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Ministério da Saúde nunca mudou orientação de manter distanciamento, diz Teich

Segundo ele, diretriz será diferente conforme o quadro da doença em diferentes estados

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Brasília

O ministro da Saúde, Nelson Teich, disse nesta quarta-feira (29) que a pasta "nunca mudou" a orientação de manter o distanciamento social e que eventuais flexibilizações foram feitas por decisões de governadores.

A declaração ocorreu em sessão virtual do Senado. Teich falou após receber duras críticas de senadores por não se posicionar em apoio ao distanciamento social desde que tomou posse no cargo.

"A gente como ministério nunca se posicionou para a saída do distanciamento. Isso tem de ficar muito claro. Nunca", disse.

O ministro da Saúde, Nelson Teich, em coletiva de imprensa
O ministro da Saúde, Nelson Teich, em coletiva de imprensa - Lucio Tavora/Xinhua

Apesar da resposta, Teich voltou a citar a intenção de fazer uma diretriz com parâmetros diferentes por região. Segundo ele, a previsão é que a política oriente isolamento para algumas pessoas e conforme o quadro da doença em diferentes estados.​

​"Uma diretriz do Ministério vai sair, e cada estado vai usar essa diretriz dentro da sua realidade. O que a gente faz aqui é trabalho conjunto com estados e municípios."

Apesar do número de mortes causadas pela doença estar em elevação, o ministro afirmou que ainda não há previsão de quando a flexibilização de as regras possa ocorrer, mas que o planejamento já está sendo feito.

"O que a gente está discutindo aqui são critérios para que haja uma flexibilização do momento certo. É importante que já tenha um planejamento prévio quando isso acontecer."

Questionado sobre a fala do presidente Jair Bolsonaro, que minimizou a alta de mortes no país, Teich evitou comentar a declaração, mas disse lamentar os números.

"A gente sofre com as vidas que estão sendo perdidas. A gente não é indiferente às mortes das pessoas", disse ele.

Em seguida, disse que não iria discutir comportamento de Bolsonaro, mas afirmou que está alinhado com o presidente.

"Não vou discutir aqui o comportamento, mas eu posso dizer que ele está preocupado com as pessoas e com a sociedade. O alinhamento é nesse sentido."

Boletim do Ministério da Saúde divulgado nesta quarta aponta 449 novas mortes confirmadas pela Covid-19 nas últimas 24 horas. Com isso, o total de mortes registradas no país já chega a 5.466. O Brasil também já soma 78.162 casos confirmados do doença.

Na audiência, Teich disse que não é possível saber quando será o pico da pandemia do novo coronavírus no país.

“Quando vai ser o pico (da doença)? Não sei e ninguém sabe. As datas que a gente projeta hoje são suposições", disse.

Segundo ele, a falta de informações sobre a doença e a baixa oferta de testes dificultam saber qual o cenário real no país.

"Não sabemos qual o percentual da sociedade acometida pela doença, quantos são assintomáticos, e se essas pessoas transmitem tanto quanto as mais graves. Os testes que a gente faz não permitem hoje saber essa realidade. Sem esse conhecimento, estamos literalmente navegando às cegas, essa é a verdade."

Nesse contexto, antes de dizer que a pasta não havia mudado as orientações, Teich disse que medidas de isolamento que "radicalizam" o distanciamento social são necessárias "quando não se sabe o que fazer".

"Quando não sabe, faz o radical, que é o que se faz há cem anos, separa todo mundo. Cem anos depois da gripe espanhola, temos exatamente o mesmo tipo de comportamento. Nosso sistema de informação não evoluiu o bastante em cem anos para ter informação diferente de cem anos atrás."

Autora do requerimento que resultou na participação do ministro na sessão virtual, a senadora Rose de Freitas (Podemos-ES) foi uma das que questionou a posição de Teich em relação ao isolamento social. “O próprio presidente da República conspirou sobre todas as medidas do ex-ministro”, disse.

“O próprio presidente da República conspirou sobre todas as medidas do ex-ministro”, disse.

Inicialmente, o ministro evitou responder a questão, afirmando que a pergunta era “simples demais”.

“Não posso responder superficialmente perguntas complexas. Ficar em casa é genérico demais. Ficar em casa vai ser a melhor opção para algumas pessoas, não para todas. Vamos trabalhar isso de forma mais específica”.

A resposta não foi aceita por todos os senadores, que voltaram ao questionamento, e acentuaram as críticas. A começar pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que disse que estava frustrado com as respostas dados pelo ministro, que não traziam informações novas aos parlamentares. O senador defendeu o isolamento social como forma de conter o avanço do vírus.

“Desde que o senhor assumiu o ministério, o distanciamento social caiu drasticamente e estamos agora com uma explosão de mortes. Não há momento de indecisão, precisa ser claro e passar uma resposta rápida para a população. Isolamento social, sim ou não?”, questionou.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também cobrou um posicionamento mais contundente do ministro com relação especialmente ao isolamento social.

“É muito claro que as ações do presidente da República prejudicam a sociedade brasileira”.

A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) criticou os posicionamentos do presidente da República e afirmou que, assim como outros senadores, não estava satisfeita com as respostas do ministro.

“Isolamento ou não isolamento? Se o senhor for defender o não isolamento, temos respiradores para atender a todos que vão precisar”?, questionou.

Diante das críticas, Teich disse que a pasta não deve fazer nenhuma mudança “enquanto não houver uma definição clara de como são as curvas” e eventuais impactos.

"Você vai ter que ter uma gradação entre o distanciamento ou isolamento. Não estamos discutindo se vai ter isso ou não. Isso já está colocado. Não estamos defendendo a liberação, não é isso. Mas vamos apresentar critérios para definir a gravidade e qual o nível de isolamento que vai ter. "

Para o ministro, ainda é cedo para um retorno das atividades escolares. "Não existe qualquer recomendação de volta às escolas."

Na sequência do debate, o ministro afirmou ainda que o Brasil deve entrar em um período em que há circulação de outros vírus respiratórios, o que pode gerar uma sobrecarga no sistema.

Para Teich, falar do cenário da doença de forma geral para o país leva a "simplificação exagerada". "Precisamos separar por regiões."

Ele defendeu que haja um novo modelo de distribuição de recursos e insumos, com foco em estados mais afetados.

"Não há crítica a forma adotada até então, mas a partir de agora percebemos distintos perfis de comportamento da doença por região, e definimos que nossas ações devem se pautar por distribuição não linear de insumos e meios", disse.

Sem detalhar medidas, disse que é preciso atenção ao restante do sistema.

"Mesmo que possamos ter uma multiplicação de casos, que tenhamos 4 milhões, 5 milhões, 6 milhões de pessoas, é um país de 212 milhões de pessoas, e temos mais de 200 milhões com outros problemas que temos que cuidar", disse.​

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