Descrição de chapéu The New York Times

Estudo vincula refrigerantes diet a morte prematura, mas cientistas apontam falhas

Especialistas levantam hipótese de que pessoas que preferem a bebida tenham estilo de vida menos saudável

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

​Andrew Jacobs
Nova York | The New York Times

Os adeptos da Coca Zero deram um suspiro coletivo de preocupação nesta semana após a divulgação de um novo estudo que constatou que as pessoas que consomem grandes volumes de bebidas com adoçantes artificiais tinham probabilidade de morte prematura 26% superior às pessoas que raramente consomem bebidas sem açúcar.

O estudo, publicado pela revista acadêmica Jama Internal Medicine, acompanhou 450 mil europeus por 16 anos e rastreou o índice de mortalidade entre os consumidores de todas as modalidades de refrigerantes — tanto os adeptos de bebidas açucaradas quanto os adeptos de bebidas sem açúcar.

Dados os efeitos bem documentados do consumo excessivo de açúcar sobre a saúde, não foi uma grande surpresa que os autores constatassem que pessoas que bebem dois ou mais copos de bebidas açucaradas por dia apresentavam probabilidade de morte prematura 8% mais elevada do que as pessoas que consomem menos de um copo desse tipo de bebida por mês.

Mas o que causou preocupação generalizada foi a indicação de que beber Coca diet pode ser ainda mais letal do que beber Coca-Cola clássica.

A Coca-Cola trocou a Zero de embalagem para Sem Açúcar
Coca-Cola Sem Açúcar - Divulgação

"Colocando nossos resultados em contexto com outros estudos publicados, provavelmente seria prudente limitar o consumo de todos os refrigerantes e substitui-los por alternativas mais saudáveis, como a água", disse Amy Mullee, nutricionista do University College Dublin e um dos 50 pesquisadores que trabalharam no estudo, um dos maiores de seu tipo até o momento.

O estudo não foi conduzido de forma isolada. Ao longo dos últimos 12 meses, outras pesquisas nos Estados Unidos encontraram correlação entre bebidas contendo adoçantes artificiais e mortes prematuras.

O problema, dizem especialistas, é que esses e outros estudos foram incapazes de resolver uma questão crucial: consumir bebidas adoçadas com aspartame ou sacarina prejudica a saúde? Ou será que as pessoas que bebem Sprite Zero e outros refrigerantes do tipo levam vidas menos saudáveis já para começar?

Alguns nutricionistas, epidemiologistas e cientistas comportamentais acreditam que a segunda explicação possa ser verdadeira. (É uma teoria que será reconhecida instantaneamente por qualquer pessoa que tenha um dia pedido uma Coca Zero para acompanhar seu hambúrguer.)

"Pode ser que as pessoas que bebem refrigerantes diet comam muito bacon ou que pessoas racionalizem seu estilo de vida nada saudável pensando que tudo bem pedir uma porção de fritas, desde que estejam bebendo um refrigerante diet", disse Vasanti Malik, pesquisadora da Escola T.H. Chan de Saúde Pública, na Universidade Harvard, e a principal autora de um estudo publicado em abril que constatou que o elo entre adoçantes artificiais e a mortalidade expandida era em geral inconclusivo, para as mulheres. "Trata-se de um grande estudo, com meio milhão de pessoas em 10 países, mas não acredito que acrescente muito ao que já sabemos."

Os autores do estudo publicado pela Jama Internal Medicine tentaram levar em conta esses fatores de risco ao remover do estudo participantes que eram fumantes ou obesos, e eles tentaram aumentar a precisão por meio do uso de modelagem estatística.

Mas David Ludwig, médico especialista em obesidade no Hospital Infantil de Boston, disse que os estudos ditos observacionais não são capazes de determinar causa e efeito. "Talvez os adoçantes artificiais estejam elevando a mortalidade. Ou talvez as pessoas que apresentam maior risco de morte, como os portadores de excesso de peso ou obesidade, estejam optando por beber refrigerantes diet mas isso não baste para resolver seu problema de peso, levando-as a mortes prematuras".

Ainda assim, os cientistas dizem que a alternativa a estudos observacionais—um teste clínico que designe participantes aleatoriamente para um grupo que consome bebidas açucaradas e um grupo que consome bebidas diet— não é viável.

"Os testes clínicos são considerados como o padrão mais alto da ciência, mas imagine solicitar a milhares de pessoas que respeitem essas normas de alimentação por décadas', disse Malik, de Harvard. "Muita gente desistiria, e e o custo do teste seria proibitivo."

As preocupações quanto aos adoçantes artificiais surgiram na década de 1970, quando estudos constataram que consumir grandes quantidades de sacarina causava câncer em ratos de laboratório. A FDA (Food and Drug Administration), agência americana de fiscalização e regulamentação de alimentos e remédios, proibiu temporariamente o consumo do adoçante e o Congresso dos Estados Unidos ordenou estudos adicionais e o uso de um rótulo de alerta, mas pesquisas subsequentes constataram que o produto era seguro para consumo humano. Adoçantes químicos criados mais recentemente, como o aspartame e a sucralose, foram estudados extensivamente, com poucas indicações de que afetem negativamente a saúde humana, de acordo com a FDA.

Alguns estudos chegaram até a constatar uma correlação entre adoçantes artificiais e perda de peso, mas outros sugeriram que seu uso pode despertar mais anseios pelo consumo de alimentos açucarados.

"Não existem provas de que sejam nocivos para pessoas com uma dieta saudável e que estejam tentando manter um estilo de vida saudável", disse o médico Barry Popkin, nutricionista da Universidade da Carolina do Norte. Ele e outros continuam preocupados com a possibilidade de que dar bebidas diet a crianças jovens possa encorajar sua vontade de consumir doces.

Ainda assim, muitos cientistas dizem que mais pesquisas são necessárias para determinar os efeitos do consumo de adoçantes artificiais em longo prazo. Ainda que Mullee, um das autoras do estudo publicado pela Jama Internal Medicine, tenha acautelado contra extrair conclusões sombrias de seus dados, ela disse que não se pode descartar um efeito deletério dos adoçantes artificiais, apontando para estudos que sugerem possível vínculo entre o aspartame e níveis elevados de glicose e insulina em seres humanos. "No momento, os mecanismos biológicos não são claros, mas nossa esperança é que nossas pesquisas estimulem novos estudos", ela disse.

Para os consumidores, as mensagens contraditórias podem causar confusão. O médico Jim Krieger, fundador e diretor executivo da Healthy Food America, uma organização que pressiona governos municipais a aplicar impostos sobre a venda de refrigerantes e ampliar o acesso dos consumidores a frutas e legumes, disse que o novo estudo e outros projetos semelhantes despertam mais questões do que respondem.

"Olha, a esta altura você provavelmente deveria optar por água, chá ou café sem açúcar ou adoçante, em lugar de se arriscar com bebidas sobre as quais não sabemos grande coisa", ele disse. "Certamente você não deve optar por bebidas açucaradas, porque sabemos que isso não faz bem."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.