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Ortopedia da USP terá robô para ajudar a produzir órteses

Coletes para problemas de coluna e assentos para cadeiras de rodas serão primeiras peças feitas pela máquina

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São Paulo

Foram quatro anos até que o projeto se materializasse, mas Cândida Luzo, terapeuta ocupacional do Instituto de Ortopedia e Traumatologia da USP, e Selma Lancman, professora da universidade, finalmente vão inaugurar um robô que vai dar literalmente uma mão na construção de órteses. Ele será, de acordo com as pesquisadoras, o primeiro do tipo no serviço público do país.

O braço robótico, que ainda não tem nome, possui uma fresa (ferramenta de corte) na ponta e será especialmente útil para duas tarefas. Uma delas é esculpir assentos de cadeiras de rodas personalizados em menos de uma hora. O trabalho é atualmente feito de forma manual, na base do estilete, e pode levar um dia inteiro.

A matéria-prima, um tipo de espuma, é moldada de acordo com o tamanho da pessoa e sua distribuição de peso, a partir de imagens em 3D. Depois de esculpido, o assento vai para a tapeçaria, onde é revestido e fica pronto para uso.

 “A ideia não é só criar uma cadeira que seja confortável mas que ela tenha angulações, uma conformação que ajude no processo de reabilitação, a respirar melhor, a manter a postura”, diz Lancman. Um assento inadequado pode provocar feridas e, no fim das contas, dificultar ou inviabilizar a adaptação à cadeira de rodas. 

A terapeuta ocupacional Cândida Luzo (à esq.) e a professora Selma Lancman, da USP, ao lado de robô  - Eduardo Knapp/Folhapress

Entre aqueles atendidos no serviço, que faz parte do complexo do Hospital das Clínicas, estão os que sofrem traumas, como em acidentes de trânsito (especialmente motociclistas), e também aqueles com doenças como distrofia de Duchenne e esclerose múltipla.

Hoje, há fila de mais de 450 pessoas aguardando atendimento para adaptação de cadeiras de rodas. Com o ritmo de produção do robô, deseja-se reduzir o tempo de espera dos pacientes.

A outra função do robô será ajudar na construção de coletes ortopédicos que permitam a correção de escoliose, por exemplo. Na primeira etapa, o paciente é escaneado. Em seguida, a imagem é processada por um software, que, por fim, envia as instruções para que o robô esculpa uma réplica do torso em espuma.

Com a peça em mãos, é possível planejar como será o colete e fazer os ajustes necessários para, por exemplo, tentar desentortar a coluna do paciente.

Até então, era preciso fazer um molde de gesso do tronco do paciente, construir uma espécie de boneco (às vezes de gesso, bem pesado) a partir dele e só então fazer o colete. No serviço público, isso demora até 40 dias, diz Luzo.

Segundo as especialistas, há certa negligência em relação à escoliose. A melhor época para tratar a condição é no início da adolescência. Depois de adulto e a depender da gravidade, só com cirurgia, que nem sempre funciona tão bem.

Um colete desses, na rede privada, sai por R$ 4.500 ou mais. Pelas contas da terapeuta ocupacional, o custo por item para o serviço público deve ser menos da metade —ainda mais caro do que a técnica artesanal, mas com ganho de produtividade. 

Braço robótico que será usado para esculpir assentos de cadeira de rodas e torsos de espuma, usados para fabricar coletes ortopédicos - Eduardo Knapp/Folhapress

Um desafio é conseguir que o SUS remunere o serviço de acordo —hoje, pelos coletes mais caros, recebem-se cerca de R$ 800, diz Luzo. “Mesmo num certo prejuízo, vamos começar a trabalhar, não podemos ficar paradas no tempo. Muitos dos coletes que fazemos hoje foram descritos na década de 1940.”

O robô custou, depois de intensa negociação, R$ 100 mil; o software que o comanda, US$ 40 mil (R$ 167 mil); a instalação, R$ 30 mil. Também há o custo de treinar o operador, cerca R$ 12 mil.

Os recursos foram obtidos por meio da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, que financia a pós-graduação no país), que apoiou o projeto. Além do IOT, fazem parte dele também o Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina, a Universidade Federal da Paraíba e a Universidade Federal do ABC. A princípio, o aparato tecnológico será utilizado principalmente dentro de protocolos de pesquisa e na formação de profissionais.

As primeiras peças devem ser produzidas a partir do fim de setembro, após detalhes da instalação serem resolvidos, como algumas questões de segurança. Haverá um dispositivo, por exemplo, que impede que o robô trabalhe caso alguém esteja dentro da sala onde ele opera —tudo para evitar acidentes.

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