Dengue tipo 3 pode ser grave para quem já teve a doença, alertam especialistas

Nesta quarta (22), Votuporanga confirmou 4 casos na cidade de dengue 3; país pode enfrentar epidemia da doença em 2024

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São Paulo

Quem contraiu os sorotipos 1 ou 2 da dengue —prevalentes no Brasil— e se infectar pelo 3 pode desenvolver um quadro grave da doença.

O alerta feito por especialistas ganhou força com o ressurgimento deste sorotipo no país após 15 anos desaparecido, sem causar surtos ou epidemias.

Nesta quarta-feira (22), a Secretaria da Saúde de Votuporanga (a 521 km de São Paulo) confirmou quatro casos de dengue 3, todos no mesmo bairro.

O primeiro foi detectado em uma mulher, de 34 anos, que chamou a atenção por conta da intensidade dos sintomas clássicos da doença —febre, vômito, dor e manchas vermelhas pelo corpo, além de sangramento nasal e pela urina.

Funcionários da  prefeitura de São Paulo participam de ação  preventiva contra a dengue em casas e comércios na zona norte da capital paulista
Funcionários da prefeitura de São Paulo participam de ação preventiva contra a dengue em casas e comércios na zona norte da capital paulista - Zanone Fraissat - 02.jun.2022/Folhapress

Nas ações de bloqueio, a secretaria identificou outros sete casos suspeitos. As amostras foram colhidas e enviadas para análise. Destes, três foram confirmados para o mesmo sorotipo. As pacientes são mulheres com 5, 31 e 46 anos.

O Ministério da Saúde afirmou que tem monitorado as amostras de dengue 3, que neste ano também foram detectadas nos estados do Paraná e Santa Catarina e no Distrito Federal. Após investigação epidemiológica verificou-se que eram oriundas de pacientes estrangeiros, provavelmente da Guiana, República Dominicana e Suriname.

Do total de amostras positivas para o vírus da dengue em que foi possível determinar o sorotipo, 90,1% foram identificadas como 1 e 9,7% como 2. O sorotipo 3 representou 0,2% do total. Por enquanto, não houve detecção confirmada do tipo 4 no Brasil neste ano.

Em maio deste ano, um estudo da Fiocruz havia apontado três casos autóctones do sorotipo 3 em Roraima e um importado no Paraná —a pessoa diagnosticada com a doença tinha vindo do Suriname. As análises indicaram que a linhagem detectada foi introduzida nas Américas a partir da Ásia, no período entre 2018 e 2020, provavelmente pelo Caribe.

"Todo sorotipo novo é preocupante e grave em razão do grande número de infecções secundárias num curto espaço de tempo. A expectativa é sombria", afirma Kleber Luz, coordenador do Comitê de Arboviroses da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e consultor para arboviroses da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).

O especialista chamou atenção para a possibilidade de uma epidemia de dengue 3 em 2024.

A dengue possui quatro sorotipos. Quando um indivíduo é infectado por um deles adquire imunidade contra aquele vírus, mas ainda fica suscetível aos demais. Existe o perigo da dengue grave, que ocorre com mais frequência em pessoas que já tiveram a doença e são infectadas novamente por outro sorotipo. É o que pode acontecer com a infecção pelo tipo 3.

"Para quem já foi infectado, se reinfectar é potencialmente mais grave", explica a epidemiologista Sara de Souza, assistente de pesquisa do InfoDengue, sistema desenvolvido pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a FGV (Fundação Getulio Vargas).

O vetor e as estratégias de prevenção e controle são os mesmos em qualquer sorotipo.

"Estamos no mês de muito calor, e temos uma curva de crescimento de casos, cujo pico normalmente vai aparecer no final de fevereiro, início de março até abril. Infelizmente, com as mudanças climáticas, temos observado que essa curva de casos se estendeu e em alguns locais ela não tem finalizado", diz Souza.

"O que as pessoas precisam fazer? Se protegerem. É usar os equipamentos de proteção individual, como tela e o repelente no corpo, e frear a propagação do vetor. É evitar a água parada. Temos modelos muito bons de vigilância e de monitoramento, mas sem a população fazer a própria parte fica complicado".

Kleber luz afirma que as vigilâncias municipais e estaduais precisam capacitar médicos e enfermeiros para o manejo. Também é necessário equipar e preparar as unidades de saúde, hospitais e UTIs para um grande número de doentes; criar ou implementar os planos de contingência.

"Cada secretaria municipal, estadual deve ter um plano de enfrentamento —para onde vão os doentes, soro venoso e para reidratação oral, testes diagnósticos, tudo isso tem que ser planejado e os insumos devem estar disponíveis para o aumento do número de casos. E tem que controlar o mosquito", afirma o consultor da Opas.

Ele defende um único programa de controle do Aedes aegypti entre as secretarias estaduais e municipais de saúde, em cada estado. "Não há como evitar 100%, mas há como diminuir o dano", finaliza.

O Ministério da Saúde afirmou que alocou R$ 84 milhões na compra de adulticida (para combater insetos adultos) e larvicida para as ações de combate ao mosquito nos estados e municípios; lançou o painel público de dados de arboviroses; antecipou a campanha nacional de mobilização da população; capacitou de mais de 9.500 profissionais de saúde via UNA-SUS (Universidade Aberta do SUS) e outros 2.196 para manejo clínico, vigilância e controle de arboviroses com treinamento presencial.

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