Descrição de chapéu Coronavírus

É como se meu filho fosse a uma guerra, diz pai de médico que irá atuar em Manaus

Primeiro grupo de profissionais contratados de forma emergencial saiu de Brasília e Rio de Janeiro no domingo; ao todo, 267 devem reforçar atendimento

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Brasília

"É como se seu filho fosse para uma guerra. É um novo vírus que ainda não sabemos manejar", disse o médico anestesista José Henrique Leal Araújo, 62, ao se despedir do filho, o também médico Henrique, que embarcava no aeroporto de Brasília.

"Ele fala isso, mas está com ciúmes e queria ir também", brinca o filho, que antecipou as últimas férias da residência médica em anestesiologia, prestes a ser finalizada, para ir a Manaus, uma das primeiras cidades a apresentar colapso no sistema de saúde devido ao novo coronavírus.

Henrique, 36, é um dos médicos que fazem parte do primeiro grupo de profissionais de saúde que entrou em uma chamada emergencial do Ministério da Saúde para reforçar equipes em áreas de maior volume de casos da doença.

Na noite deste último domingo (3), 11 desses profissionais, a maioria de Brasília e Rio de Janeiro, embarcaram no meio do aeroporto de Brasília praticamente vazio. Eles devem se juntar a outros 256 profissionais, entre médicos, enfermeiros e outros, que foram selecionados na região de Manaus.

Do total, 236 já moravam na região, e 31 são de outros estados.

Fora do front devido à idade, alvo de risco para complicações da doença, o pai de Henrique abriu um intervalo na quarentena e home-office para acompanhar à distância a saída do filho e dos outros profissionais, munido de máscara. Alguns familiares de outros profissionais faziam o mesmo.

Embora admitisse a preocupação, Henrique já havia se inscrito em outras seleções para atuar no atendimento. “Fiz o cadastro e recebi e-mail. Perguntei se poderia antecipar as férias para trabalhar e aceitaram. Pensei: vou tentar”, disse.

A estratégia faz parte do programa Brasil Conta Comigo, lançado neste ano em meio a polêmica por obrigar o cadastro de profissionais de saúde do país. O ministério, porém, diz que a adesão final é voluntária. No Amazonas, os profissionais devem receber salário, que varia conforme a categoria, carga horária e local de atuação (vai de R$ 4,5 mil a R$ 19 mil, com adicional de plantão e de insalubridade), e ficar de um a seis meses, conforme a disponibilidade.

O grupo que deve ir a Manaus é formado por profissionais de saúde com históricos diferentes.

A enfermeira Paula Farias, 49, saiu do Rio de Janeiro, onde atuava nos últimos anos na assistência a pacientes com câncer e buscava novo emprego. "Queria sair da minha zona de conforto", afirma.

Já a técnica em enfermagem Fabiana Araújo, 34, buscava experiência no atendimento hospitalar --nos últimos anos, conta, atuou principalmente em clínicas de home care.

"Estou numa ansiedade enorme. Minha família era contra, mas queria ter essa experiência e achei que era importante ajudar.”

Segundo a secretária de gestão em trabalho na saúde, Mayra Pinheiro, os profissionais devem atuar em um hospital de campanha em Manaus e em novos leitos de UTI abertos para receber pacientes em três cidades da região.

Eles devem ser alocados conforme o grau de experiência –apenas aqueles que já passaram por UTI devem assumir a função, afirma, e os demais devem atuar em outras atividades no hospital de campanha, diz Pinheiro, que também define a situação como “operação de guerra”.

Inicialmente, o total planejado para Amazonas era de 581 profissionais de saúde, mas só 267 foram contratados até o momento. Pinheiro diz que o número menor corresponde aos profissionais que aceitaram atuar já nos próximos dias, mas que a pasta planeja aumentar os contratos nesta semana.

Atualmente, o estado do Amazonas tem a segunda maior incidência de Covid-19, com 1.612 casos a cada 1 milhão de habitantes. O volume é próximo do Amapá, que também deve receber médicos. Em números absolutos, são 6.683 casos no estado amazonense e 548 mortes.

Chamado na sexta-feira (1o), o enfermeiro Adriano Araújo, 49, avisou a família e organizou as malas em 48h. Ele diz ter visto na seleção a possibilidade de voltar a atuar na emergência, onde se especializou –neste ano, estava na parte administrativa de um serviço de saúde em Brasília, relata. "Estamos prontos para atuar na linha de frente”, diz.

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