Descrição de chapéu The New York Times

Como manter uma boa conversa, segundo uma experiente âncora de rádio

Curiosidade, prestar atenção no outro e linguagem corporal estão entre as dicas

Jolie Kerr
Nova York | The New York Times

É justo dizer que Terry Gross sabe algumas coisas sobre falar com pessoas. A apresentadora e coprodutora-executiva de "Fresh Air" [Ar Fresco], da Rádio Pública Nacional (NPR), entrevistou milhares de personalidades em suas quatro décadas de carreira.

Tudo começou no início dos anos 1970, quando, flauteando um pouco pela vida depois de terminar a faculdade, ela conseguiu um trabalho na WBFO, estação de rádio em Buffalo, Estado de Nova York. Lá, telefonava para pessoas e as entrevistava para o programa "Isto É Rádio". Ela se mudou para a Filadélfia em 1975 para apresentar "Ar Fresco", criação de uma colega da WBFO.

A apresentadora Terry Gross, em frente a um microfone
Terry Gross, apresentadora do programa "Fresh Air", da NPR - Daniel Dorsa/The New York Times

Gross levou para o trabalho uma mistura de empatia com preparo rigoroso. "Eu leio, assisto ou escuto o máximo possível do trabalho da pessoa, assim tenho uma compreensão do que a torna, ou a suas histórias, importantes", disse ela. "Tento deixar claro na minha cabeça por que essa pessoa é importante e por que vale o tempo de nossos ouvintes."

Uma coisa que ela não permite a seus entrevistados, porém, é que interfiram na edição. "Quando a entrevista acaba, você não pode ligar de volta e dizer: 'Olha, eu gostei da minha resposta a isto, mas não gostei daquilo, você pode cortar?'", explicou Gross. (Como alguém que foi entrevistada por ela, quero dizer que gostaria de não ter insistido que seus gatos a odeiam. Mas não pedi que meu comentário fosse retirado daquele episódio de "Ar Fresco".)

Em uma conversa posterior, nossos papéis se inverteram e Gross ofereceu suas ideias sobre como ter uma boa conversa.

"Fale-me sobre você", também conhecido como o único quebra-gelo de que você irá precisar

São as únicas palavras de que você precisa para navegar por uma conversa potencialmente estranha, seja em um encontro às cegas ou em uma festa formal. Gross evita fazer perguntas mais diretas (por exemplo, "O que você faz como trabalho?"), que exigem que a informação seja verdadeira.

A beleza de começar com "fale-me sobre você" é que permite que você abra uma conversa sem o medo de, sem querer, deixar a pessoa desconfortável ou intimidada. Fazer uma pergunta ampla deixa a pessoa conduzi-la a quem ela é. Como entrevistadora, o objetivo de Gross é descobrir como seu entrevistado se tornou quem ele é; como interlocutor, adote esse objetivo.

O segredo de ser um bom interlocutor? Curiosidade

Entrevistar uma pessoa e ter uma conversa com ela são duas coisas diferentes. Mas uma linha comum que pode ajudá-la a se sair bem em ambas, segundo Gross, é "ter curiosidade real e querer escutar o que a outra pessoa está dizendo". 

"Posso reagir ao que alguém diz", continuou ela, "expressando se estou sentindo simpatia ou empatia, e explicando por quê." 

Seja divertida (se puder)

"Um bom interlocutor é alguém com quem é divertido conversar", disse Gross, que, vale notar, é muito engraçada. Se você não consegue ser divertida, ser mentalmente organizada, razoavelmente concisa e enérgica ajudará muito a impressionar as pessoas.

Preparação é vital

A maioria das pessoas nunca se encontrará na posição de ser entrevistada por alguém como Gross, mas a maioria certamente se verá na posição de ser entrevistada por alguém. Preparação, segundo ela, é importante. "Ajuda você a organizar suas ideias antecipadamente, pensar nas coisas que você espera que lhe perguntem e refletir sobre como você poderia responder."

