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Adoçantes de refrigerantes podem prejudicar o fígado, aponta estudo inicial

Pesquisa observou que substâncias atrapalham ação de uma proteína que metaboliza remédios

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São Paulo

Dois adoçantes comumente utilizados em refrigerantes zero açúcar podem afetar a função de desintoxicação do fígado, aponta um novo estudo, ainda em caráter inicial.

Essas substâncias, que conseguem deixar um sabor doce nas bebidas sem o uso do açúcar, dificultariam a ação de uma proteína do fígado essencial para a excreção de substâncias tóxicas do organismo humano. A conclusão é de pesquisadores do Medical College of Wisconsin, instituição dos EUA.

O trabalho foi apresentado recentemente na conferência Experimental Biology 2022, mas ainda não foi publicado em uma revista científica.

Mulher com copo de refrigerante, em foto ilustrativa - Pexels

Um estudo preliminar dessa equipe de cientistas já havia observado que camundongos filhotes expostos aos chamados adoçantes não nutritivos apresentaram alterações no processo de desintoxicação do fígado.

Foi a partir desse estudo que os pesquisadores projetaram este segundo. Nele, foram examinados os efeitos dos adoçantes acessulfame de potássio e sucralose na glicoproteína P, que atua na metabolização de medicamentos e na eliminação de toxinas do organismo.

A investigação também levou em consideração as recomendações de doses para os adoçantes conforme preconizado pela FDA (agência que regula remédios e alimentos nos EUA). Assim, foram mensurados os efeitos das duas substâncias em níveis abaixo e acima das orientações da entidade.

"Observamos que os adoçantes afetaram a atividade da glicoproteína P nas células do fígado em concentrações esperadas pelo consumo de alimentos e bebidas comuns, muito abaixo dos limites máximos recomendados pelo FDA", disse Stephanie Van Stichelen, líder da equipe de pesquisa, à agência de notícias da Medical College of Wisconsin.

Giovanni Faria Silva, médico hepatologista e presidente da SBH (Sociedade Brasileira de Hepatologia), que não tem relação com essa pesquisa, comenta, porém, que ainda é cedo para avaliar o impacto desse trabalho. "O que foi apresentado nesse estudo ainda não tem um artigo publicado para ver em detalhes como foi a metodologia adotada, por exemplo", afirma.

Além disso, o estudo foi feito somente em laboratório. O ideal, segundo Silva, é que as investigações prossigam a fim de fazer outras pesquisas de caráter observacional ou, principalmente, estudos clínicos, que são considerados o padrão ouro por contar com grupos controle e experimental.

"São interessantes esses resultados, mas é importante que sejam reproduzidos para ter uma avaliação e ter um prosseguimento nessa hipótese que foi lançada", completa.

Caso o que foi observado no estudo realmente seja reconhecido por outras pesquisas, os efeitos no organismo seriam principalmente a curto prazo, já que a metabolização das drogas pela glicoproteína P não ocorreria de forma adequada, gerando efeitos colaterais no paciente. Mas efeitos crônicos também poderiam acontecer, a depender de novas descobertas.

"O que pode mais ter são efeitos colaterais mais expressivos a princípio [e de forma aguda]. Problemas a longo prazo teriam que ser melhor analisados em outras pesquisas", diz Silva.

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