Descrição de chapéu Financial Times

Bactérias no intestino de mosquito poderão combater malária

Cientistas elogiam 'abordagem totalmente nova' para controlar uma doença que mata mais de 600 mil pessoas por ano

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Clive Cookson Sheri Scott
Londres | Financial Times

Cientistas estão desenvolvendo uma nova arma promissora na luta contra a malária, na forma de bactérias encontradas no intestino de mosquitos, que limitam o crescimento dos parasitas microscópicos que causam a doença.

A cepa TC1 de Delftia tsuruhatensis, uma bactéria que ocorre naturalmente, foi descoberta por acaso nos laboratórios espanhóis da empresa farmacêutica e de biotecnologia GSK, durante seu trabalho de investigação de uma doença que mata mais de 600 mil pessoas por ano.

Thomas Breuer, diretor de saúde global da GSK, elogiou uma "abordagem totalmente nova para o controle da malária". Ele continuou: "O TC1 tem potencial para reduzir ainda mais o enorme fardo da malária em países endêmicos, e é mais uma evidência de que, por meio da implantação de uma variedade de abordagens de prevenção, podemos finalmente erradicar essa terrível doença".

Na Flórida (EUA), pesquisador analisa mosquito que transmite a malária
Na Flórida (EUA), pesquisador analisa mosquito que transmite a malária - Chandan Khanna/AFP

Quase metade da população mundial está sob risco de malária. O mosquito Anopheles, que transmite o parasita Plasmodium, responsável pela malária, é atualmente combatido com mosquiteiros inseticidas, aerossóis domésticos e medicamentos antimaláricos. Mas a eficácia desses métodos está diminuindo à medida que os mosquitos e parasitas adquirem resistência aos tratamentos químicos.

Testes de campo no Instituto de Pesquisa de Ciências da Saúde (IRSS) de Burquina Fasso (oeste da África) e pesquisas adicionais em colaboração com a Universidade Johns Hopkins dos EUA e outros parceiros internacionais sugeriram que o TC1 poderia ser desenvolvido como uma forma segura e eficaz de controlar a malária. Os resultados foram publicados na revista Science.

Janneth Rodrigues, líder do projeto no laboratório Tres Cantos da GSK, disse que os experimentos mostraram que os mosquitos infectados com a bactéria não carregavam mais o parasita em nenhum estágio de seu ciclo de vida.

Quando os cientistas introduziram o TC1 em colônias de mosquitos em ambientes controlados, os insetos não foram prejudicados pela infecção. O estudo mostrou que a bactéria não foi transmitida aos humanos quando o mosquito se alimentou de seu sangue.

A bactéria Delftia tsuruhatensis é rotineiramente encontrada em ambientes naturais. Embora a espécie tenha demonstrado causar doença raramente em indivíduos imunocomprometidos, os pesquisadores não esperam que isso seja uma preocupação séria de segurança.

Eles descobriram que o TC1 produzia uma pequena molécula chamada harmano que inibia o desenvolvimento parasitário. Harmano é uma neurotoxina em altas doses, mas é considerada segura nas pequenas quantidades produzidas pela bactéria nos mosquitos.

"Harmano pode ser encontrado na maioria dos alimentos, café e carnes grelhadas, e é produzido naturalmente dentro do corpo humano", disse Rodrigues.

O histórico de segurança dos produtos à base de Delftia já comercializados como promotores do crescimento de plantas na agricultura gera mais confiança.

A modelagem matemática do Imperial College London previu que o uso de TC1 em três anos reduziria os casos clínicos de malária em 15%, não apenas salvando vidas, mas também reduzindo internações hospitalares e liberando recursos de saúde para combater outras doenças potencialmente fatais.

Rodrigues disse que a pesquisa e o desenvolvimento futuros ajudariam a GSK e seus parceiros de saúde pública a decidir como implantar o TC1 no controle da malária. Pode ser possível usar bactérias vivas, um extrato livre de células contendo harmano ou harmano purificado em diferentes circunstâncias.

"A implementação bem-sucedida dessa ferramenta de controle biológico pode ter um impacto profundo na saúde pública, ajudando a salvar a vida de milhões de crianças e promovendo o desenvolvimento sustentável em regiões endêmicas de malária", disse Abdoulaye Diabaté, diretor de entomologia médica e parasitologia do IRSS em Burquina Fasso.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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