Um lugar onde isso pode ser especialmente útil, em particular quando se encontrar com alguém pela primeira vez em um meio social, como um encontro romântico, é avaliar o quanto você fica à vontade falando sobre certos assuntos.

"Vale a pena pensar bem quais são seus limites, para que você não fique paralisada, sem saber se quer fazer uma confidência ou não." 

Em uma entrevista de emprego, organizar suas ideias sobre as coisas que você acha que vão lhe perguntar e refletir sobre como pode responder poderá ajudá-la a navegar se as coisas ficarem estranhas.

Assuma o controle levando a conversa para algo que você quer falar

Gross ofereceu ajuda sobre como lidar com uma entrevista de emprego que não está indo bem. "Se alguém perguntar algo e você sentir que não tem uma resposta forte, diga: 'Vou contar uma experiência que tive'." A partir daí, você pode comunicar uma experiência que realce seus talentos e as áreas em que você se destaca. 

Uma entrevista é uma rua de mão dupla, o que pode ser difícil de lembrar quando você é o candidato que quer desesperadamente conseguir o emprego, mas Gross nos lembra gentilmente que como entrevistado você está lá para fazer algumas descobertas por conta própria.

Como é realmente o emprego? O que será esperado de você? Estar preparada também pode ajudá-la a evitar ser apanhada desprevenida ou ajudá-la a desviar mais facilmente a conversa para um assunto que você se preparou para falar de um modo que a valorize.

Gross não quer que você evite perguntas. Mas, se for preciso, veja como

"Bem, não acho que seja do meu interesse ensinar as pessoas a evitar uma pergunta", disse Gross. Mas, quando pressionada —talvez lamentando o conselho anterior que ela deu a esta entrevistadora sobre como fazer as pessoas responderem a perguntas que elas não querem responder ("Continue perguntando")—, ela sugere ser honesta.

Diga: "Não quero responder a isso", ou, se for muito grosseiro, rodeie com uma declaração como: "Estou tendo dificuldade para pensar numa resposta específica para isso". Fazer-se de mártir com algo como "Tenho medo de que se responder isso eu possa ferir os sentimentos de alguém, o que não quero fazer" é outra opção. 

Terry presta atenção na linguagem corporal. Faça como ela

Gross gostaria que todo mundo prestasse atenção na linguagem corporal dos outros. "Tente perceber quando você perdeu a atenção de alguém", disse ela. Assim evitará cansar demais seu interlocutor ou impedir que alguém chegue aonde ele talvez realmente precise ir.

Se a pessoa que a envolve em um papo cansativo não pegar a deixa, Gross recomenda de novo a honestidade. "Bem, na verdade eu adoraria conversar um pouco mais, mas realmente estou atrasada", diz ela, mesmo que pareça um corte rude. "Se uma pessoa está sendo insensível com você, você não tem a obrigação de aceitar sua insensibilidade."

Quando parar e quando não

Gross prefere entrevistar artistas e criadores a políticos, e aborda de modo diferente esses grupos de entrevistados. Os políticos, segundo ela, "nos devem uma resposta", e por isso ela, bem à sua maneira Terry Gross, "continua perguntando e perguntando, e talvez pergunte de maneiras diferentes, e talvez eu indique que eles ainda não responderam à pergunta". 

Mas ela gosta mais de entrevistar pessoas que trabalham em artes e cultura, e a estas dá mais margem para definir os parâmetros da conversa. "Eu digo a elas que se eu perguntar alguma coisa pessoal demais elas devem me dizer, e eu seguirei em frente", explicou. "Quero ter a liberdade de perguntar qualquer coisa com o entendimento de que se eu for longe demais meu convidado tem a liberdade —e ele sabe disso— de dizer que me excedi. E quando você diz isso a alguém você está comprometido, e é melhor cumprir a promessa."

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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