É falso que máscaras contaminadas serão distribuídas para população de SP

Rumor sobre material chinês circula em um momento de elevada tensão nas relações entre EUA e o país asiático

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São Paulo

Não é verdade que máscaras de proteção contaminadas estariam sendo distribuídas pelo sistema de saúde em cidades da Baixada Santista, em São Paulo. A informação foi divulgada por um homem que se identifica como “Pastor Róbson” em suas redes sociais e que, posteriormente, publicou um vídeo se retratando da declaração.

O projeto Comprova confirmou também com órgãos de saúde do estado que não há previsão de distribuição de máscaras para a população.

Procurado pelo Comprova, o pastor se pronunciou por meio de sua assessoria de imprensa e disse que teria se “confundido” e produzido o vídeo inicial por estar “assustado” e “alarmado” com a informação que recebeu por meio de áudios e vídeos em um grupo no WhatsApp.

Para fazer esta verificação, localizamos, por meio de buscas no Google, Facebook e Instagram, o pastor que aparece nas imagens. Na perfil dele no Instagram, há um número de telefone e entramos em contato por WhatsApp. A assessoria de imprensa do pastor Róbson nos respondeu e informou que ele já havia se retratado pelo vídeo publicado.

Além disso, entramos em contato, por email, com o Ministério da Saúde, a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo e as Secretarias de Saúde do Guarujá e de Itanhaém, cidades mencionadas no vídeo, para checar se havia alguma previsão de distribuição de máscaras.

Em um vídeo publicado no Facebook, o pastor Róbson Pentecoste diz que recebeu informações sobre um carregamento contaminado de máscaras de proteção que teriam chegado ao Brasil pelo Porto de Santos (SP). Segundo ele, os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) seriam distribuídos por agentes de saúde e nos postos.

Ele alega que o mesmo tipo de material de proteção individual teria sido entregue nos Estados Unidos, e provocado vários casos da doença no país –o FBI teria recolhido parte do material.

O Comprova entrou em contato com o pastor, e a assessoria de imprensa dele nos enviou uma série de links com notícias sobre problemas com máscaras produzidas na China. A seleção mistura informações de vários portais –alguns mais e outros menos conhecidos–, mas nenhuma fala efetivamente sobre contaminação de nenhum tipo.

Questionamos, especificamente, sobre as alegações do vídeo divulgado, e fomos então informados de que o autor do vídeo já se retratou sobre o conteúdo no próprio Facebook. Esta correção foi feita em um stories no dia seguinte ao do primeiro vídeo e já não está mais disponível. Nele, o pastor disse que foi alertado por várias pessoas de que a suposta contaminação das máscaras não era verdade.

“Ele não costuma se pronunciar a respeito desse tipo de coisa”, afirmou a assessora de imprensa. Segundo ela, o pastor “se confundiu” e se baseou em informações que recebeu em um grupo no Facebook, do qual participa.

Apesar da alegação, há outros vídeos e posts do pastor, em seu Facebook, a respeito do novo coronavírus.

Mesmo com a retratação publicada pelo autor do vídeo, o Comprova decidiu checar algumas das informações divulgadas por ele, que se repetem em outros conteúdos que circulam pela internet.

A respeito da chegada de máscaras pelo Porto de Santos (SP), a assessoria do porto respondeu que não possui a informação.

Procuramos a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, que nos informou, por telefone, que não há previsão de entrega de máscaras para a população do estado. Segundo a pasta, o equipamento de proteção individual adquirido pelo governo é destinado aos profissionais da saúde e de outros serviços essenciais da administração.

As Secretarias de Saúde de Guarujá e Itanhaém, cidades citadas no vídeo e que ficam na Região Metropolitana da Baixada Santista, também foram contatadas pelo Comprova. Os órgãos nos informaram, por email, que não há previsão de distribuição de máscaras para os moradores.

O Ministério da Saúde já desmentiu informações sobre máscaras chinesas contaminadas, e afirma que, em função do tempo gasto para a chegada do material ao Brasil, mesmo que as máscaras saíssem contaminadas da China, o vírus não sobreviveria ao longo trajeto. “O vírus só é transmitido entre humanos e não sobrevive mais de 24 horas fora do organismo humano ou de algum animal”, diz a publicação no site do Ministério.

O rumor sobre as supostas máscaras contaminadas circula em um momento de elevada tensão nas relações entre os Estados Unidos e a China a respeito de responsabilidades sobre a pandemia de Covid-19.

Agências de inteligência norte-americanas estão, atualmente, analisando a possibilidade de o vírus causador da doença ter começado a circular a partir de um laboratório da cidade de Wuhan que pesquisa diversos tipos de coronavírus.

O vídeo original foi removido das redes sociais do pastor, mas a versão encontrada pelo Comprova, publicada no último dia 23 de abril, supera as 500 mil visualizações.

A verificação desse conteúdo também foi feita pelo Estadão e rádio Band News FM publicada pelo projeto Comprova na sexta (1º). Coalizão reúne 24 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus.

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