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Secretário da Saúde dos EUA diz que redes sociais podem prejudicar crianças e adolescentes

Comunicado adverte que as empresas de tecnologia usam táticas que induzem comportamentos semelhantes ao vício

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Matt Richtel Catherine Pearson Michael Levenson
The New York Times

A principal autoridade de saúde dos Estados Unidos emitiu um alerta público extraordinário na terça-feira (23) sobre os riscos das redes sociais para os jovens, pedindo um esforço para se entender completamente o possível "dano à saúde mental e ao bem-estar de crianças e adolescentes".

Em um comunicado de 19 páginas, o cirurgião-geral (secretário da Saúde) dos Estados Unidos, Vivek Murthy, observou que os efeitos das redes sociais na saúde mental dos adolescentes não foram totalmente compreendidos e que elas podem ser benéficas para alguns usuários. No entanto, escreveu ele, "existem amplos indícios de que a mídia social também pode ter um risco profundo de prejudicar a saúde mental e o bem-estar de crianças e adolescentes".

O relatório incluiu recomendações práticas para ajudar as famílias a orientar as crianças no uso das redes sociais. Recomendou que mantenham refeições e reuniões pessoais sem dispositivos eletrônicos, para ajudar a construir laços sociais e promover conversas. Sugeriu a criação de um "plano de mídia familiar" para definir as expectativas de uso da rede social, incluindo limites relativos ao conteúdo e mantendo as informações pessoais privadas.

Catarina Pignato

Murthy também pediu às empresas de tecnologia que imponham limites mínimos de idade e criem configurações para crianças com altos padrões de segurança e privacidade. E pediu que o governo crie padrões de saúde e segurança adequados à idade para as plataformas tecnológicas.

Os adolescentes "não são apenas adultos menores", disse Murthy em entrevista na segunda (22). "Eles estão numa fase diferente de desenvolvimento e numa fase crítica do desenvolvimento cerebral."

O relatório, que efetivamente reforça antigas preocupações sobre as redes sociais na discussão nacional, surge enquanto legisladores estaduais e federais, muitos deles criados numa época em que a mídia social mal existia ou inexistia, debatem como estabelecer limites para sua utilização.

O governador de Montana assinou recentemente um projeto de lei proibindo o TikTok de operar no estado, o que levou o aplicativo de propriedade chinesa a abrir um processo e seus jovens usuários a lamentarem o que um deles chamou de "chute na cara". Em março, Utah se tornou o primeiro estado americano a proibir que os serviços de rede social permitam que menores de 18 anos tenham contas sem o consentimento explícito dos pais ou responsáveis. Essa lei pode reduzir drasticamente o acesso dos jovens a aplicativos como Instagram e Facebook.

Resultados de pesquisa da Pew Research descobriram que até 95% dos adolescentes relataram usar pelo menos uma plataforma de rede social, enquanto mais de um terço disse que usava a rede social "quase constantemente". À medida que o uso da mídia social aumentou, também aumentaram os relatos e os diagnósticos clínicos de ansiedade e depressão entre adolescentes, juntamente com entradas em pronto-atendimento por automutilação e ideação suicida.

O relatório pode ajudar a incentivar mais pesquisas para entender se essas duas tendências estão relacionadas. Ele se soma a um número crescente de apelos a medidas ligadas a adolescentes e redes sociais. Este mês, a Associação Americana de Psicologia emitiu sua primeira orientação para mídia social, recomendando que os pais monitorem de perto o uso pelos adolescentes e que as empresas de tecnologia reconsiderem recursos como rolagem infinita e o botão "curtir".

Um grande corpo de pesquisas surgiu nos últimos anos sobre a potencial conexão entre o uso das redes sociais e as taxas crescentes de angústia entre adolescentes. Mas os resultados foram consistentes apenas em suas nuances e complexidade.

Uma análise publicada no ano passado, examinando pesquisas de 2019 a 2021 sobre uso de mídia social e saúde mental, revelou que "a maioria das análises interpretou as associações entre uso de rede social e saúde mental como 'fracas' ou 'inconsistentes', enquanto algumas qualificaram as mesmas associações como 'substanciais' e 'danosas'".

Em sua forma mais clara, os dados indicam que a mídia social pode ter um impacto tanto positivo como negativo no bem-estar dos jovens, e que o uso intenso das redes –e o tempo de tela em geral– parece substituir atividades como sono e exercícios, consideradas vitais para o desenvolvimento do cérebro.

Pelo lado positivo, a rede social pode ajudar muitos jovens, dando-lhes um espaço para se conectar com outras pessoas, encontrar uma comunidade e se expressar.

Ao mesmo tempo, observou a advertência do cirurgião geral, as plataformas de mídia social estão repletas de "conteúdo radical, inadequado e prejudicial", incluindo conteúdo que "pode normalizar" a automutilação, distúrbios alimentares e outros comportamentos autodestrutivos. O "cyberbullying" é desenfreado.

Além disso, os espaços de rede social podem ser especialmente tensos para os jovens, acrescentou o comunicado: "No início da adolescência, quando as identidades e o senso de autoestima estão se formando, o desenvolvimento do cérebro é especialmente suscetível a pressões sociais, opiniões e comparações de pares".

O comunicado observou que as empresas de tecnologia têm interesse em manter os usuários online e usam táticas que induzem as pessoas a se envolverem em comportamentos semelhantes ao vício. "As plataformas de rede social geralmente são projetadas para maximizar o envolvimento do usuário, o que tem o potencial de incentivar o uso excessivo e a desregulação comportamental."

"Nossos filhos se tornaram participantes inconscientes de um experimento de décadas", diz o comunicado.

A pesquisa indica cada vez mais que alguns jovens são mais suscetíveis do que outros aos danos e a diferentes tipos de conteúdo.

No comunicado, Murthy expressou uma "necessidade urgente" de clareza em várias frentes de pesquisa. Isso inclui os tipos de conteúdo de rede social que causam danos; se vias neurológicas específicas, como as que envolvem recompensa e vício, são afetadas; e quais estratégias poderiam ser usadas para proteger a saúde mental e o bem-estar de crianças e adolescentes.

O comunicado não forneceu orientação sobre como seria um uso saudável das redes sociais, nem condenou o uso delas por todos os jovens. Em vez disso, concluiu: "Ainda não temos evidências suficientes para determinar se a mídia social é suficientemente segura para crianças e adolescentes".

Em entrevista na segunda-feira, Murthy reconheceu que a falta de clareza é um fardo pesado para indivíduos e famílias carregarem.

"É pedir muito aos pais que analisem uma nova tecnologia que está evoluindo rapidamente e que muda fundamentalmente a forma como as crianças percebem a si mesmas", disse Murthy. "Portanto, temos que fazer o que fazemos em outras áreas onde temos problemas de segurança do produto, que é estabelecer padrões de segurança nos quais os pais possam confiar e que sejam realmente aplicados."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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