Descrição de chapéu câncer

Câncer, um velho inimigo que pouco a pouco revela seus segredos

Última arma é a inteligência artificial, que permite uma melhor definição do prognóstico da doença

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Isabelle Tourné
Paris | AFP

O câncer, esse velho inimigo da espécie humana, vem revelando seus segredos, graças aos espetaculares avanços da medicina, porém o campo de pesquisa ainda é imenso.

A doença é provocada pela transformação das células, que proliferam de forma anormal e descontrolada. Estima-se que cause cerca de 10 milhões de mortes por ano em todo o mundo.

Após décadas de intensa pesquisa, suas origens e características são muito mais bem compreendidas. Sabe-se agora, por exemplo, que não existe "um" câncer para um órgão, mas que pode se manifestar de diferentes maneiras. E que um mesmo tipo de câncer pode causar tumores diferentes.

"Falar de um câncer de cólon, ou de um câncer de mama, não quer dizer nada: o desafio hoje é definir com o quê o câncer se parece do ponto de vista biológico", explica o diretor de pesquisa do centro especializado francês Gustave-Roussy, o médico Fabrice André, à AFP.

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Sala de espera do setor de quimioterapia do hospital A.C Camargo, na capital paulista, especializado no tratamento de câncer - Karime Xavier 9.ago.22/Folhapress

Existem, por exemplo, três grandes classes de câncer de mama que não respondem da mesma forma ao mesmo tratamento.

Nos últimos anos, "o desenvolvimento das tecnologias moleculares permitiu identificar melhor quais são as proteínas anormais que devem ser freadas" para cada tipo de tumor, acrescenta André.

Essa melhor compreensão da doença permitiu o surgimento, nos anos 2000, de terapias seletivas, cujo alvo é uma mutação genética em particular.

Imunoterapia

A quimioterapia foi durante anos o único tratamento viável, sem se concentrar na área específica afetada. Os efeitos colaterais costumavam ser severos.

Para alguns tipos de câncer, como certas leucemias, "as terapias seletivas foram uma revolução", destaca Bruno Quesnel, diretor de pesquisa e inovação do Instituto Nacional do Câncer (Inca), na França.

Na última década, foi a imunoterapia que trouxe os avanços mais importantes para a oncologia. Seu princípio é que o paciente se torna seu próprio remédio.

Ao contrário das quimioterapias, não se ataca mais as células cancerígenas em si. O que se faz é reforçar as células imunológicas que as cercam, para que destruam as cancerígenas.

Com essa descoberta, James Allison, da Universidade do Texas, e Tasuku Honjo, da Universidade de Kyoto, ganharam o Prêmio Nobel de Medicina em 2018. No caso de alguns tipos de câncer, a descoberta foi crucial.

Antes de 2010, por exemplo, as chances de sobrevivência de melanoma metastático (o câncer de pele mais grave) eram muito baixas. Graças à imunoterapia, a expectativa de vida aumentou para dez anos, em vez de apenas alguns meses.

Nem todos os tumores respondem positivamente a esse tratamento, que também pode causar efeitos colaterais.

Inteligência artificial

"Estamos apenas no início da imunoterapia", diz Bruno Quesnel.

Suas aplicações são variadas: anticorpos bioespecíficos, terapias celulares e alogênicas (células CAR-T), entre outros.

"Agora, trata-se de conseguir a combinação correta de tratamentos", afirma Pierre Saintigny, oncologista do centro Léon Bérard, em Lyon.

"Com a imunoterapia subimos um degrau no tratamento do câncer, mas ainda restam muitos outros para aqueles doentes que não têm acesso" a esse tratamento, diz ele.

Os pesquisadores também dispõem de biotecnologias para desenvolver novos medicamentos, cada vez mais seletivos e menos tóxicos.

E a última arma, recém-chegada, é a inteligência artificial (IA), que permite uma melhor definição do prognóstico do câncer.

Graças a ela, "poderemos identificar quais pacientes podem se beneficiar de um tratamento curto", afirma Fabrice André.

Sua principal vantagem é a progressiva desescalada do tratamento e, portanto, uma redução de custos.

O primeiro câncer tratado com a ajuda da IA foi o de mama.

Outra esperança reside na capacidade de detectar um tumor no corpo muito precocemente.

"Já se conseguiu nos Estados Unidos, pelo rastreamento do DNA, a partir de uma simples análise de sangue, mas ainda aparecem muitos falsos positivos", relata Fabrice André.

Com a generalização dessa técnica, a prevenção melhoraria substancialmente, o que ainda é a melhor forma de evitar grande parte dos cânceres.

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