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Colesterol alto é uma das principais causas de infarto, diferentemente do que diz vídeo

Relação entre hipercolesterolemia e infartos tem evidências científicas robustas

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Caroline Hardt
São Paulo

Os impactos do colesterol alto na saúde e sua influência na ocorrência de doenças cardiovasculares são questionados em publicação no X e, erroneamente, considerados mitos da medicina. "As manipulações da 'big pharma' nas últimas décadas criaram um mito de que o colesterol é um dos causadores de infarto", engana legenda do conteúdo.

A publicação acompanha trecho de uma entrevista do médico ginecologista Ítalo Rachid ao podcast Os Nagles. Na gravação, ele desinforma ao dizer que a hipercolesterolemia, ou colesterol alto, nunca foi um causador de doenças cardíacas. "Não tem absolutamente nada a ver com o nível de colesterol que está circulando no seu corpo", diz Rachid.

Ilustração em três dimensões mostra em primeiro plano uma artéria vista com corte no meio e placas amarelas grudadas em sua parede com a hemoglobina, bolinhas vermelhas, correndo por ela. Ela chega até o coração, que é desenhado com veias. Fundo da imagem, em tom azulado e acinzentado, são o que seriam hemoglobinas, mas transparentes
Ilustração em 3D de artéria sendo obstruída por colesterol alto - Rasi/stock.adobe.com

Ao contrário do que o médico afirma, o infarto agudo do miocárdio está relacionado com o aumento do colesterol ruim, como é conhecido o LDL, uma vez que a hipercolesterolemia causa a obstrução das artérias coronárias.

A médica Cynthia Valerio, membro da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), explica que a relação do colesterol alto como causa de infartos está definida na medicina desde a década de 1980. Segundo ela, as evidências científicas são tão robustas que há metanálises (quando dois ou mais estudos são analisados conjuntamente) com cerca de 400 mil participantes que mostram que, a cada elevação de 40 mg/dL do LDL, aumenta em 20% o risco de infarto e de morte.

"Há poucas doenças na literatura que têm tanta evidência científica quanto a relação do colesterol alto com as doenças cardiovasculares. Então, dizer o contrário é lamentável e totalmente inadequado", afirma Cinthya, que também é diretora da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).

Em outro trecho do vídeo verificado, o ginecologista afirma que remédios para controle do colesterol, como os fármacos da família das estatinas, não cumpririam a função de abaixar as taxas e reduzir o risco de infarto, o que também é considerado errado.

"É uma desinformação muito grande. As pessoas ouvem e param de tomar os remédios, e isso aumenta o risco da obstrução progredir. Pessoas que, inadvertidamente, suspendem o remédio, ficam mais suscetíveis a infartar ou ter um AVC ", afirma Gerson Bredt, vice-presidente do Conselho Administrativo da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Ele lembra que o processo de obstrução das artérias coronárias é lento e assintomático. Segundo Bredt, os primeiros sintomas surgem quando há a obstrução parcial, causando falta de ar e dor no peito durante atividades simples, como caminhadas. "A obstrução vai acontecer silenciosamente, a pessoa vai infartar dois ou três anos depois e talvez não relacione a causa com o colesterol descontrolado. A consequência do colesterol alto ao longo do tempo com certeza é a obstrução das artérias, seja das coronárias causando um infarto ou das artérias cerebrais, que causam um AVC."

As afirmações do post também são rebatidas pelo Ministério da Saúde. Em texto sobre colesterol alto, o órgão afirma que a hipercolesterolemia está diretamente relacionada a doenças cardiovasculares, "que, no Brasil, estão entre as principais causas de mortalidade".

A Folha tentou contato com o ginecologista Ítalo Rachid, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

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