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Editada por Felipe Bailez e Luis Fakhouri, fundadores da Palver, coluna traz perspectivas sobre os dados extraídos de redes sociais fechadas

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Descrição de chapéu Dengue WhatsApp

Debate sobre dengue gera contradição em grupos antivacina

Assunto atinge mais de 3 milhões de usuários de WhatsApp e Telegram, segundo monitoramento da Palver

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A dengue já atingiu mais de meio milhão de brasileiros em 2024. Além dos desafios no combate à doença, o poder público enfrenta também uma epidemia de desinformação que pode impactar a efetividade das medidas de saúde pública.

Utilizando nossa ferramenta de análise de redes sociais, é possível notar que o interesse por "dengue" ultrapassou o de "vacina" no WhatsApp e Telegram a partir do dia 20 de janeiro de 2024. Foram mais de 3 milhões de usuários alcançados pelas discussões, representando 8% do total de nossa amostra.

Interesse por 'dengue' ultrapassa 'vacina' no WhatsApp e Telegram a partir de 20 de janeiro, mostra monitoramento da Palver - Dado Ruvic - 28.mar.18/Reuters

O debate sobre a dengue gerou contradições em grupos que tradicionalmente discutem temas antivacina. Por um lado, usuários criticam a escassez de imunizantes para a dengue, responsabilizando o governo federal, e utilizando "genocida" para descrever o presidente Lula, fazendo referência à crise política da Covid-19. Porém, nos mesmos grupos, usuários defendem que as vacinas da dengue fazem parte de uma conspiração maior e que devem ser evitadas a qualquer custo.

Os grupos que propagam antivacina engajam em diversos assuntos, desde política até dicas de saúde. Possuem títulos como "Direita Brasileira", "Remédios Caseiros", "STF Vergonha nacional", "Libertação Nacional", "Efeitos da VaChina" e "Desmascarando o Sistema". O comportamento típico desses grupos é o de compartilhar qualquer informação alinhada ideologicamente, com enaltecimento dos discursos e pessoas favoráveis às ideias defendidas.

Alcançando mais de 40 mil usuários, um vídeo circula com máximo de encaminhamentos propagando desinformação de que é possível curar dengue tomando suco de limão-taiti e caldo de cana. Mensagens pedem que os usuários não utilizem a vacina e recomendam remédios alternativos para tratar a dengue, como "suco de laranja com inhame", "polenta" ou "suco de folha de mamão" e até "ivermectina".

De forma concomitante nos mesmos grupos, encontramos vídeos e mensagens que criticam o governo federal por não buscar vacinas com maior urgência. Um vídeo do deputado Bruno Engler (PL-MG) é compartilhado com a mensagem "O genocida do Lula não quis comprar vacina, resultado, milhares de mortes por dengue". Isso tem gerado confusão entre os usuários desses grupos, que seguem uma tendência antivacina e de medicina alternativa.

Usuários criticam a ida de Lula ao Egito, alegando que o presidente "vira as costas para seu país e seu povo em um momento de crise", defendendo ainda que o dinheiro gasto na viagem poderia ser utilizado no enfrentamento à dengue. Outros ainda ironizam, questionando como Lula lidaria com a pandemia se não está conseguindo enfrentar nem a dengue.

Narrativas conflitantes em mesmos grupos já foram encontradas anteriormente dentro de aplicativos de mensageria. Uma das causas pode ser interesses de atores distintos, ainda que sob o mesmo guarda-chuva ideológico. Outra possibilidade é a distribuição intencional de narrativas divergentes com objetivo de criar complexidade sobre o assunto, dificultando a comunicação acerca das políticas de saúde pública.

A discussão não se limita, contudo, aos grupos da direita. Nos grupos mistos, em que há diferentes ideologias, alguns usuários rebatem as críticas apontando que não há qualquer conexão entre a epidemia de dengue com alguma falha do governo Lula. Há, por fim, quem exalte o governo e as políticas de saúde, dizendo "viva o SUS".

Há usuários relatando sintomas da dengue e interações de caráter informativo, orientando a fazer os testes e seguir os protocolos recomendados. Para informações oficiais sobre as ações adotadas pelo governo federal no enfrentamento à epidemia de dengue, as informações estão disponibilizadas no site do Ministério da Saúde.

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