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O que é a 'síndrome da cabeça explosiva', que te faz acordar no susto com barulho imaginário

Apesar do nome alarmante, a síndrome é inofensiva. No entanto, é importante distinguir um episódio de SCE de outras condições, especialmente de vários tipos de dores de cabeça

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Dan Denis
BBC News Brasil

Você já caiu no sono e foi acordado pelo som de uma bomba explodindo dentro da sua cabeça?

Se já, então você provavelmente já teve a síndrome da cabeça explodindo, um distúrbio do sono misterioso e mal compreendido.

Imagem de um homem colocando as mãos na cabeça, com cérebro em destaque em cores
Os sons ouvidos durante a SCE são variáveis e incluem percepções de tiros, portas batendo ou gritos indefinidos - Getty Images via BBC

A síndrome da cabeça explosiva (SCE) pertence a uma família de distúrbios do sono conhecidos como parassonias.

Outras parassonias incluem paralisia do sono e espasmos hipnóticos —a causa daquela sensação desagradável de queda que às vezes sentimos ao pegarmos no sono.

A SCE é conhecida por profissionais médicos desde pelo menos 1876, e ao que parece, o filósofo e cientista francês René Descartes a experimentou. Apesar disso, sabemos surpreendentemente pouco sobre a condição.

Um episódio típico é caracterizado pela experiência de um ruído alto, abrupto, ou uma sensação de explosão dentro da cabeça durante a transição do estado de vigília para o sono.

Os sons ouvidos durante a SCE são variáveis e incluem percepções de tiros, portas batendo ou gritos indefinidos. Vale ressaltar que os sons são sempre curtos (alguns segundos ou menos), muito altos e sem nenhuma fonte externa no ambiente.

Algumas pessoas experimentam também breves alucinações visuais, como flashes brilhantes. Outros também relataram sensações de calor intenso ou a sensação de carga elétrica fluindo pela parte superior do corpo.

É difícil estimar exatamente quantas pessoas sofrem de SCE. E um motivo é a falta de dados disponíveis. Poucos estudos tentaram investigar a prevalência de SCE na população em geral.

Um estudo inicial descobriu que 11% dos adultos saudáveis sofreram de SCE, enquanto outro, conduzido com estudantes de graduação, descobriu que 17% dos participantes tinham tido vários episódios ao longo da vida. No meu estudo mais recente, também com estudantes de graduação, meus colegas e eu descobrimos que um terço da nossa amostra teve pelo menos um episódio de SCE ao longo da vida, com cerca de 6% tendo pelo menos um episódio por mês.

O que esses estudos mostram é que a SCE é uma experiência relativamente comum, pelo menos em adultos jovens. No entanto, parece ser menos comum do que outras parassonias, como espasmos hipnóticos, que ocorrem em até 70% das pessoas.

Gatilhos

A causa exata da SCE é desconhecida. Embora muitas teorias tenham sido apresentadas, a mais popular está relacionada aos processos cerebrais naturais da transição da fase de vigília para o sono.

Em uma noite típica, quando fazemos essa transição, a atividade dentro da formação reticular do cérebro é reduzida.

A formação reticular é um conjunto de estruturas cerebrais localizadas principalmente no tronco cerebral e no hipotálamo, que atua como um interruptor "liga-desliga" do cérebro.

À medida que a atividade reticular diminui na transição para o sono, nossos córtices sensoriais que governam a visão, o som e o movimento motor começam a desligar.

Sugeriu-se que a experiência de SCE se deve a uma interrupção nesse processo normal de desligamento, o que dá origem a um surto atrasado e desconexo de ativação neuronal para redes sensoriais na ausência de quaisquer estímulos externos. Esses breves surtos de ativação são então percebidos como os sons altos e indefinidos que caracterizam a SCE.

Embora a base neural exata da SCE permaneça especulativa, estamos começando a aprender mais sobre outros fatores que aumentam a probabilidade de um episódio de SCE acontecer.

Em um dos primeiros estudos a analisar fatores associados, meus colegas e eu descobrimos que variáveis de bem-estar, como estresse, estavam associadas à experiência de SCE.

Essa relação era mediada por sintomas de insônia. Em outras palavras, o estresse da vida não se relacionava diretamente com a SCE, mas estava relacionado indiretamente por meio da interrupção inicial dos padrões normais de sono.

Homem caindo vestindo um pijama
A sensação desagradável de queda que às vezes sentimos ao pegarmos no sono é também uma parassonia - Getty Images via BBC

A SCE é perigosa?

Apesar do nome alarmante, a SCE é inofensiva. No entanto, é importante distinguir um episódio de SCE de outras condições, especialmente de vários tipos de dores de cabeça.

Os episódios de SCE são muito curtos (vários segundos) e geralmente não há dor associada. Se houver, é leve e transitório. Em contraste, muitas dores de cabeça são mais duradouras e estão associadas a níveis significativamente mais altos de dor.

Isso não quer dizer que a SCE não possa ser uma experiência assustadora. Em pesquisa recente com mais de três mil participantes que tiveram SCE, descobrimos que 45% dos entrevistados relataram níveis moderados a graves de medo associados. Um quarto dos participantes também relatou altos níveis de angústia em resposta, com níveis mais elevados associados a episódios mais frequentes.

Infelizmente, não houve estudos sistemáticos para investigar tratamentos potenciais e estratégias de enfrentamento.

Em nossa pesquisa, os participantes relataram que evitar dormir de barriga para cima, ajustar os padrões de sono e implementar técnicas de atenção plena foram estratégias eficazes para prevenir a SCE. Se alguma dessas técnicas se mostrará eficaz em ensaios clínicos, ainda não se sabe.

Mas aprender que a SCE é uma condição comum e inofensiva pode ajudar muito. Em um estudo de caso de paciente, foi relatado que a reafirmação e a educação sobre a experiência impediram que os episódios acontecessem.

Por enquanto, pelo menos, o melhor conselho parece ser tentar entender que essas experiências são naturais e não indicam que há algo errado. Medidas simples, como melhorar os hábitos de sono, podem ajudar muito a evitar que episódios angustiantes ocorram.

* Dan Denis é professor de Psicologia na Universidade de York.

Este artigo foi publicado originalmente no The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês

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