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Autoridade de Saúde dos EUA pede rótulo de advertência nas redes sociais

Vivek Murthy disse que faria solicitação ao Congresso; aviso seria semelhante aos existentes em embalagens de cigarro

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Ellene Barry
The New York Times

A principal autoridade de saúde Estados Unidos, o ciru Vivek Murthy, anunciou nesta segunda-feira (17) que pedirá um rótulo de alerta nas plataformas de mídia social para aconselhar os pais de que o uso das redes sociais pode prejudicar a saúde mental dos adolescentes.

Os rótulos de advertência —como os que aparecem em produtos de tabaco e álcool— são uma das ferramentas mais poderosas disponíveis para a principal autoridade de saúde do país.

A exigência de um rótulo precisa de aprovação do Congresso. Ainda não há legislação nesse sentido em nenhuma das duas câmaras.

O rótulo advertiria os pais "de que as mídias sociais não se provaram seguras", escreveu Murthy em um ensaio publicado na seção de opinião do The New York Times na segunda-feira.

O cirurgião-geral Vivek Murthy há muito indica que acredita que as redes sociais representam um risco para a saúde de crianças e adolescentes
Vivek Murthy há muito indica que acredita que as redes sociais representam um risco para a saúde de crianças e adolescentes

Em seu ensaio, ele classificou os efeitos das mídias sociais sobre crianças e adolescentes como um risco à saúde pública a par de mortes no trânsito ou alimentos contaminados.

"Por que não respondemos aos danos das redes sociais quando elas não são menos urgentes ou generalizadas do que aquelas representadas por carros, aviões ou alimentos inseguros?", escreveu Murthy.

"Esses danos não são uma falha de força de vontade e parentalidade; são a consequência do desencadeamento de uma tecnologia poderosa sem medidas de segurança, transparência ou responsabilidade adequadas".

Murthy apontou uma pesquisa que mostrou que adolescentes que passavam mais de três horas por dia nas redes sociais enfrentavam um risco significativamente maior de problemas de saúde mental, e que 46% dos adolescentes disseram que as redes sociais os faziam se sentir pior com seus corpos.

Os adolescentes dos EUA ficam, em média, 4,8 horas por dia em redes como YouTube, TikTok e Instagram, de acordo com uma pesquisa da Gallup com mais de 1.500 adolescentes.

Em uma entrevista no mês passado, Murthy disse que ouviu repetidamente de jovens que "não conseguem sair das plataformas", muitas vezes descobrindo que horas se passaram quando eles pretendiam apenas verificar seus feeds.

"As plataformas são projetadas para maximizar quanto tempo todos nós gastamos nelas", disse ele. "Uma coisa é fazer isso com um adulto e outra coisa é fazer com uma criança, cujo controle de impulsos ainda está em desenvolvimento, cujo cérebro está em uma fase sensível de desenvolvimento."

Rótulos de advertência anteriores tiveram efeitos significativos no comportamento. Em 1965, após um relatório histórico do Surgeon General, o Congresso votou para exigir que todas as embalagens de cigarros distribuídas nos Estados Unidos levassem um aviso de que o uso do produto "pode ser perigoso para sua saúde".

Esse foi o início de um declínio de 50 anos no tabagismo. Quando os rótulos de advertência apareceram, cerca de 42% dos adultos dos EUA eram fumantes diários de cigarros; em 2021, essa parcela caiu para 11,5%.

Há um debate acirrado entre pesquisadores sobre se as mídias sociais estão por trás da crise na saúde mental de crianças e adolescentes. Em seu novo livro, "The Anxious Generation", o psicólogo social Jonathan Haidt aponta o lançamento do iPhone da Apple em 2007 como um ponto de inflexão, desencadeando um aumento acentuado no comportamento suicida e relatos de desespero.

Outros especialistas dizem que, embora a ascensão das redes sociais tenha coincidido com declínios no bem-estar, não há evidências de que um tenha causado o outro, e apontam para fatores como dificuldades econômicas, isolamento social, racismo, tiroteios em escolas e a crise dos opioides.

Murthy há muito indicou que vê as redes sociais como um risco para a saúde. Em maio de 2023, ele emitiu um comunicado sobre o assunto, alertando que "há amplos indicadores de que as mídias sociais também podem ter um risco profundo de danos à saúde mental e ao bem-estar de crianças e adolescentes".

Nessa declaração, Murthy reconheceu que os efeitos das mídias sociais na saúde mental dos adolescentes não foram totalmente compreendidos. A pesquisa sugere que as plataformas oferecem riscos e benefícios, fornecendo comunidade para jovens que, de outra forma, poderiam se sentir marginalizados.

Ainda assim, pediu aos pais que comecem a estabelecer limites para o uso das redes sociais de seus filhos imediatamente e que mantenham os horários das refeições sem dispositivos.

Com seu apelo por um rótulo de alerta, Murthy está aumentando ainda mais o tom de urgência.

"Uma das lições mais importantes que aprendi na faculdade de medicina foi que, em uma emergência, você não tem o luxo de esperar por informações perfeitas", escreveu. "Você avalia os fatos disponíveis, usa seu melhor julgamento e age rapidamente."

Relembrando as palavras de uma mãe chorosa cujo filho morreu de suicídio após sofrer bullying online, ele comparou o momento atual com campanhas marcantes de saúde pública do passado.

"Não há cinto de segurança para os pais clicarem, não há capacete para encaixar, não há garantia de que especialistas confiáveis investigaram e garantiram que essas plataformas são seguras para as crianças", escreveu.

"Há apenas pais e seus filhos, tentando descobrir por conta própria, enfrentando alguns dos melhores engenheiros de produto e as empresas com mais recursos do mundo."

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