"Não foram dias fáceis”, afirma o médico ortopedista Vitor Luis Pereira, 30, com histórico de atleta e diagnosticado com a Covid-19 no dia 17.
Com 1,87 m, 110 kg e porte atlético, Pereira pratica atividades físicas diariamente desde os 16 anos. Na faculdade, onde hoje é médico residente, fez parte da equipe de arremesso de peso, com rotinas intensas de treino e participações em competições universitárias. Saudável, ele também não sofre de nenhuma doença crônica.
Mesmo assim, o vírus o derrubou. No último dia 11, começou a se sentir mal e teve febre de 39ºC. Por orientação médica, se isolou em casa e permaneceu em repouso, tentando controlar a elevação da temperatura do corpo.
Cinco dias depois, entretanto, os sintomas pioraram e a medicação parou de surtir efeito. A tosse surgiu forte e incessante, e Pereira começou a sentir falta de ar.
“Atividades simples como tomar banho me deixavam exaurido. Tinha a sensação de peso no peito até quando ficava deitado”, afirma. Foi quando o médico sentiu que estava na hora de voltar ao hospital.
Ele passou uma semana internado, sendo que cinco dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Além de enfrentar o desconhecido, Pereira sofreu com a solidão.
“O corpo ficou destruído. A oxigenação e os exames laboratoriais estavam ruins. Sinais de mau prognóstico. Vi muita coisa nessa internação, muita gente doente, muitos profissionais da saúde se dedicando ao máximo em seu trabalho enquanto o hospital ficava lotado. A UTI estava enchendo de casos graves”, afirmou Pereira neste domingo (29) nas redes sociais. A publicação viralizou e em poucas horas recebeu mais de 6.000 curtidas e milhares de compartilhamentos no Facebook.
O depoimento vai na contramão de falas recentes de Jair Bolsonaro (sem partido), que tem se referido à doença como uma “gripezinha”. Em pronunciamento em rede nacional na terça (24), ele afirmou que, se fosse infectado, por seu histórico de "atleta", não deveria temer a doença.
Bolsonaro também tem defendido o isolamento parcial ou vertical, que consiste em retirar do convívio social apenas os grupos mais suscetíveis à mortalidade pela Covid-19, como pessoas acima de 60 anos e portadores de doenças como hipertensão e diabetes.
Neste domingo, ele foi a uma feira livre e provocou aglomeração. Bolsonaro conclamou as pessoas a voltarem para as ruas para trabalhar e disse estar com "vontade" de fazer um decreto para liberar todas as atividades.
Na quinta-feira, Pereira recebeu alta hospitalar, mas permanece em repouso. Pela lesão causada ao pulmão, ainda há risco de infecção oportunista.
“Escutem as autoridades e especialistas, sigam as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Ministério da Saúde. Respeitem esse maldito vírus. Fiquem em casa”, afirma Pereira. “Saio dessa mais forte e mudado. Pronto para ajudar na luta contra a Covid-19”.
O médico não sabe quando contraiu o vírus. Ele acredita que pode ter sido em um encontro com colegas norte-americanos, no início do mês, antes da OMS definir a disseminação global da doença como uma pandemia, ou durante sua atividade profissional.
Até este domingo (29), o Brasil tinha 136 mortes confirmadas e 4.256 casos do novo coronavírus.
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