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Resultado de teste de Covid demora até dez dias úteis na rede pública da capital paulista

Prefeitura diz que tempo aumentou quando exames começaram a ser processados pelo Ministério da Saúde

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São Paulo

O tempo de espera pelo resultado do exame de Covid-19 na rede pública da capital paulista chega a dez dias úteis. O prazo, que até o início de novembro era de dois a três dias, aumentou após a saída de um dos laboratórios que processava os testes e foi agravado pela alta de casos da doença na cidade.

Profissionais que trabalham em UBSs (Unidade Básica de Saúde) informaram à Folha, sob condição de anonimato, que os resultados começaram a demorar um pouco mais quando o material coletado de pacientes com suspeita de Covid-19 deixou de ser enviado ao laboratório AFIP.

A reportagem entrou em contato com dez postos de saúde, nas cinco regiões da cidade nesta semana e em todos o prazo dado para o resultado do exame tipo RT-PCR era de sete a dez dias. “Faz uns seis dias que não chegam resultados por aqui. E a demanda só tem aumentado”, disse enfermeira de uma UBS da região da Mooca (zona leste de SP).

Segundo a gestão Bruno Covas (PSDB), até o mês de outubro o laboratório Afip fez a gestão de 60 mil exames por mês para a prefeitura. Desde então, o processamentos dos testes de Covid-19 vem sendo feito exclusivamente pelo laboratório Dasa, contratado pelo Ministério da Saúde.

"No período que a Prefeitura de São Paulo esteve à frente da coordenação da realização dos exames, o prazo para apresentação dos resultados era de 24 horas", informa trecho da nota da prefeitura.

Agora, os testes coletados nas unidades de saúde municipal são cadastrados por laboratórios que já prestam serviço para a prefeitura e entregues ao Centro de Diagnóstico Emergencial, formado pelo Ministério da Saúde, que processa os exames.

A encarregada de limpeza Sivonete de Carvalho Gomes, 45, levou uma semana para descobrir que havia sido infectada pela Covid-19. Ela apresentou os primeiros sintomas da doença –febre, dor no corpo e resfriado– no dia 11 de novembro e buscou atendimento na UBS São Jorge, região do Butantã (zona oeste de SP).

Ela recebeu medicação para dor e foi orientada a retornar em dois dias, para colher o exame PCR. “Disseram que o resultado saía em sete dias. Tentei acessar o site do laboratório CientificaLab, mas dizia que a minha senha era inválida. Liguei no laboratório e disseram que só podia resolver na UBS. Aí tive de sair do isolamento e ir até o posto. Chegando lá, o meu teste deu positivo para Covid”, conta.

Só depois do diagnóstico positivo é que Sivonete começou a tomar antibiótico e foi afastada do trabalho por mais 14 dias. “Meu contrato de trabalho é intermitente. Só recebo quando trabalho. Por causa dessa demora, perdi mais dias de serviço. Quem paga esse meu prejuízo?”, questiona.

Assim como Sivonete, outros pacientes também reclamam que a senha recebida na UBS para acessar o site do laboratório não funciona. “A maioria acaba vindo aqui no posto pegar o resultado mesmo, porque o site não funciona”, diz a atendente da uma UBS da região de Moema (zona sul de SP).

Sem opção, muitos pacientes estão recorrendo às redes sociais para reclamar. A página do Facebook da Cientificalab tem dezenas de comentários a respeito da demora no resultado dos exames. Já o site Reclame Aqui reunia centenas de queixas contra o laboratório --mais de 50 registradas até a tarde desta quarta.

Segundo o Cientifcalab, que registra os exames coletados pela prefeitura, o CDE (Centro de Diagnóstico Emergencial), formado em parceria com o Ministério da Saúde, tem recebido “um volume de amostras da Prefeitura de São Paulo que é superior à capacidade de análise dos equipamentos e insumos disponibilizados para o processamento dos exames”. Assim, o prazo atual chega a dez dias úteis.

O CientificaLab afirma ainda que o CDE consegue processar 8.000 exames ao dia, mas “o volume de testes recebido está acima do estimado e previamente acordado.”

Após receber diversas queixas de funcionários e usuários da rede municipal, o conselho gestor da supervisão técnica do Butantã enviou uma carta para a Secretaria Municipal da Saúde alertando a respeito da demora nos resultados.

O documento ainda chama atenção para o impacto do problema no funcionamento das unidades de saúde. Quando um profissional apresenta os sintomas da doença, precisa ficar afastado até que o resultado descarte ou confirme a contaminação pelo coronavírus. Com esse prazo aumentado, as equipes das AMAs e UBSs têm ficado mais desfalcadas.

“Eu paguei meu exame na rede particular para ficar menos dias longe do trabalho e não sobrecarregar os meus colegas. Fiquei sabendo do resultado em 48 horas e foi positivo para Covid. Pelo menos reduzi meu afastamento em oito dias”, disse a médica de uma UBS da zona oeste.

O prazo maior para a confirmação do diagnóstico também atrapalha o serviço de monitoramento de casos, porque até que saia o resultado os funcionários das UBSs precisam entrar em contato com os pacientes a cada 48 horas. “Quando o teste saía rápido, a gente já descartava muitas pessoas. Agora temos de ligar para todo mundo, pois não sabemos se estão doentes ou não”, diz um profissional que trabalha em um posto de saúde na região da Brasilândia, zona norte de São Paulo.

O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto Emilio Ribas, afirma que o atraso prejudica o controle da doença na cidade. “A demora nos testes dificulta o rastreamento das pessoas que tiveram contato com o possível infectado, o que pode aumentar a transmissibilidade.”

O infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, também critica a demora. Segundo ele, a falta de diagnóstico cria um efeito cascata no controle da pandemia. “A escassez de testes e a demora em termos os resultados acarretam consequentemente em demora na tomada de medidas de restrição, para reduzir a velocidade de propagação do vírus.”

Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, até 29 de novembro foram realizados na cidade 1.590.380 testes, sendo 884.640 exames de PCR RT, 500 mil testes rápidos e 205.740 testes sorológicos.

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Saúde na noite desta quinta-feira, após a gestão Covas apontar que os exames eram de responsabilidade do governo federal, mas, em razão a hora, o ministério afirmou não ter técnicos para apurar as informações. A pasta ainda informou que enviará um posicionamento nesta quinta-feira (4).

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