“Isso é a retórica do ódio. Não trata do assunto mas desqualifica o interlocutor”, diz padre Júlio Lancellotti, 72, coordenador da Pastoral do Povo de Rua em São Paulo, sobre as críticas feitas, neste domingo (7), pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), à “Carta aberta à Humanidade”, divulgada por religiosos e intelectuais.
“Até parece que só eu assino”, afirma padre Júlio.
A carta já tem quase 100 mil assinaturas desde que foi tornada pública no sábado (6) e afirma, em seu conteúdo, que o Brasil se transformou em uma câmara de gás como resultado da "política genocida" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Neste domingo, em visita a Israel, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) criticaram duramente o conteúdo da carta. Segundo o chanceler trata-se de "colocação totalmente absurda e ofensiva para a comunidade judaica".
O filho do presidente endereçou suas críticas a padre Júlio. Segundo ele, o religioso "fez ataque vil", em momento em que uma comitiva brasileira, da qual ele e Araújo fazem parte, está em Israel "buscando levar para o Brasil medicamentos para combater a Covid”.
Padre Júlio afirma que não há qualquer polêmica em relação à comunidade judaica e a afirmação do chanceler é apenas uma forma de evitar o debate do problema. "A carta é, inclusive, assinada por judeus como Silvio Tendler”, afirma.
Além de Tendler, que é um dos criadores da carta, ao lado do professor da PUC e UERJ Adair Rocha, o rabino Nilton Bonder também assina o documento.
Para Rocha, a comparação é clara. “A morte se transformou numa estratégia governamental. O que são 10 mil mortes em uma semana?”, diz. “É, de fato, uma situação genocida, como uma máquina de morte instalada.”
Neste domingo, o Brasil registrou 1.054 novas mortes pela Covid-19 e manteve, pelo nono dia seguido, recorde de média móvel de óbitos, com 1.497. O recorde anterior era de 1.455.
Dessa forma, o país completa 46 dias com média móvel acima de 1.000. O número de casos nas últimas 24 horas foi de 79.237.
Com isso, o total de mortes no país chegou a 265.500 e o de casos a 11.018.557 desde o início da pandemia.
Além de religiosos e intelectuais, centrais sindicais e lideranças comunitárias das favelas como a do Jacarezinho, Alemão, Santa Marta e Rocinha apoiaram o movimento.
Alguns dos nomes que assinaram são:
Itamar Silva, Grupo ECO, Santa Marta
Rumba Gabriel, Jacarezinho, TV Portal de Favelas
Álvaro Maciel e André Constantini, Chapéu Mangueira e Babilônia,
Dom Mauro Morelli, bispo emérito de Caxias
Nilton Bonder, rabino
Frei Betto, frade dominicano e escritor
Celso Amorim, diplomata, ex-chanceler
Milton Hatoum, escritor
Eric Nepomuceno, jornalista, escritor
Marieta Severo, atriz
Edu Lobo, compositor, músico
Camila Pitanga, atriz
Paulinho da Viola, cantor, compositor
Ivan Lins, compositor, músico
Ricardo Coutinho – Ex-governador da Paraíba
Chico Buarque, músico
Gisele Cittadino, jurista, ABJD
Marta Skinner, economista
Murilo Salles cineasta
Marcelo Barros, teólogo
Maria Victoria de Mesquita Benevides, cientista política
João Bosco, compositor, músico
José Luis Fiori, cientista político
Patricia Pillar, atriz
A carta, disponível em https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSeAUTbllrhdBSuBMceaIxrzcSHff70-5uLxVM7LCIhlXWV9ig/viewform, já foi traduzida para inglês, espanhol, francês e alemão e deve rodar o mundo recolhendo assinaturas a partir de agora.
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