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Consultores botânicos querem fazer da sua planta um ser saudável e feliz

Biólogos usam redes sociais para vender serviços que ajudam na rega, adubação e posicionamento de vasos

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São Paulo

Sua planta está meio murchinha? Ela não está mais tão verde e exuberante como no dia em que foi comprada? As pontas das folhas estão amarronzadas e algumas até caíram? Nem você, nem o Google fazem ideia se o problema é uma infestação de cochonilhas malignas ou falta de água? Bem, esse parece ser o trabalho para um consultor botânico.

Esses profissionais, geralmente biólogos de formação e botânicos por paixão, passaram a criar perfis de Instagram e TikTok com dicas de cuidados para plantas que vão desde a rega correta até a época adequada para adubação e mudança de vaso. Mas seus serviços não param aí. Na verdade, é só o começo de tudo.

Marcos Mortara, professor de biologia e consultor botanico nas horas vagas - Zanone Fraissat/Folhapress

Eles fazem o que se chama de consultoria botânica, ou seja, atendem às necessidades específicas de cada cliente e de suas plantinhas. Do planejamento de onde deve ficar uma nova samambaia em um apartamento de piso de taco no bairro central da Santa Cecília, em São Paulo, até a recuperação da saúde de uma ficus que perdeu suas folhas e parecia arruinada. É um trabalho variado, inclusive de público.

Marcos Mortara, biólogo formado pela USP (Universidade de São Paulo), ajuda amigos a não matar suas plantinhas e a identificar iguarias nas matas paulistanas, além de cuidar dos vasos da madrasta quando ela viajava, desde os tempos de faculdade. O que era favor virou negócio quando a tia de um desses amigos se ofereceu para pagar pelo serviço.

"Acabou sendo minha primeira cliente. Alguns meses depois, criei um perfil profissional no Instagram e comecei a divulgar entre amigos e conhecidos. Desde então, tenho um fluxo constante de clientes", diz Marcos, que equilibra as consultorias na empresa Vidz Plantas e o ofício de professor de biologia.

Hoje, ele acumula mais de 6.000 seguidores no TikTok, além dos 1.200 fiéis seguidores do Instagram, e oferece serviços que incluem, além da consultoria online e presencial, babá de plantas e até passeios ao Ceagesp, onde acontece a feira de plantas e flores nas madrugadas de segundas e quintas.

A história é parecida com a de outros consultores, como Bárbara Mellado, bióloga formada pelo Mackenzie. "Meus amigos começaram a ter as próprias casas e matavam as plantas. Comecei a tirar dúvidas, mas eram plantas dos meus amigos, eram minhas sobrinhas", diz, em tom de brincadeira. Um amigo relações públicas deu o toque de que aquilo era um serviço —e que havia demanda—e ela fundou a Jardins Bárbaros.

E essa demanda, além de constante, vem de todos os cantos. Pit, dona do perfil @a.botanica no Instagram, onde acumula mais de 96 mil seguidores, diz que seus clientes são impossíveis de generalizar. Formada em biologia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), de onde veio o apelido pelo qual ela insiste em se identificar, Pit ajuda as amigas com plantas desde 2005, mas só formalizou o negócio em 2016, quando abriu sua empresa.

"Tem homens casados com filhos que cuidam do jardim, tem os santa ceciliers, tem senhorinhas. Tenho uma cliente que usa cristais no vaso, com um apartamento do tamanho de um quarteirão."

O esquema de consultoria varia pouco nos perfis pesquisados pela reportagem. Os consultores costumam cobrar por hora de videochamada —às vezes, oferecem visitas presenciais— e analisam aspectos como local onde a planta fica, aparência das folhas e do solo, se o vaso em que ficam tem drenagem adequada, se a aparência indica ter alguma praga. Oferecem análises na forma de dicas e relatórios, e tiram dúvidas.

Os preços variam, mas a hora costuma ser a partir de R$ 150 no atendimento remoto e pode ultrapassar os R$ 300 no atendimento presencial.

Os especialistas concordam que, embora os clientes costumem achar que o problema de suas verdinhas seja rega, a questão costuma ser a iluminação.

"Nunca consigo entender como a suculenta no banheiro se tornou uma moda tão difundida", diz Bárbara.

Ela, aliás, começou cobrando por hora e passou a oferecer a versão online de sua consultoria durante a pandemia, quando, diz, viu um boom de interesse por plantas.

"Havia uma necessidade de acolhimento, de um bem-estar que a natureza dá e as pessoas perceberam que dava para ter isso em casa", afirma.

"Muita gente encheu a casa de plantas na pandemia, e quando o mundo normalizou, começaram a enfrentar muitos problemas e buscar ajuda", diz Marcos, que observou aumento na procura por ajuda nesse período, embora considere a demanda por seus serviços constante.

Plantas, segundo Pit, não são uma moda passageira. "É uma questão de qualidade de vida. Todo mundo quer uma casa bonitinha; a vegetação, a planta, o jardim fazem parte do planeta", afirma.

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