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Três mulheres são infectadas com HIV após procedimento estético nos EUA

Técnica, conhecida como 'vampire facial', consiste em usar o próprio plasma no sangue da paciente para aplicação na pele com microagulhas

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Roni Caryn Rabin
The New York Times

Três mulheres foram infectadas por HIV durante procedimentos estéticos chamados de "vampire facial" (facial vampiro, em tradução livre) em uma clínica de spa sem autorização em Albuquerque, Novo México (Estados Unidos). É a primeira vez que a transmissão do vírus por meio de aplicações cosméticas foi registrada, segundo as autoridades federais locais.

As vítimas estavam entre um grupo de cinco pessoas com cepas de HIV semelhantes, das quais quatro haviam passado por um procedimento chamado microagulhamento, realizado com o uso de um dispositivo com microagulhas que criam pequenos canais na superfície da pele, com plasma rico em plaquetas no spa. O quinto indivíduo, um homem, teve relação sexual com uma das mulheres.

Um oficial de saúde cambojano coleta uma amostra de sangue de um morador durante uma triagem para HIV na província de Kandal em 22 de fevereiro de 2016. As autoridades de saúde do Camboja estavam realizando triagens em centenas de moradores para HIV depois que 14 locais testaram positivo para o vírus, gerando temores de um novo surto.
Coleta uma amostra de sangue durante uma triagem para HIV - AFP/TANG CHHIN SOTHY ORG

Os especialistas ainda não sabem a fonte exata da infecção. Em 2018, um diagnóstico positivo de HIV em uma cliente levou a uma investigação de saúde pública quando a mulher disse ter recebido o procedimento estético.

Uma inspeção no spa encontrou tubos de sangue sem rótulo em uma bancada de cozinha, outros armazenados junto com alimentos em uma geladeira e seringas desembaladas em gavetas e lixeiras.

A instalação também parecia estar reutilizando equipamentos descartáveis destinados a uso único, de acordo com um relatório dos CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) americano.

O relatório surge logo após o anúncio de autoridades de saúde neste mês de que estão investigando uma série de doenças ligadas a toxina botulínica, falsificada ou mal injetada, em botox contendo altas quantidades da toxina botulínica, que é usada em pequenas doses para suavizar rugas.

"Para as pessoas que estão preocupadas —eu já tive amigos me perguntando o que eu faria—, o primeiro passo é verificar se o lugar que você vai é autorizado para fornecer serviços de injeção cosmética", afirma Anna Stadelman-Behar, pesquisadora de saúde pública do CDC e autora principal do relatório sobre o HIV.

"Se tiverem autorização, então receberam treinamento em controle de infecções e conhecem os procedimentos corretos, e são obrigados por lei a seguir práticas adequadas de controle de infecção."

No geral, observou ela, o risco de infecção durante procedimentos estéticos é geralmente baixo. "Se você tiver alguma preocupação, faça um teste de HIV", pontua Stadelman-Behar.

"O CDC recomenda que todos os adultos entre 13 e 64 anos façam o teste pelo menos uma vez como parte dos cuidados médicos de rotina e conheçam seu status."

Vampire Facials

Os chamados "vampire facials" envolvem retirar o próprio sangue do paciente, colocá-lo em centrífuga para separar o plasma rico em plaquetas e, então, perfurar a pele com agulhas muito finas e curtas, com o objetivo de estimular a produção de elastina e colágeno na pele.

A suposta ação seria garantida pelas aberturas na pele pelas quais o plasma seria recebido. O procedimento é indicado para reduzir sinais de envelhecimento, cicatrizes de acne e danos causados pelo sol.

O departamento de saúde do estado americano recebeu a notificação incomum da infecção pelo HIV, em 2018, quando a primeira mulher foi diagnosticada, e abriu uma investigação contra o spa. Desde então, autoridades identificaram quatro ex-clientes e um parceiro sexual que receberam diagnósticos de HIV entre 2018 e 2023, apesar de relatarem poucos riscos associados à infecção, como uso de drogas injetáveis, transfusão de sangue ou contato sexual com um novo parceiro.

O spa fechou no outono de 2018, logo após a identificação do primeiro caso, mas a investigação, assim como as tentativas de notificar clientes e ex-clientes de que poderiam ter sido expostas ao HIV, foram prejudicadas pela falta de registros da clínica.

Os investigadores conseguiram reunir uma lista de nomes e números de telefone a partir de formulários de consentimento que as usuárias haviam assinado, registros de compromissos escritos à mão e contatos telefônicos. Eles identificaram 59 clientes que estavam em risco de infecção, incluindo 20 que receberam "vampire facials" e 39 que receberam outros serviços, como botox.

As autoridades de saúde também informaram a comunidade sobre os riscos para as ex-clientes do spa. No geral, 198 ex-clientes do spa e seus parceiros sexuais foram testados para HIV entre 2018 e 2023.

Em cinco pessoas, foi detectada uma cepa do vírus HIV praticamente idêntica, o que levou à confirmação de casos relacionados ao spa. Mas dois deles —uma mulher que havia sido cliente e seu parceiro sexual— tinham doença avançada de HIV que os investigadores disseram ser muito provavelmente resultado de infecções anteriores, antes de seus tratamentos no spa.

O relatório apontou que duas pessoas no grupo testaram positivo em testes rápidos de HIV feitos quando solicitaram seguro de vida, incluindo um que foi testado em 2016, antes de receber tratamento no spa, e outro no segundo semestre de 2018.

Apenas um recebeu a notificação do resultado positivo do teste e teve o diagnóstico confirmado por um profissional de atenção primária à saúde em 2019. A investigação afirma ainda que nunca foi determinada com precisão a rota exata de contaminação no spa durante a primavera e o verão de 2018.

"Quando fizemos a inspeção no spa, ficou claro que as agulhas estavam sendo reutilizadas e também que espécimes de sangue estavam sendo reutilizados", afirma Stadelman-Behar. "Encontramos frascos sem rótulo, sem data de nascimento, sem data de coleta, que haviam sido perfurados várias vezes."

Ela aconselhou as pessoas que recebem esses tipos de procedimentos estéticos a solicitar aos profissionais que abram seringas e frascos na frente delas e garantam que quando seu sangue for retirado os frascos estejam devidamente rotulados com seu nome, data de nascimento e data de coleta.

"A maior lição é que a licença é super importante", completa a especialista.

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