Jogo com Alemanha será maior teste emocional antes da Copa, diz Tite

'O 7 a 1 é real. A gente carrega esse fantasminha todo dia', afirmou o treinador da seleção

Técnico Tite levanta o zíper do agasalho durante entrevista coletiva na véspera do jogo entre Brasil e Alemanha, em Berlim
Técnico Tite concede entrevista coletiva na véspera do jogo entre Brasil e Alemanha, em Berlim - Uta Tochtermann/AFP
Igor Gielow
Berlim

O primeiro jogo entre Brasil e a Alemanha desde o 7 a 1, que ocorre nesta terça (27) em Berlim, é o maior teste psicológico e emocional da seleção comandada por Tite. “Sim, é verdade. O 7 a 1 é real”, disse o técnico. “A gente carrega esse fantasminha todo dia."

Na preparação para o jogo, que incluiu treinamentos e o amistoso que venceu contra a Rússia na sexta (23), Tite vinha minimizando a importância da derrota brasileira na semifinal da Copa de 2014, no Mineirão. Admitia a importância psicológica de enfrentar a Alemanha antes do Mundial na Rússia, mas nesta segunda ele falou mais abertamente sobre seus temores.

“Ele [o 7 a 1] te traz um componente que é inegável”, disse ele, para quem “o sentimento de frustração é normal”. Tite também comentou como lida com a pressão da proximidade da Copa. “Não sou super-homem, tenho uma expectativa alta. Sou humano”, afirmou. Ele irá comandar a seleção pela 18ª vez nesta terça, contra nada menos que 160 jogos de seu antípoda alemão, Joachim Löw, à frente da Alemanha há quase 12 anos.

Sem elaborar muito sobre a tradição brasileira de sacar técnicos a cada Copa perdida ou eliminatória próxima do vexame, disse que “é utopia pensar que eu possa chegar perto” da escola alemã de longevidade de treinadores. Ele ressaltou que a posição de Löw, que havia coberto o brasileiro de elogios em entrevista coletiva, é dinâmica. “Houve uma grande modificação na Alemanha desde 2014, é um desafio para o técnico”, disse.

Apesar do caráter simbólico e psicológico importantes, Tite tem preocupações táticas para o jogo, no qual não conta com seu principal jogador, Neymar —que se recupera de uma fratura no pé. A Alemanha jogará sem algumas de suas principais estrelas, como os poupados Özil e Müller e Kroos, que deverá começar no banco. Essas ausências deram um aspecto esvaziado ao amistoso, que naturalmente todos os envolvidos vêm tentando disfarçar.

O volante Fernandinho entrará numa posição intermediária à frente dos dois zagueiros, visando melhorar a marcação mas também elevar a qualidade do passe para o ataque. Com isso, Philippe Coutinho, que havia entrado no amistoso contra a Rússia mais centralizado, será deslocado para a ponta com Willian. Douglas Costa, que teve atuação apagada contra os russos, sai do time titular.

“O Fernandinho tem uma origem como articulador e jogou assim no City no ano passado”, disse Tite, confirmando seu interesse no jogador não como o “ritmista” que ele diz faltar ao time, mas para dar velocidade à saída de bola. Renato Augusto seguirá na reserva, confirmando uma posição que parece estar se cristalizando para a Copa —desde o começo da era Tite, em 2016, o jogador era parte central do esquema tático da seleção.

Mesmo nos testes pontuais a serem feitos nas substituições há alguma expectativa. “Cinco minutos para a gente não são como para vocês”, diz um dos assistentes de Tite, Cléber Xavier. “Existem disputas dentro da equipe, e algumas são mais acirradas. Ederson está crescendo, e traz pressão sobre o Alisson, o que é ótimo. Fernandinho como articulador vai competir com o Paulinho, que compete com o Casemiro, que compete com Coutinho. Willian também”, disse Tite.

O time será capitaneado por um jogador que vem mostrando fragilidades na parte defensiva de sua função, o lateral direito Daniel Alves. Ele minimizou o efeito do 7 a 1 sobre o grupo (“Quando você não pode mudar o passado, você tenta mudar o presente”), dizendo que “houve uma evolução nítida na nossa seleção”.

No banco em 2014, ele disse que não se sentiu injustiçado por ter sido sacado do time de Luiz Felipe Scolari, que o trocou por Maicon durante a Copa. “A diferença agora são as ideias novas”, afirmou o jogador, veterano de 34 anos.

Seu time titular para esta terça tem quatro jogadores que estiveram em campo no Mineirão: Marcelo, Paulinho, Willian e Fernandinho. Já os alemães, que passaram por um processo de renovação com a formação que ganhou a Copa das Confederações no ano passado, jogarão com dois egressos daquela semifinal: Khedira, que pode ser trocado por Goretzka, e Boateng.

O técnico Joachim Löw, que classificou o 7 a 1 como “um bom jogo, mas só um passo rumo à final”, poupou dois de seus principais atletas, Özil e Müller, que jogaram na sexta no duro empate com a Espanha.

Sem força máxima, o que é um conceito relativo a analisar o desempenho pós-Copa dos reservas da campeã mundial, e sem Neymar do outro lado, o foco para os brasileiros é no novo teste que Tite fará com o time.

Com a entrada de Fernandinho, o jogo verá um embate entre vários jogadores do Manchester City, um dos times mais badalados do mundo, comandando por Pep Guardiola. Jogarão pelo Brasil Fernandinho e Gabriel Jesus; do lado alemão, Gündogan e Sané.

O time brasileiro começará o jogo será Alisson, Daniel Alves, Thiago Silva, Miranda e Marcelo; Casemiro; Fernandinho, Paulinho, Willian e Coutinho; Gabriel Jesus

Já a Alemanha entrará com Ter Stagen (Trapp no segundo tempo), Rüdiger, Boateng e Ginter; Kimmich, Gündogan, Khedira (Goretzka) e Plattenhardt; Stindl, Werner e Sané

O palco será o Estádio Olímpico de Berlim, que tem capacidade de quase 75 mil lugares. Local histórico, construído pelos nazistas para a contestada Olimpíada de 1936, ele foi renovado para a Copa de 2006, na qual os anfitriões ficaram em terceiro lugar. A expectativa é de uma quase lotação, mas não há balanço de venda de ingressos. O juiz será o sueco Jonas Eriksson, famoso por ser um milionário que trabalha com futebol por diletantismo e apitou a vitória do Brasil sobre Camarões em 2014.

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