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Técnica para desengasgar bebê de influenciadora não é manobra de Heimlich, dizem especialistas

Procedimento para desengasgo de bebês menores de um ano é diferente da tradicional técnica utilizada em crianças e adultos

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São Paulo

Pegar o bebê, virá-lo de barriga para cima, depois para baixo e, na sequência, dar uma série de tapinhas nas costas na tentativa de desengasgá-lo foi o que a influenciadora Clara Maia fez nesta semana em seu filho recém-nascido engasgado com leite.

O vídeo dela fazendo o procedimento viralizou com o nome "manobra de Heimlich". Porém, especialistas dizem que o protocolo feito é outro e só é indicado para menores de um ano.

A rapidez e calma nesses casos é fundamental para que o procedimento seja bem executado, dizem os médicos.

Ana Escobar, pediatra e professora associada da Faculdade de Medicina da USP, elogiou a forma tranquila como Maia lidou com a situação. "Ela acerta na hora em que ela põe o bebê no colo, de barriga para baixo, e começa a bater nas costas. Essa é a manobra de desengasgo em bebês", explica a especialista.

A manobra de Helmlich, criada por médico de mesmo nome, é aquela que só é possível ser feita em crianças maiores ou adultos, com a pessoa engasgada em pé e a outra atrás comprimindo em sequências a região abdominal até a vítima expelir o objeto ou alimento que obstruia a via aérea.

"Como esse procedimento é usado para desengasgo, qualquer outra manobra utilizada para fim semelhante é comumente chamada pelo mesmo nome, mas não são a mesma coisa", explica Escobar, complementando dizendo que a comunidade médica entendeu que o procedimento tradicional não funcionava para bebês, por isso uma outra técnica foi desenvolvida.

O protocolo utilizado não tem um nome específico dentro da comunidade médica, mas é a indicada para bebês menores de um ano.

No entanto, para Tânia Zamataro, pediatra e membro da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), é importante salientar que para engasgos com líquidos a manobra utilizada não é adequada. "Além disso, se fosse o caso, a desobstrução começa com cinco tapas nas costas seguidos por cinco compressões torácicas e não o inverso", diz.

"A partir de um ano, a manobra de Heimlich já pode ser feita no caso de obstrução da via aérea por um corpo estranho sólido por ser mais eficaz e segura que a outra nessa idade", afirma a pediatra.

Em nenhum engasgo líquido ou quando não há a obstrução completa da via aérea por corpo estranho sólido ou semissólido —quando a criança estiver tossindo e chorando— não é indicada a manobra de Heimlich, segundo Zamataro. Caso seja constatada a obstrução das vias respiratórias, no entanto, o indicado é virá-lo de barriga para baixo e dar um tapa nas costas, com cuidado para não lesionar.

É necessário atenção também para identificar se o bebê está respirando ou não e avaliar qual a manobra mais indicada. Como no vídeo a criança solta pequenos choros, significa que ainda estava respirando.

"Se está respirando, a gente pode ajudar o bebê engasgado fazendo isso, botando ele de barriguinha para baixo com a cabeça mais baixa que o bumbum e dando uns tapinhas no meio das costas", afirma Escobar, informando que esse tipo de procedimento vale tanto para engasgos com sólidos quanto com líquidos.

Agora, se é perceptível que a criança não está respirando e está inconsciente, há risco de um quadro mais grave e a abordagem técnica muda. "Nesses casos, fazemos essa manobra de bater nas costinhas alternando com a técnica de virá-lo de barriga para cima e alternar com a massagem cardíaca", completa Escobar.

A massagem de ressuscitação cardiopulmonar deve ser feita com o bebê de barriga para cima, como aparece nos primeiros segundos do vídeo, no meio do osso do peito, com os dedos indicador e médio, aprofundando cerca de dois terços do tórax até o bebê voltar.

Se a criança chegar a perder a consciência por não conseguir respirar, esse procedimento de compressão, como também é conhecido, deve ser repetido numa sequência de 30 vezes. "Acabando, o responsável deve colocar a boca em volta do nariz e boca e fazer duas ventilações", completa Zamataro.

Vale lembrar que esse segundo procedimento só é indicado quando a criança está inconsciente.

Médica otorrinolaringologista responsável pelo departamento de Aerodigestivo do Sabará Hospital Infantil, Saramira Bohadana afirma que a técnica boca a boca de ventilação só é recomendada em casos específicos quando o bebê parou de respirar e é necessário reanimá-la. "Dependendo do caso, se assoprar enquanto a criança ainda estiver engasgada, vai jogar mais mais leite aos pulmões", completa.

A maneira como Clara Maia agiu ao logo tentar a manobra de massagem cardíaca na criança ao colocá-la para cima, e em seguida para baixo, foi instintiva, segundo Bohadana. Mas é preciso cuidar para que o líquido não volte ao esôfago e entre na via aérea.

Ainda é necessário atenção para a execução correta de todas as manobras de desengasgo para que o bebê não seja lesionado, segundo Zamataro. O ideal é que o responsável esteja atento ao tipo de engasgo para que saiba qual manobra fazer na criança.

Como evitar que bebês engasguem

Sem fórmulas mágicas, uma das indicações unânimes das especialistas é que os bebês não sejam alimentados deitados. "Ele precisa estar com a cabeça mais para cima que as pernas, usando a [força da] gravidade", diz Zamataro.

Na hora de arrotar, a recomendação é que o processo dure cerca de 20 minutos e que ele durma de barriga para cima porque diminui a chance de engasgo.

Um levantamento do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, apontou que as causas mais frequentes de engasgo em crianças de até quatro anos de idade são amendoim e pipoca.

"Não recomendamos que esses alimentos como nozes e grãos sejam oferecidos para crianças dessa faixa etária porque é fácil engasgar. O mesmo vale para itens pequenos como miçangas em roupas e pulseiras que podem ser levadas à boca e o objeto ir, eventualmente, parar no pulmão", explica Bohadana.

O ideal é que quando uma criança passe por uma situação de engasgo, principalmente se forem episódios frequentes, um médico seja consultado para avaliar eventuais causas por trás do episódio, mesmo que haja recuperação após o auxílio com alguma manobra. "A gente nunca sabe se pode ter algum tipo de complicação", diz a otorrinolaringologista do Sabará.

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