'Primo' do Aedes aegypti também é responsável por alta dos casos de dengue no Brasil, diz especialista

Além da dengue, Aedes albopictus transmite chikungunya, zika e febre amarela; mosquito se adaptou melhor ao aumento da temperatura

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Salvador

O Brasil já sofre as consequências da presença do mosquito Aedes albopictus (tigre asiático), uma espécie de ‘primo’ do Aedes aegypti.

Antes restrito às florestas, o albopictus vem invadindo as áreas urbanas em todas as regiões do país e também é culpado pela alta dos casos de dengue.

A afirmação é de Kleber Luz, coordenador do Comitê de Arboviroses da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

Aedes albopictus (tigre asiático) apareceu na França, em 2004
Aedes albopictus - AFP

"A população brasileira tem dois mosquitos, quatro sorotipos [da dengue] e três doenças para se preocupar", afirmou ele durante o 23º Congresso Brasileiro de Infectologia, realizado em Salvador.

Segundo o especialista, se comparado ao Aedes aegypti, a adaptação do albopictus ao aumento da temperatura é maior, e o mosquito é também mais resistente ao frio —em 2050 ele deverá chegar à Europa, fato que já preocupa o continente. Outra diferença entre os dois é que o aegypti é solitário, e o albopictus voa em nuvem.

De acordo com o consultor da Opas, o calor aumenta a proliferação dos mosquitos e a incidência das arboviroses.

"Com o aquecimento global, onde não tinha mosquito, [agora] tem; e onde já tinha, aumentou. Não há boas notícias. Se não controlar a temperatura, o cenário será pior", ressalta.

A presença dos dois mosquitos reforça a preocupação com a dengue no país, com a ameaça, em 2024, de uma epidemia pelo sorotipo 3.

"Antes, os estudiosos sabiam quando teríamos [casos de ] dengue. Isso mudou em 2022. Com exceção do Norte, tínhamos o primeiro semestre como o grande período do ano com casos. Por exemplo, em setembro, havia um número pequeno de ocorrências, diferente de agora. Aumentaram a área, o número de casos, a gravidade e as mortes", diz.

"Estamos vivendo no mar de arboviroses, como se estivesse revolto. Se um pesquisador que estudou dengue nos anos 1990 acordasse hoje, estaria completamente perdido."

A recomendação do infectologista é combater a proliferação do mosquito dentro de casa. Verificar a caixa d'água, os vasos e as garrafas pet, colocar o lixo no local certo e educar as crianças. Também é importante seguir as orientações dos médicos, se adoecer.

"Não é porque o mundo está mais quente que vamos morrer de dengue. Sabemos como controlar o mosquito", afirmou.

Sintomas da dengue

Os sinais de alarme para a dengue são de simples identificação. O principal é a dor abdominal, de acordo com o médico, neste caso a pessoa deve ir a uma unidade de saúde com urgência. O segundo é o vômito, e o terceiro, o sangramento na boca. "Esses sinais indicam que o agravamento do quadro pode estar próximo", reforça.

Os demais são dores de cabeça, nas articulações e atrás dos olhos; febre alta; falta de apetite; e manchas vermelhas no corpo.

Chikungunya preocupa

Uma possível mudança no perfil da chikungunya com choque e morte traz preocupação para 2023 e 2024, segundo Kleber Luz. Tal situação observou-se no Paraguai, onde desde dezembro ocorreram cerca de 200 mil casos e 300 mortos.

Ainda não se sabe o que aconteceu e os estudos não apontam para uma mutação. Sem atendimento médico adequado, o paciente pode morrer nos primeiros cinco dias da doença, de acordo com Luz. "No Brasil há mortes por chikungunya, mas não na dimensão do que ocorreu no Paraguai."

O zika continua em circulação no país, mas em taxa baixa. "Zika não mata, não é importante até dar microcefalia. O que preocupa é que as grávidas não usam repelente", finaliza o especialista.

A repórter viajou a convite da Sociedade Brasileira de Infectologia

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