Polícia e Procuradoria apuram manipulação de resultados na Paraíba

Operação investiga participação de dirigentes da federação paraibana

Amadeu Rodrigues, presidente da Federação Paraibana de Futebol
Amadeu Rodrigues, presidente da Federação Paraibana de Futebol, seria um dos alvos da operação de flagrada pela Polícia Civil da Paraíba e pelo Ministério Público - Divulgação/FPF
Marcello De Vico
Santos | UOL

Nesta segunda-feira (9), a Polícia Civil da Paraíba e o Ministério Público do estado deflagraram operação contra a corrupção no futebol paraibano intitulada Operação Cartola.

De acordo com comunicado oficial emitido, o objetivo é "apurar os crimes cometidos por uma organização composta por membros da Federação Paraibana de Futebol (FPF), Comissão Estadual de Arbitragem da Paraíba (CEAF), Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba (TJD/PB) e dirigentes de clubes de futebol do Estado". A manipulação de resultados é um dos focos da operação.

De acordo com as autoridades envolvidas, serão investigados dois núcleos: o primeiro, com cerca de 80 membros identificados, é formado por membros da FPF, da CEAF e dirigentes de futebol profissional. Este grupo, de líderes, é responsável pelas decisões mais importantes do futebol do estado.

O segundo núcleo é de pessoas ligadas à CEAF, à FPF e aos clubes e seria composto pelos responsáveis por executar as ordens do primeiro grupo.

Além de manipulação de resultados, a Operação Cartola investiga adulteração de documentos, interferência em decisões da justiça desportiva e desvio de valores relativos às partidas de futebol profissional realizadas na Paraíba.

Com apoio de 230 policiais civis do estado, foram cumpridos 39 mandados de busca e apreensão nas cidades de João Pessoa, Bayeux, Cabedelo, Campina Grande e Cajazeiras. Por questão de sigilo, maiores detalhes só poderão ser divulgados ao fim da operação.

O UOL apurou que estão entre os alvos dos mandados Amadeu Rodrigues, presidente da FPF, Rosilene de Araújo Gomes, ex-presidente da FPF, José Renato, presidente da Comissão de Arbitragem, Lionaldo Santos, presidente do Tribunal de Justiça Desportiva, José Freire da Costa, o Zezinho, presidente do Botafogo-PB, e Juarez Lourenço, presidente do Treze-PB, além dez árbitros.

Os envolvidos podem responder processo ao menos por organização criminosa, falsidade ideológica e manipulação de resultados, crime contra o Estatuto do Torcedor. As autoridades locais estão abertas a denúncias sobre o tema.

Procurado pela Folha, Amadeu Rodrigues se manifestou em nota oficial divulgada pela assessoria de imprensa da FPF.

"Todo o corpo de dirigentes e funcionários da Federação Paraibana de Futebol foi surpreendido com a atitude drástica realizada, posto que o corpo jurídico disponibilizou antecipadamente (Março/18) e de forma espontânea a abertura dos sigilos bancários, telefônicos e fiscais, não só da FPF (PB), como também de seu presidente, demonstrando a completa tranquilidade e apoio às investigações", afirmou o dirigente.

Em outro trecho da nota, Rodrigues explicou que ele não tem qualquer ingerência sobre o TJD ou a Comissão de Arbitragem. "A Federação Paraibana de Futebol e o Tribunal de Justiça Desportiva são órgãos autônomos, assim como a Comissão de Arbitragem (CEAF), inexistindo qualquer ingerência por parte do Presidente da FPF (PB) nas instituições citadas. Ao inverso, é da praxe da nova administração a completa isenção e apoio a autonomia dos participes do nosso futebol", declarou.

O Botafogo-PB, que neste domingo (8) conquistou o bicampeonato estadual, após vencer o Campinense por 2 a 0, também divulgou uma nota oficial a respeito das investigações.

"O Botafogo Futebol Clube vem a público informar que, diante das informações veiculadas acerca da Operação Cartola, está à disposição das autoridades, colaborando com as investigações. O clube reitera a importância da lisura nos certames esportivos no estado, ao passo que acompanha com tranquilidade o desenrolar das investigações", declarou a direção do clube.

STJD

Procurado pelo UOL, o procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD, Felipe Bevilacqua, informou que o órgão tem poder para afastar o atual presidente da Federação Paraibana de Futebol (FPF), Amadeu Rodrigues, do cargo. Porém, precisa de provas concretas.

"Temos poder para afastar, sim, mas precisamos ter provas e documentos. Com base nas notícias [da imprensa] já posso requerer às autoridades documentos e o procedimento, mas eles não são obrigados a fornecer. O ideal seria os interessados nos fornecer as provas e documentos", disse Bevilacqua.

Atual vice-presidente da Federação e desafeto de Amadeu Rodrigues há longo tempo, Nosman Barreiro se manifestou sobre a operação e disse ser um dos autores das denúncias encaminhadas aos órgãos competentes.

"Já foram protocoladas notícias de infração perante a comissão de ética da CBF, bem como serão adotadas as demais medidas cabíveis ao caso".

Em nota divulgada à imprensa, Barreiro negou que esteja sendo investigado e também que tenha sido alvo de busca e apreensão. Mas fez críticas à gestão do futebol paraibano.

" Questiono neste momento, o que fora feito no futebol paraibano em relação a profissionalismo, transparência e ética? Respondo: absolutamente nada. Já foram protocoladas notícias de infração perante a comissão de ética da CBF, bem como serão adotadas as demais medidas cabíveis ao caso, que entendermos necessárias", afirmou o dirigente.

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