Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Bernardo Guimarães
Descrição de chapéu Twitter TSE STF

Devemos regular as redes sociais?

Faz sentido buscar maneiras inteligentes (e não draconianas) de regular as redes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O embate entre o dono do Twitter, Elon Musk, e o ministro Alexandre de Moraes (STF) traz novamente à pauta a discussão sobre regular redes sociais.

Esse tema toca em questões políticas, econômicas e sociais.

O foco da discussão do momento é o aspecto político das redes. Deixar ideias circularem livremente permite que as pessoas acessem mais informação e formem suas opiniões. Contudo há a preocupação com a disseminação de notícias falsas.

Em princípio, a perda de reputação de quem espalha fake news poderia, com o tempo, resolver o problema. Contudo, na prática, isso não acontece (pelo menos em um tempo razoável). Assim, faz sentido pensar em que ações podemos tomar.

O problema é que delegar a um grupo de iluminados a tarefa de decidir o que é fake news e o que é verdade pode ser pior que o problema original. A meu ver, a regulação deveria buscar dificultar a propagação de notícias falsas evitando ao máximo delegar esse poder de decisão sobre o que é verdade a um grupo de pessoas. Não é fácil achar esse equilíbrio, mas deveríamos tentar.

Esse é o aspecto da regulação de redes sociais que está em foco no momento. Eu vou pegar uma carona para discutir questões econômicas e sociais envolvidas.

Algumas questões econômicas dizem respeito a direitos autorais e propriedade intelectual.

Um jornal concorrente não pode copiar uma reportagem da Folha e publicar em suas páginas. Se pudesse, ninguém teria incentivo para gastar dinheiro produzindo reportagens, e aí, no limite, não teríamos jornais.

O problema é que @PedroPatriota e @Pikachu1234 podem copiar e colar reportagens de jornal nas redes sociais. E então, a culpa é de quem? Da rede social? De uma @ que não tem cara e CPF? De ninguém?

É fácil ver que isso vai contra o espírito da proteção de direitos autorais. A consequência é que há incentivos de menos para produzirmos jornalismo de qualidade. Pode ser difícil achar a melhor solução, mas dá para melhorar a situação atual.

Logotipo do X, antigo Twitter - Kirill Kudryavtsev/AFP

Além dos direitos autorais, há a discussão sobre o efeito das redes sociais sobre as pessoas.

Muita pesquisa tem sido feita sobre isso. Artigo recente de Guy Aridor, Rafael Jimenez-Duran, Ro’ee Levy e Lena Song faz um apanhado da pesquisa empírica em economia sobre rede sociais.

A pesquisa na área confirma algumas das impressões que temos, mas questiona várias outras. Por exemplo, quem assiste a vídeos no YouTube vai sendo levado, aos poucos, a assistir a vídeos com conteúdo mais extremista? Pesquisadores encontram que esse efeito, se existe, não é forte.

Há efeito de redes sociais em polarização política, como esperaríamos, mas o efeito não parece forte o suficiente para explicar o aumento recente na polarização.

Por outro lado, há evidência convincente do efeito de redes sociais em protestos políticos e em violência fora das redes.

E qual o efeito das redes sociais sobre o bem-estar dos usuários?

Por um lado, participantes estão dispostos a abrir mão de um bom dinheiro para continuar acessando o Facebook (entre US$ 50 e US$ 150 mensais nos Estados Unidos, menos na Europa).

Por outro lado, participantes que recebem dinheiro para não acessar redes sociais por um tempo passam a utilizá-las menos depois que já podem voltar a usar. Além disso, muitos estudos encontram efeito causal negativo de redes sociais em medidas subjetivas de bem-estar e em medidas mais objetivas de saúde mental.

Por isso tudo, faz sentido, sim, buscar maneiras inteligentes (e não draconianas) de regular as redes para reduzir seus impactos negativos.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.