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São Paulo tem greve dos agentes de combate à dengue em meio a epidemia

Sindsep afirma que cerca de 70% das Unidades de Vigilância em Saúde aderiram à paralisação

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São Paulo

Mais da metade dos funcionários que atuam no combate à dengue está em greve desde a semana passada. A informação foi passada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), na manhã desta segunda-feira (18), durante conversa com jornalistas.

"Nós estamos com nossos agentes da vigilância em greve. Eu acho que [é preciso] demonstrar a eles a importância de que não é o momento ideal. Estou com mais da metade desses funcionários em greve, num momento onde enfrentamos uma situação muito crítica da dengue", disse.

Desde o último dia 12, a prefeitura tem setores do funcionalismo em greve, sendo valorização salarial a principal reivindicação. De acordo com o Sindsep (Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo), cerca de 70% das Uvis (Unidades de Vigilância em Saúde) da capital aderiram ao movimento.

Agentes de endemias da prefeitura de São Paulo durante ação casa a casa de combate à dengue no bairro Cidade Jardim, zona sul da capital
Agentes de endemias da prefeitura de São Paulo durante ação casa a casa de combate à dengue no bairro Cidade Jardim, zona sul da capital - Jardiel Carvalho - 23.nov.2024/Folhapress

As Uvis são unidades descentralizadas da Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde), que atuam na vigilância ambiental, sanitária e epidemiológica. No total, há 28 na cidade.

A mobilização, segundo o Sindsep, não se justifica apenas pela demanda salarial, mas pela necessidade de novas contratações. "Diferente do que diz o prefeito, nós temos hoje 1.954 agentes de endemias em São Paulo. Pelo tamanho da cidade, precisaríamos ter pelo menos o dobro", afirma Laudicéia Reis, agente de combate a endemias e dirigente do sindicato. O último concurso público para a categoria foi realizado em 2008.

Os agentes de endemias são responsáveis, entre outras funções, por vistoriar imóveis em busca de criadouros do mosquito, aplicar larvicidas e realizar manutenção das armadilhas instaladas pela prefeitura. Devido ao crescimento dos casos de dengue em toda a cidade, esses profissionais estão sobrecarregados.

"A greve, nesse momento, é a única forma de pressionar uma negociação com a prefeitura além da questão salarial. No final do dia, o serviço público está largado às traças, com funcionários pressionados e sem recursos para trabalhar", acrescenta Reis.

Hoje, o trabalho de orientação à população tem sido compartilhado com agentes comunitários de saúde. Esses profissionais, contudo, não realizam controle vetorial. Eles atuam nas equipes multidisciplinares de promoção à saúde e prevenção de doenças com um papel ligado à atenção básica. O combate à dengue é feito pelo controle de endemias.

Nunes decretou estado de emergência em saúde pública para a dengue nesta segunda, após o município registrar 414 casos confirmados da doença por 100 mil habitantes —acima de 300 já é considerado epidemia, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Enquanto os servidores em greve pedem reajuste de 16% nos salários, a gestão Nunes enviou projeto de lei à Câmara Municipal em que propõe reajuste de 2,16%. O sindicato que representa os servidores afirma que o índice proposto pela administração é inferior à inflação e que a prefeitura não dialogou com os trabalhadores.

A inflação no ano passado, segundo o IPCA, foi de 4,62%. Para 2024, economistas projetam indicador em 3,79%.

O prefeito, por sua vez, afirma que está negociando com os trabalhadores, e que ao contrário de anos anteriores, está repondo a inflação.

"Eu fiz investimento, de 2021 até agora, de mais de 5 bilhões de reais para o funcionalismo público. A gente fez bastante, não teria porquê não contar com a compreensão, principalmente desse setor da vigilância. Nós precisamos deles trabalhando. Eu espero que, pelo menos, toque no coração deles a responsabilidade com a cidade", afirmou.

Nunes garantiu que a paralisação não impacta as ações casa a casa para identificação dos focos do mosquito Aedes aegypti e orientação, mas disse que compromete o trabalho de nebulização e impacta funções administrativas. A Covisa precisou redistribuir os funcionários para colocar os 96 carros responsáveis pelo fumacê em operação.

"Eu chamei, no ano passado, 703 pessoas do concurso para vigilância sanitária. Temos feito um trabalho bastante intenso. Agora, a gente chama de concurso, põe carro, compra produto, compra drone, faz todas as ações. Aí eles entram em greve. O funcionário público tem todo o direito à greve, mas tem que ter responsabilidade com a população. Nós estamos falando de uma situação grave, a dengue mata. Então eu estou aqui fazendo um apelo para eles", disse o prefeito.

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