Descrição de chapéu Projeto Saúde Pública

Aumenta número de mortes por tuberculose de pessoas com HIV

No país, doença provocou 1 a cada 3 óbitos das pessoas com o vírus em 2021

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Brasília

A tuberculose se mantém como a principal causa de morte de pessoas com HIV no Brasil. Em 2021, foram 284 óbitos, um crescimento de 20,3% em relação a 2020 e de 2,2% em comparação a 2019, pré-pandemia de Covid, segundo dados do Ministério da Saúde.

Também considerando 2021, a doença respondeu por 1 a cada 3 mortes de pessoas com o vírus.

Os indicadores do ministério apontam que em 2022 houve uma redução na quantidade de testagens para o HIV e, com isso, diminuiu o número registrado de coinfecção de tuberculose e do vírus. Além disso, foi o ano com maior percentual da redução de cura da doença nesse público.

Especialistas apontam que a piora dos indicadores tem várias razões, como a dificuldade de acesso ao tratamento e a restrição de despesas com saúde após a criação do teto de gastos, que passou a valer em 2017.

Três comprimidos estão na palma da mão de um homem idoso
Morador da favela da Rocinha, no Rio, mostra remédios utilizados para tratamento de tuberculose - Raquel Cunha - 17.nov.16/Folhapress

Ao todo, em 2021, o país registrou 5.072 mortes por tuberculose, alta de 11% em comparação ao ano anterior (4.569).

A soma de novos diagnósticos também vem subindo. No ano passado, atingiu 78.057 (36,3 por 100 mil habitantes), superando os 74.385 (34,9 por 100 mil habitantes) e os 70.554 (33,3 por 100 mil habitantes) de 2021 e 2020, respectivamente.

A enfermidade aparece entre as doenças infecciosas que mais matam no mundo, atrás apenas da Covid. A transmissão acontece por via respiratória, pela eliminação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espirro de uma pessoa com a doença ativa.

A Estratégia Global para Aids (síndrome provocada pelo HIV) de 2021 a 2026 traz como meta que 95% das pessoas vivendo com HIV estejam em tratamento preventivo para tuberculose, objetivo assumido pelo Brasil na ONU (Organização das Nações Unidas) em junho de 2021.

Claudia Velasquez, diretora e representante do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/ Aids) no Brasil, disse que a Covid também teve impacto em relação à interrupção do tratamento e aumento de óbitos, pois limitou o acesso a serviços e acompanhamento de saúde.

A diretora explica que, entre as pessoas vivendo com HIV, esse impacto se mostra devastador porque determina a sobrevivência do indivíduo.

Segundo ela, a doença provocada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis avança nesse público impulsionada por estigmas e questões biomédicas. O HIV enfraquece o sistema imunológico e, quando a tuberculose chega, o efeito da coinfecção torna o enfraquecimento mais rápido.

Outro ponto é a desigualdade que limita o acesso ao serviço. O custo da passagem do transporte público, por exemplo, pode ser uma barreira social e estrutural para acesso ao serviço de saúde e, consequentemente, ao tratamento, oferecido pela rede pública de forma 100% gratuita e que dura no mínimo seis meses.

"A discriminação em relação às pessoas que vivem com HIV ou Aids é uma barreira para o tratamento. Sabemos que, na prática, o atendimento a pessoa diagnosticada passa por unidades de saúde que nem sempre estão preparadas para atendê-las", diz Velasquez.

Maria Elias Silveira, 45, vive com HIV há 22 anos e já foi diagnosticada em 2006 e em 2022 com tuberculose. Ainda em tratamento, a profissional do sexo diz que precisou voltar para as ruas por questões financeiras.

Para ela, mesmo com os médicos recomendando descanso, existem questões que impedem que isso aconteça na sua rotina em Belém, no Pará.

"Não tenho horário adequado de almoço, eu faço meu horário e não descanso. Quando eu tinha quatro meses de tratamento da tuberculose, fui para a rua trabalhar mesmo preocupada com a saúde, mas a situação financeira me preocupava muito mais."

Silveira diz que há pessoas com dificuldade de acessar o tratamento imediatamente por causa da região em que vivem e também que falta acolhimento por parte de alguns profissionais de saúde. "Os médicos às vezes não atendem como deveriam, uma vez me questionaram por que eu estava com tuberculose novamente."

O infectologista e professor da UnB (Universidade de Brasília) Jonas Brant afirma que o espaço conquistado por pautas conservadoras no debate público tem prejudicado o combate a ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), como o HIV, e, por consequência, a doenças relacionadas.

"Vimos um retrocesso nessa agenda porque as pautas retrógradas e negacionistas avançaram muito e fizeram com que outras pautas saíssem do foco da administração pública."

Como exemplo, ele cita a educação sexual nas escolas. Ao não expor como ISTs são transmitidas, a tendência é de crescimento nos casos de infecção, explicou.

O diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Draurio Barreira, concorda que houve uma redução drástica de investimento em políticas sociais, com "despriorização das ações de cunho social e de trabalho com a população vulnerável".

De acordo com ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinará um decreto para a criação de um grupo interministerial envolvendo sete ministérios para fazer frente à eliminação da tuberculose até 2030 e de outras doenças de determinação social.

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