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Riscos e tratamentos do câncer de próstata, doença negligenciada por muitos homens

Falar da doença ainda é tabu para parte dos homens, que evitam exames preventivos cruciais

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Cláudio Pessoa

Médico, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia

The Conversation

Os relatos de celebridades com o diagnóstico de tumores malignos sempre reavivam na opinião pública a importância de seus respectivos diagnóstico e tratamento. Foi o que aconteceu com o ex-jogador de futebol norte-americano O.J. Simpson, morto em abril desse ano decorrente de complicações do câncer de próstata. Também recentemente, o rei Charles da Inglaterra foi submetido a tratamento para tratar da doença.

No Brasil, o câncer de próstata é bastante abordado, especialmente nos meses de outubro e novembro, quando anualmente a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) promove o "Novembro Azul", mês de conscientização à prevenção e diagnóstico do câncer de próstata. Mas sua importância deve ser lembrada cotidianamente.

Imagem computadorizada de próstata com partes em vermelho. Um profissional aponta para o monitor com a imagem.
Imagem em 3D de próstata de paciente em tratamento de câncer - Eduardo Knapp/21.ago.19/Folhapress

A próstata é uma glândula presente nos homens, localizada próximo do reto e da bexiga, e tem como função produzir um líquido que compõe parte do sêmen e nutre os espermatozoides.

Diversas doenças podem afetar a próstata dos homens. As doenças de origem infecciosa como as prostatites podem se apresentar de forma aguda ou crônica, causando grandes alterações urinárias e queda da qualidade de vida dos pacientes.

Outra condição que basicamente todos os homens irão apresentar com o envelhecimento é o crescimento benigno da próstata, conhecido como hiperplasia prostática benigna. Tal doença pode gerar a necessidade de tratamento cirúrgico. Portanto, mesmo doenças benignas da próstata podem ser tratadas com cirurgia.

Por fim, temos o câncer de próstata, que também incide mais nos indivíduos idosos. Inicialmente, a doença é silenciosa. Os pacientes podem ficar diversos anos sem quaisquer sintomas, enquanto o câncer evolui. Quando os sintomas aparecem, como a dor óssea, a presença de sangue na urina e a perda de peso, muitas vezes a doença está espalhada, caracterizando metástase à distância.

O câncer de próstata é curável em mais de 90% dos casos, desde que o diagnóstico seja feito de forma precoce. Por isso é necessário que os homens façam o exame preventivo urológico seriado, através de consulta médica com especialista, dosagem do PSA (antígeno prostático específico, na sigla em inglês) no exame de sangue e exame de toque prostático.

De acordo com importantes sociedades urológicas no mundo, como a SBU, AUA (American Urological Association) e EAU (European Association of Urology), os homens acima de 50 anos de idade devem anualmente se submeter a consulta com urologista, dosagem de PSA e toque retal. Para os indivíduos com história familiar de câncer de próstata, esse protocolo deve ser iniciado aos 45 anos de idade.

Os dados estatísticos nos mostram a importância de se fazer o diagnóstico precoce, algo que envolve mudanças de paradigmas nos homens, população que culturalmente procura menos os exames de prevenção. Isso é ainda mais presente no caso do câncer de próstata, cuja prevenção envolve o exame de toque prostático, algo que ainda é um tabu em nosso meio.

Os principais fatores associados aos tumores malignos da próstata são idade e história familiar positiva. Após os 50 anos de idade, o número de indivíduos com esse diagnóstico irá aumentar, decorrente da própria história natural da doença.

De acordo com dados do Censo nacional no Brasil, a população de indivíduos acima de 65 anos entre 2010 e 2022 teve uma alta de 57,4%. Indivíduos nessa faixa etária atualmente representam 10,9% da população brasileira. Se relacionarmos o envelhecimento populacional com uma maior incidência de câncer de próstata em idosos, podemos esperar um alarmante aumento de casos diagnosticados.

Essa é a tendência no Reino Unido, como referido em recente publicação da revista The Lancet, que projeta um aumento de 85% nas mortes pela doença (1,4 milhão de casos em 2020 para 2,9 milhões até 2040). No Brasil, as projeções são semelhantes. Dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer) estimam que o país terá mais de 70 mil casos novos de câncer de próstata entre 2023 e 2025.

Diante dessas perspectivas torna-se essencial que os governantes e a categoria médica possam propor estratégias de saúde pública visando um acesso maior da população a informação sobre o câncer de próstata, bem como aos métodos diagnósticos e de tratamento.

Felizmente o câncer de próstata possui imensas possibilidades de tratamento e cura, quando diagnosticados precocemente. Atualmente para esse perfil de pacientes temos como opções a radioterapia conformacional da próstata e o tratamento cirúrgico de retirada do órgão. A cirurgia evoluiu bastante, especialmente nos últimos 20 anos.

Atualmente a prostatectomia radical pode ser realizada pelas vias aberta e minimamente invasiva, através da laparoscopia e robótica. Tais procedimentos mais modernos se tornaram mais seguros, com o paciente muitas vezes recebendo alta hospitalar em dois dias, podendo oferecer a cura do câncer com poucos efeitos adversos, mantendo a qualidade de vida dos pacientes.

O seguimento pós-tratamento dos pacientes envolve cuidados multidisciplinares, com a participação de urologistas, oncologistas, radioterapeutas, psicólogos e nutricionistas. Dada a perspectiva de aumento do número de casos de câncer de próstata no Brasil e no mundo, deve-se ter um aumento na estrutura de material humano e tecnológico para o cuidado dos pacientes.

Este texto foi publicado no The Conversation. Clique aqui para ler a versão original.

Médico e membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia

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