nem todos os altos usam formas tão grandes, mas os que usam quebram a cabeça para localizar algo que caiba. O problema é principalmente do tamanho 46 em diante, número que Vinicius usava aos 13 anos. O último tênis que comprou em lojas tradicionais foi nessa época: "Se você for em uma loja desse ramo e dizer que calça 50, vai espantar os vendedores", diz. A saída é decorar as lojas online que comercializam tamanhos maiores, deixando o estilo em segundo plano e priorizando o "compra o que cabe".

O assunto faz o catarinense Danúbio Cardoso, de 2,01 m, recordar um trauma da infância. "Com 12 ou 13 anos, eu já calçava 43. Lançaram os famosos tênis de rodinha, meus irmãos ganharam e eu ganhei um chinelo", diz, com calçados 46 nos pés.

Outra alternativa comum, também para roupas, é apelar a importações ou compras em viagens ao exterior. São roupas e tênis casuais encomendados pela internet, de tamanho padrão ou personalizados.

Há quem compre via Ebay peças de segunda mão de alemães e holandeses; e quem viva de estoque de calças adquiridas em idas para fora. A escolha não é à toa, já que os homens mais altos do mundo estão no continente europeu, com países como Alemanha e Holanda ultrapassando a média de 1,80 m. As reclamações por peças caras para este público, mesmo no Brasil, naturalmente aumenta quando se fala de artigos importados.

Nessa equação, em busca de uma roupa, ser magro ou não ainda tem um papel determinante. Aos 51 anos, com 2,11 m e 130 kg, o bombeiro socorrista Paulo Madoenho diz que os problemas começaram mesmo quando passou a ganhar peso, 15 anos atrás, numa combinação de fratura no tornozelo e casamento de longa data. Seu estilo "boleiro", meio esportivo, é alimentado quase por inteiro com roupas feitas do zero por uma costureira. E as dicas acumuladas ao longo dos anos agora passam para o filho, hoje aos 18 anos, também alto, "mas magro ao extremo", que no lado oposto também precisa de ajuste em praticamente todas as compras.

Esses problemas, que costumam surgir na adolescência, fazem destes brasileiros especialistas em checar medidas das peças nas lojas de vestuário —a centimetragem fica muito mais importante do que a letra na etiqueta, que geralmente varia entre os estabelecimentos.

Muitos começaram a usar roupas da seção de adultos bem cedo, ao mesmo tempo em que, já crescidos, são quase unânimes ao dizer que seriam mais estilosos caso fossem mais baixos, tendo mais opções à sua disposição.

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