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Hospital do Servidor tem processo seletivo anulado e posse de 140 médicos é cancelada

Candidatos recusaram vagas em outras instituições e assinaram contratos de aluguel para realizar a residência em São Paulo

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São Paulo

O Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo) cancelou o processo seletivo para residência médica no início da noite de quinta-feira (29), horas antes da cerimônia da posse de 140 médicos que atuariam no Hospital do Servidor Público Estadual, na zona sul da capital paulista.

Os residentes selecionados para a especialização, que dura de dois a cinco anos, deveriam comparecer ao instituto às 8h desta sexta-feira (1º) para a cerimônia.

O cancelamento do processo seletivo, realizado em 7 de janeiro, foi uma determinação da CNRM (Comissão Nacional de Residência Médica) por "irregularidades na aplicação das provas".

Procurado pela Folha, a assessoria do Iamspe afirmou, por nota, que a suspensão da posse dos residentes foi adotada para cumprimento da decisão da CNRM, que solicita a realização de nova prova. "O Iamspe foi comunicado pela CNRM no final do dia 26 de fevereiro [última segunda] e está adotando as medidas judiciais e administrativas para a manutenção da prova e consequentemente do ingresso dos residentes", afirmou o texto.

"Na manhã desta sexta-feira [1° março], a administração se reuniu com um grupo de médicos que aguardavam a posse para prestar esclarecimentos sobre os próximos passos", concluiu.

Candidatos protestam em frente ao Hospital do Servidor Público Estadual
Candidatos protestam em frente ao Hospital do Servidor Público Estadual - Mariana Greccho

O teste aplicado pelo Idecan (Instituto de Desenvolvimento Educacional, Cultural e Assistencial Nacional) contava com 80 questões, mas, na visão da CNRM, não contemplava temas como Medicina de Família e Comunidade ou Medicina Preventiva e Social, parte das cinco grandes áreas da medicina exigidas pela comissão.

A decisão de anular o concurso foi proferida no último domingo (25), mas o Iamspe só confirmou que seguiria a determinação nesta quinta.

Médicos de diversas regiões do país relatam prejuízos, como aluguel de apartamentos com contratos assinados a longo prazo, demissão de empregos e recusa de vagas em outras residências.

Mariana Greccho, 30, diz que estudou para a prova por três anos. Ela morava em Marília (SP) e teve que abandonar plantões fixos que fazia em duas UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) da cidade para se dedicar ao concurso, que, segundo a médica, é um dos mais difíceis do país.

Na última sexta-feira (23), ela deixou a casa que dividia com o namorado rumo a São Paulo. Mariana desistiu de duas outras vagas de residência, uma na Santa Casa de Ribeirão Preto e outra na FMJ (Faculdade de Medicina de Jundiaí) para aceitar a posição na instituição.

"Foi a pior notícia que recebi em toda minha vida. É uma coisa que você se dedicou por longos anos, abdicou de viagem, passeio com a família e quando você acha que conseguiu um lugar bom para fazer residência, eles simplesmente falam que está cancelado. Meu chão caiu, as esperanças acabaram", diz.

O Iamspe oferece atendimento para aproximadamente 1,2 milhão de usuários por meio da rede credenciada em 70 hospitais no estado de São Paulo. O Hospital do Servidor, localizado na região do Ibirapuera, é o maior deles, com 700 leitos.

Beatriz Barreto, 28, é de Aracaju (SE). Formada em 2021, ela diz que sempre sonhou em fazer a especialização em psiquiatria no Iamspe. Foram três anos de estudo para passar na prova.

Matriculada na instituição, os pais de Beatriz tiraram dez dias de licença do trabalho para ajudar a jovem a alugar um imóvel em São Paulo. A família mobiliou todo o apartamento e assinou o contrato de aluguel com duração de um ano. A médica conta que precisou vender o próprio carro para arcar com os custos da mudança para a capital. Foi durante esse processo que ela recebeu a notícia da anulação do concurso.

Beatriz havia sido aprovada em outras instituições, que abriu mão para vir a São Paulo. Além disso, também pediu demissão do antigo emprego.

"Eu, minha família e amigos, estamos todos muito frustrados com a situação que era para ser um sonho. Isso além de todo esse custo. É muito caro sair de Sergipe para vir para São Paulo", diz.

A situação se repete entre outros aprovados. Andrey Soares, 27, morador de Paranavaí (PR), relata que passou em primeiro lugar na seleção para o Hospital da Universidade Estadual de Londrina para cirurgia geral. Deixou amigos, família e namorada, além de recusar vaga com salário de R$ 18 mil em troca do início da residência médica no Iamspe em cirurgia geral.

"Espero que medidas cabíveis sejam tomadas e minha vaga, garantida. Danos materiais e morais com uma possível perda da vaga são irreparáveis", afirma.

Na manhã desta sexta, os 140 médicos residentes aprovados no processo seletivo foram ao instituto para protestar contra a decisão. Os profissionais elaboraram uma nota de repúdio, em que se dizem "completamente abalados emocionalmente e sem condições psicológicas de se submeter a uma nova prova em condições de igualdade com os demais candidatos".

Estava assim: O grupo ressalta que não há notícias de fraude ou quebra da lisura do processo anulado pelo Iamspe, e diz que a CNRM proferiu sua decisão "sem ouvir qualquer dos residentes diretamente atingidos".

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