Descrição de chapéu Coronavírus

EUA registram recorde de mortes em um único dia por coronavírus

Vítimas chegaram a 1.700; com cemitérios sobrecarregados, enterros devem acontecer em parques de NY

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Washington

Os EUA registraram nesta terça-feira (7) 1.700 mortes em decorrência do coronavírus no país e alcançaram o maior número de vítimas em um único dia desde o início da pandemia.

Apesar dos mais de 383 mil casos registrados no país —o total de mortes passou de 12 mil— o diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), Robert Redfield, disse que o número de vítimas pode ser "muito menor" do que o inicialmente previsto pela Casa Branca.

Na semana passada, o governo americano apresentou projeções que indicavam que 100 mil a 240 mil pessoas morreriam nos EUA mesmo se adotadas as medidas de distanciamento social, que estão em vigor no país pelo menos até o dia 30 de abril.

"Esse modelo que usamos prevê que apenas cerca de 50% dos americanos vão seguir as orientações. Na verdade, como vemos, a grande maioria está adotando o distanciamento social de coração e acho que essa é a consequência de vermos números mais e mais baixos do que tínhamos previsto", disse Redfield. Pelo menos 97% dos americanos está sob alguma forma de restrição social.

Pior cenário hoje no país, o estado de Nova York acompanhou o recorde nacional diário e chegou a 731 mortes nesta terça.

O total de vítimas no estado foi a 5.489 a oito dias do que o governo dos EUA espera que seja o pico da crise no país. O governador Andrew Cuomo, no entanto, afirmou que é preciso focar as atenções na queda de internações, que indicaria tendência de melhora no grave quadro da região.

Em coletiva nesta terça, Cuomo enfatizou que a taxa de mortalidade é um indicador atrasado —visto que as pessoas morrem dias ou até semanas após serem infectadas— e que, embora internações tenham aumentado de segunda para terça-feira, a média em relação a três dias apresentou propensão à queda em Nova York. "No momento, projetamos que estamos atingindo uma estabilização no número de hospitalizações."

Movimentação na entrada de centro médico no Brooklyn, em Nova York, nesta terça (7)
Movimentação na entrada de centro médico no Brooklyn, em Nova York, nesta terça (7) - Angela Weiss/AFP

Dos mais de 383 mil casos de Covid-19 confirmados nos EUA nesta terça, 138,8 mil estão em Nova York.

Com o cenário crítico desde o meio de março, o estado tem hospitais sobrecarregados e escassez de materiais médicos, que vão de respiradores a máscaras e luvas.

Para tentar contingenciar parte dos danos, cerca de 7.000 profissionais de saúde, muitos aposentados e de outras regiões do país, foram habilitados a trabalhar em Nova York, enquanto um plano de enterros temporários e em locais provisórios, como parques, também foi anunciado nesta semana.

Bill de Blasio, prefeito da cidade de Nova York, disse que colocaria em marcha enterros temporários, mas não deu detalhes das ações, o que acabou sendo feito pelo vereador Mark Levine, presidente do Conselho Municipal. Levine explicou que alguns corpos serão enterrados em parques da cidade diante da superlotação de cemitérios e necrotérios tradicionais, e que, depois da pandemia, os mortos serão transferidos para os locais adequados.

"Serão cavadas covas para dez caixões em fileiras. Será feito de maneira digna, ordenada e temporária", afirmou Levine. A cidade concentra 68,7 mil casos e cerca de 3.000 mortes.

Cuomo reforçou que a melhora no cenário do estado só deve acontecer se as pessoas continuarem seguindo à risca as orientações de distanciamento social, previstas por enquanto até o fim de abril.

"Não estamos vendo um ato de Deus, é um ato do que a sociedade realmente faz", disse o governador.

Cuomo também afirmou que estava em andamento o plano para reiniciar a economia regional e que havia conversado com seus pares em Nova Jersey e em Connecticut sobre a coordenação desses esforços.

As expectativas um pouco mais positivas de Cuomo acontecem ao mesmo tempo em que o modelo estatístico utilizado como base pela Casa Branca para a pandemia anuncia revisões de alguns números do fim de março, causando uma guerra de dados entre os estados.

São esses os dados citados pelo diretor do CDC ao falar que as perspectivas de número de mortos devem ser melhores do que as previstas pelo governo na semana passada.

Os números utilizados como modelo pelo governo são reunidos por um centro de pesquisa da faculdade de medicina da Universidade de Washington que, nesta semana, apontou que os EUA vão precisar de menos leitos hospitalares e de UTI do que havia sido previsto inicialmente, apesar de nem todos os estudos indicarem a mesma tendência.

O pico nacional da crise foi mantido para 15 de abril, mas agora o centro prevê que o número de leitos necessários na fase mais aguda da crise poderia ser reduzido quase pela metade —de 262 mil para 140,8 mil— enquanto os de UTI poderiam cair de cerca de 40 mil inicialmente previstos para 29.000.

Apesar disso, governadores continuam prevendo semanas difíceis pela frente e muitos deles têm desenvolvido seus próprios métodos de previsão e contabilidade para antecipar os materiais e leitos que precisam —e em qual quantidade.

Especialistas, por sua vez, têm alertado para problemas no uso de um único modelo para embasar toda a ação no país, porque ele pode estar otimista ou até mesmo conter erros.

O modelo compilado pela Universidade de Washington foi utilizado na semana passada para a Casa Branca fazer as projeções de 100 mil a 240 mil mortos nos EUA pelo coronavírus, mesmo com a adoção das normas de distanciamento social.

Foi a primeira vez que o governo americano fez projeções oficiais sobre o impacto da pandemia na vida dos cidadãos do país, conferindo um tom grave ao presidente Donald Trump, que inicialmente minimizou a crise.

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