Descrição de chapéu Coronavírus

Depoimento: 'Precisou dor superar medo para eu ir a um PS na pandemia'

Editora-adjunta da Folha relata o dilema de procurar ajuda médica por medo de contrair Covid-19

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Eu tinha planos para aquela quarta-feira. Era minha folga, mas tinha muito a fazer no meu isolamento. Só não planejava ir a um pronto-socorro em plena pandemia.

Uma dor abdominal e um incômodo intenso no estômago me acordaram cedo. Qualquer movimento era um sofrimento, mas estava decidida: nem pensar ir ao médico.

O chá quentinho não deu alívio. Continuava na cama e, pela hora do almoço, tomei um pouco de leite —disseram que poderia ser bom. Nada.

Passei a considerar a ida ao médico. Mas pensava no possível risco de contaminação por Covid-19 e vinham à cabeça as imagens de hospitais cheios, gente nos corredores.

Já era o meio da tarde quando me rendi. Aceitei a carona oferecida pelo meu irmão, mas tentei recuar ao chegar à porta de casa. Ele, então, teve um bom argumento. Disse que seria melhor saber logo o que estava acontecendo e que os hospitais são preparados para atender casos fora Covid com segurança. Eu usava máscara, tinha outra de reserva e levava álcool em gel.

Fui a um hospital particular, da rede credenciada pelo plano do jornal. Na recepção eu me surpreendi —estava vazia naquele momento. Na triagem veio a pergunta sobre eventuais problemas respiratórios nos últimos 14 dias. Mas o atendente tentou me tranquilizar ao dizer que pacientes com Covid eram logo levados a outro prédio.

Não demorou muito tempo para ser atendida. As cadeiras na espera tinham marcações para respeitar o distanciamento. E pacientes, mesmo acompanhados, respeitavam.

Achei que veria funcionários higienizando freneticamente cadeiras e balcões. Não havia. Mas vi a maioria dos pacientes usando álcool em gel a cada pouco. Vinham à mente, de novo, as cenas de hospitais públicos lotados, com falta de equipamentos, pessoas sem acesso a produtos para higienizar as mãos.

Fui medicada e encaminhada a exames. A cada passo, a dor cedia lugar ao medo do coronavírus.
Mas, ainda na sala de medicação, não precisou meia hora para a dor começar a ir embora e eu ter certeza de que procurar ajuda fora mesmo o melhor a fazer.

Fiquei pensando se a endoscopia pedida no começo da pandemia e postergada para evitar o ambiente médico em meio ao aumento de casos de Covid-19 teria impedido aquele problema.

Saí dali com um lista de remédios e uma certeza: a pandemia não suspendeu outras doenças. Procurar o médico, sem desprezar sintomas, apesar do receio, é a decisão certa.

Esperei 14 dias para escrever este texto, sem nenhum sintoma de Covid, felizmente.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.