Seis grandes hospitais públicos, sendo cinco na capital paulista e um na Grande São Paulo, têm taxa de ocupação dos leitos de mais de 70%; quatro chegam a cerca de 80%.
Segundo o infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência, isso mostra uma pressão no sistema público de saúde causada pela Covid-19.
Todos os 30 leitos de UTI do Instituto Emílio Ribas, na região central, estão ocupados. A taxa na enfermaria é de 83% de ocupação. O Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte, tem 86% dos leitos ocupados na enfermaria e na UTI.
Os demais observados foram o Hospital Geral de Pedreira (71% na enfermaria e 87% UTI), Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos (71% na enfermaria e 67% de UTI), e Hospital São Paulo (73% na enfermaria e 62% UTI).
O Instituto Central do Hospital das Clínicas, na zona sul, foi destinado exclusivamente ao tratamento da doença. Até 13h desta quarta-feira, 73% dos leitos de enfermaria e 83% da UTI estavam ocupados. Estão sendo disponibilizados 900 leitos para São Paulo.
Segundo o secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann, os cálculos para criação de leitos foram feitos antes de a Covid-19 chegar ao Brasil, o que ocorreu em fevereiro. Por isso, o modelo era a China, país onde a doença explodiu primeiro, mas que teve uma curva de contágio e morte mais controlada, por exemplo, que a dos países europeus que a pandemia atingiria depois.
"Consideramos um tempo de permanência de 15 dias e, em função disso, a necessidade de leitos para quatro ou cinco meses da epidemia. Estamos ao fim do segundo mês", observou, falando que foi planejada uma primeira e uma segunda reserva. "São dois mil e poucos leitos de cada um, mas os da segunda reserva estamos aprontando e só entrarão se necessário, de acordo com o pico da doença."
Caso a doença se estenda, será necessário pensar em leitos para julho, de acordo com o secretário.
"Quando o indivíduo vai para o ambiente de terapia intensiva, fica em média 14 dias, quando caminha para a cura. Infelizmente, quando não evolui bem o tempo é maior, o que implica um resultado óbvio de permanência por mais tempo que o habitual de doente grave em UTI", afirmou Uip.
Pelo segundo dia consecutivo, o estado de São Paulo apresentou pico de internações de confirmados para Covid-19, com mais de 2.300 pacientes assistidos em hospitais. Deles, 1.132 estão em leitos de UTI e 1.200 em enfermarias.
O estado tem hoje 11.043 casos de covid-19 com 778 mortes —aumento de 18% no número de confirmações e 12% no de mortes em relação ao dia anterior. Dos mortos, 463 são homens e 315 mulheres.
Na capital paulista, foram confirmados 7.764 casos de Covid-19, com 558 óbitos. São Paulo tem 199 municípios com confirmações e 78 com registro de mortes, espalhadas por todas as áreas do estado.
Uip reiterou a necessidade do distanciamento social para achatar a curva de crescimento da doença e distribuir os casos nos próximos meses, uma vez que já pode ser verificado um avanço da contaminação para o interior e o litoral. Além disso, afirmou que podem faltar insumos, estrutura física e equipe multidisciplinar.
Pelo segundo dia consecutivo, a taxa de isolamento social ficou em 50%, considerada abaixo do ideal.
"Vejo de vez em quando em notícias que vocês não conseguem prever o pico com exatidão. Isso é boa notícia. Significa que estamos conseguindo alargar e achatar a curva. Quanto mais diluída essa curva for, melhor para o sistema de saúde. Agora, no pico, estaremos diante de uma montanha ou do Everest”, disse Uip.
No início de maio, deve ser entregue o hospital de campanha do Ibirapuera, na zona sul, que está sendo construído na pista de atletismo. Segundo Germann, 80% das obras estão concluídas.
A expectativa é que os 240 leitos de baixa complexidade e os 28 de estabilização entrem em operação no dia 1º de maio. No local, 800 profissionais de saúde darão atendimento à população.
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