Descrição de chapéu Coronavírus

Levantamento mostra mudanças nos discursos da família Bolsonaro sobre vacinas

Palavra 'vacina' foi mais frequente que outros temas caros à família, como corrupção e comunismo

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São Paulo

Um novo levantamento reuniu as postagens com menção à palavra vacina em redes sociais da família Bolsonaro. Com os dados, é possível observar as mudanças nos posicionamentos do presidente de seus filhos acerca do imunizante durante a pandemia de Covid-19.

No total, houve 1.448 postagens nas quais constava a palavra, entre março de 2020, quando teve início a crise sanitária, e 15 de agosto de 2022, começo da campanha eleitoral.

A quantidade é muito maior que a menção a palavras associadas a temas caros ao bolsonarismo, como comunismo, que teve 155 menções, e corrupção, 428.

O levantamento é da Metamemo, plataforma que armazena informações públicas postadas em redes sociais. Nesse compilado, foram consideradas mais de 84 mil postagens de quatro membros da família: o presidente Bolsonaro e seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo.

O presidente Jair Bolsonaro, em Brasília, durante anúncio de medidas relacionadas à Covid em março de 2020 - Adriano Machado - 18.mar.20/Reuters

As principais redes sociais dos quatro foram consideradas: Twitter, Facebook, Instagram e YouTube. O Telegram também compôs a pesquisa, mas com informações coletadas somente neste ano.

A compilação dos dados mostra as mudanças dos discursos que os Bolsonaros tiveram acerca da vacinação com o transcorrer da pandemia. O próprio levantamento tem uma divisão temporal que situa as menções à vacina em perspectiva com o estágio da pandemia em que se encontrava o Brasil e as mudanças nas narrativas que a família adotou sobre os imunizantes.

Segundo o Metamemo, no começo os posts eram com mensagens favoráveis à pesquisa e depois passaram a se concentrar na defesa à liberdade das pessoas não se vacinarem.

O primeiro estágio foi de março a setembro de 2020. As menções a vacinas foram uma minoria do total –só 4%. Os posts mostravam cunho favorável às vacinas contra Covid, que, naquele momento, ainda estavam em desenvolvimento. O presidente Bolsonaro, por exemplo, mencionava nas redes as ações que tomava para comprar o imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca.

Por outro lado, nesse mesmo período, o presidente já se posicionava contra medidas de prevenção preconizadas por especialistas e entidades, como a OMS. Distanciamento social e uso de máscaras eram rechaçados por Bolsonaro. Frases que marcaram a gestão turbulenta da pandemia foram proferidas pelo presidente naqueles meses: "Não sou coveiro" e "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre" tiveram grande repercussão.

O segundo período do levantamento concentrou-se no intervalo de outubro de 2020 a início de janeiro de 2021. Os posts aumentaram, mas ainda foram minoria, representando 8% do total. Nessa época, Bolsonaro lançou mão de um discurso negacionista sobre as vacinas, em especial contra a Coronavac. O motivo teve relação com a corrida do então governador de São Paulo, João Doria, para comprar o fármaco.

O presidente passou a chamar o imunizante de "vacina chinesa" e insinuou que o fármaco causaria "morte, invalidez, anomalia". Estudos, no entanto, já comprovaram a segurança da Coronavac.

Seus filhos também atuaram para divulgar fake news ou sugerir relutâncias de adesão à vacina. Um caso foi o do senador Flávio Bolsonaro (PL), que duvidou da necessidade de se vacinar por já ter sido infectado pelo Sars-CoV-2. "Já estou imune, para que vacina?", escreveu.

O intervalo entre janeiro e julho de 2021 foi tratado na terceira fase do levantamento. Quase 62% das postagens citando vacinas se concentraram nesse período, abordando sobretudo as compras e distribuições dos fármacos.

O clã Bolsonaro continuou a propagar discursos antivacina, mas também adotou posições mais conciliatórias com o aumento das taxas de vacinação. A mudança da narrativa –ora críticos a vacinação, ora com tom mais ameno– marcou as postagens feitas pela família.

O quarto período analisado no levantamento foi mais extenso: do final de julho até o primeiro dia de 2022. O momento foi caracterizado pela queda no número de mortos por Covid no Brasil e pelo aumento da taxa de vacinação. As postagens nesse intervalo somaram cerca de 16% das mais de 1.400 registradas na plataforma.

O momento foi marcado pelas críticas de Bolsonaro à vacinação contra Covid de crianças e adolescentes. A Pfizer já contava com a autorização para ser aplicada em adolescentes, e a Coronavac tentava obter o aval.

Até hoje, a vacinação nos menores ainda é objeto de contestação do presidente. O caso mais recente foi quando o Ministério da Saúde ignorou o parecer técnico de disponibilizar a vacina contra Covid-19 para todas as crianças acima de seis meses –a pasta recomendou o imunizante somente para aquelas com comorbidades.

O quinto e último período compilado foi o de janeiro até 15 de agosto deste ano, quando começou a campanha eleitoral. A média de menções a vacinas caiu –constitui 10% do total.

Uma mudança nos últimos meses foi que os filhos do presidente foram os que mais publicaram posts relacionados a vacinas. Os tímidos posts de Bolsonaro tratavam principalmente sobre como a vacina vinha sendo distribuída. Mesmo assim, o presidente continuou a propagar discursos contrários à imunização –especialmente entre crianças.

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