Descrição de chapéu Coronavírus

Dinamarca suspende ordem de matar visons após reação da oposição

Governo temia transmissão de variante do coronavírus, mas parlamentares afirmam que não há base científica para a medida

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Bruxelas

O governo da Dinamarca voltou atrás em seu plano de matar os cerca de 17 milhões de visões do país por causa de uma nova variante do Sars-Cov-2 que foi transmitida dos animais para humanos e poderia afetar a eficácia de futuras vacinas, segundo dados preliminares.

No país escandinavo, 214 pessoas foram infectadas em casos associados a visons desde junho, 12 dos quais pela nova variante, identificada em 5 de novembro.

O sacrifício de todos os animais, doentes ou saudáveis, até 16 de novembro havia sido anunciado na quinta (5) pela primeira-ministra, Mette Frederiksen, mas parlamentares se recusaram a apoiar a medida, por falta de embasamento científico.

Sem autoridade para exigir o extermínio dos visons fora das chamadas zonas de segurança, o governo voltou atrás, mas 2,4 milhões de animais já haviam sido abatidos até a tarde desta segunda (9), de acordo a Administração Veterinária e Alimentar do país, responsável pelos sacrifícios.

À noite, o Ministério da Agricultura afirmou que apresentará na terça (10) um projeto de lei para dar ao governo autoridade para sacrificar todos os visons do país. É preciso uma maioria de três quartos no Parlamento para aprovar o projeto de lei urgente.

O maior partido de oposição da Dinamarca, o Venstre, afirmou que obrigar o extermínio dos visons sem justificativa científica prejudicará a fonte de renda de muitos dinamarqueses: o país é o maior produtor global de pele de vison.

Nesta segunda, a Holanda, um dos seis países que já registraram contaminação de visons por coronavírus, divulgou que já havia detectado variante semelhante à dinamarquesa, mas que ela não foi transmitida para humanos. A identificação foi possível depois que a Dinamarca publicou o sequenciamento genético da nova cepa.

O governo holandês anunciou que encerrará a produção dos animais para a obtenção de pele até março do ano que vem. A Polônia, que também produz pele de mink, divulgou intenção semelhante no primeiro semestre.

Nos EUA, 11 fazendas de vison também registraram casos do novo coronavírus, de acordo com a agência de controle de doenças transmissíveis. Itália, Espanha e Suécia também já relataram a contaminação, de acordo com a OMS.

No final de semana, a entidade havia recomendado aumento da vigilância em criadouros de vison e locais de criação ou abate de animais em geral, porque eles podem se transformar em reservatórios do coronavírus, transmitindo o patógeno entre si e, eventualmente, para humanos.

“Continua sendo uma preocupação quando qualquer vírus animal se espalha para a população humana, ou quando uma população animal pode contribuir para amplificar e espalhar um vírus que afeta humanos”, afirmou a OMS.

Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que é importante monitorar tanto as mutações podem ocorrer tanto em animais quanto em humanos. No entanto, ainda não é possível afirmar se faria sentido sacrificar milhões de visons na Dinamarca.

Segundo os pesquisadores, é provável que se trate de uma ação preventiva, buscando evitar situações fora de controle. Raquel Stucchi, pesquisadora da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), afirma que poderia ser uma forma de impedir cadeias de transmissão e retransmissão entre animais e humanos, situação com possibilidade de causar um maior número de mutações no vírus.

“O coronavírus pula fácil de uma espécie para outra. Então, todo o tipo de vigilância é relevante em animais e humanos, e tem que ser feito com cuidado para não causar alarde”, diz Natália Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão de Ciência. “Saber quais são os vírus mutantes circulando é uma informação valiosa, mas não quer dizer que seja uma informação perigosa.”

Não são incomuns sacrifícios de grandes números de animais para evitar espalhamento de doenças com potencial pandêmico. Em fevereiro deste ano, por exemplo, a China exterminou mais de 18 mil frangos após um surto de gripe aviária C. Um comunicado do governo afirmou que se tratava de um subtipo de H5N1 altamente patogênico. Além disso, trata-se de uma doença que pode ser transmitida para humanos

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