Estudo indica que exercício físico regular ajuda a prevenir câncer de próstata

Novo estudo se soma às evidências crescentes de que o exercício é uma parte importante da prevenção de um dos tipos de câncer mais mortais nos Estados Unidos

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Talya Minsberg
The New York Times

Nos últimos anos, uma das questões mais intrigantes na pesquisa do câncer tem sido se um hábito regular de exercícios pode prevenir certos tipos de câncer.

A resposta, como em qualquer pergunta relacionada ao câncer, é complicada. Mas um estudo recente publicado no British Journal of Sports Medicine ofereceu um vislumbre de como a atividade física regular afeta o risco de câncer de próstata, o segundo câncer mais comum e fatal nos Estados Unidos para homens.

(No Brasil, excluindo o câncer de pele do tipo não melanoma, o câncer de próstata é o mais comum em homens, segundo dados do Inca —Instituto Nacional do Câncer).

Homem faz atividade física enquanto neva no parque Prospect, em Brooklyn, fevereiro de 2022. Um estudo recente publicado no British Journal of Sports Medicine indica como atividade física regular reduz o risco de câncer de próstata, o segundo mais comum e mais fatal em homens nos Estados Unidos - Keith E. Morrison/The New York Times

Em um dos maiores esforços desse tipo até o momento, pesquisadores coletaram dados entre 1982 e 2019 de 57.652 homens suecos que haviam participado de pelo menos dois testes de aptidão física para ver se aqueles que eram mais ativos tinham menos chances de desenvolver câncer. Cerca de 1% foram posteriormente diagnosticados com câncer de próstata. A equipe descobriu que aqueles que haviam melhorado na aptidão ao longo dos anos tinham 35% menos chances de terem diagnóstico da doença.

A descoberta coincide com grande parte dos estudos mais recentes relacionando estar fisicamente ativo e o risco de desenvolver câncer. De acordo com um estudo de 2021, por exemplo, se todos os adultos nos EUA seguissem as recomendações de atividade física (150 minutos por semana), os novos casos de câncer poderiam cair em 3%, ou 46 mil casos, a cada ano.

Mas, embora em todo o mundo pesquisadores tenham buscado extensivamente a relação entre exercício físico e o câncer de mama, houve um número menor de pesquisas especificamente sobre câncer de próstata. O risco de ter câncer de próstata aumenta para todos os homens após os 50 anos, e ele parece ser hereditário. Cerca de um em cada oito homens será diagnosticado com câncer de próstata durante a vida, de acordo com a Sociedade Americana do Câncer.

Alguns estudos anteriores que analisaram a conexão entre atividade física e câncer de próstata foram contraditórios, explica Kate Bolam, coautora do estudo. Enquanto alguns mostraram aumento do risco de câncer de próstata para aqueles que eram fisicamente ativos, outros encontraram um risco reduzido.

Mas muitos desses estudos tinham amostras pequenas ou eram tendenciosos em relação a pessoas mais saudáveis, diz ela, que é pesquisadora da Escola Sueca de Esporte e Ciências da Saúde.

"Os homens que são geralmente mais conscientes da saúde também são bons em ir ao médico quando são convocados para os exames de triagem de câncer de próstata", afirma.

Mais testes significam mais diagnósticos, incluindo em homens cujos tumores nunca iriam se desenvolver para algo maligno. Às vezes, as células cancerígenas podem existir na próstata durante toda a vida de uma pessoa e não serem perigosas, então muitos homens que não são testados e não apresentam sintomas podem nunca saber que têm câncer de próstata.

A equipe sueca conseguiu criar uma imagem mais detalhada usando um banco de dados nacional com centenas de milhares de resultados de testes em laboratório, incluindo testes de aptidão física que medem o quão bem o coração e os pulmões fornecem oxigênio aos músculos.

Ao contrário de estudos que dependem de pacientes para relatar seus hábitos de exercício, isso deu aos especialistas medidas objetivas. Os resultados mostraram claramente uma ligação entre atividade física e um risco reduzido de câncer de próstata, além de indicar que quanto maior a melhoria na aptidão, maior era a redução no risco encontrada.

Isso se soma a uma compreensão crescente de como o exercício é importante para a prevenção do câncer de forma mais geral. Em 2019, uma revisão da American College of Sports Medicine descobriu que a atividade física regular reduz significativamente o risco de câncer de bexiga, mama, cólon, endométrio, esôfago (adenocarcinoma esofágico), renal e estômago. A mesma análise também descobriu que praticar exercícios regularmente estava relacionado a melhores resultados de tratamento e estendia a expectativa de vida daqueles que já viviam com câncer.

Embora não esteja claro exatamente como isso acontece, os especialistas disseram que uma explicação pode ser que o exercício ajuda a combater o câncer, melhorando a forma como o sistema imunológico ataca e destrói as células cancerígenas.

"Sabemos que mesmo um único episódio de exercício ajuda nosso corpo a liberar células imunológicas em nossa circulação", disse Neil M. Iyengar, oncologista médico do Memorial Sloan Kettering Cancer Center em Nova York, que não participou do estudo. "Também ajuda a melhorar a população de células imunológicas em nossos tecidos que combatem as células cancerígenas".

Ele acrescentou: "Em alguém que se exercita, você vê mais células imunológicas que são realmente capazes de matar as células cancerígenas, enquanto para alguém mais sedentário, especialmente alguém obeso, você vê o oposto."

Os pesquisadores ainda não sabem exatamente a dose e o tipo de exercício que podem ser mais eficazes, mas tanto a Sociedade Americana do Câncer quanto a Sociedade Americana de Oncologia Clínica recomendam 150 minutos por semana, ou 20 minutos por dia, de exercícios aeróbicos. Isso pode ser uma caminhada leve, corrida ou exercícios com peso.

Tanto Iyengar quanto Bolam recomendaram começar de forma simples: encontrar uma atividade que seja prazerosa e se movimentar. Isso pode ser brincar com crianças ou netos, fazer caminhada ou participar de uma liga esportiva recreativa. A frequência, disseram eles, é fundamental, por isso é importante encontrar uma atividade que não pareça uma tarefa.

"Todos têm a chance de fazer algo que seja realmente eficaz para diminuir o risco de câncer de próstata", disse o Bolam. "E isso é algo que está totalmente sob nosso controle."

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