Descrição de chapéu Copa do Mundo

Correria antes do jogo tem muvuca no metrô e recorde de trânsito em SP

Aflitas, pessoas deixam o trabalho e, de repente, lotam ruas e vagões da cidade

Mariana Zylberkan Ivan Finotti
São Paulo

Foi de uma hora para outra. O metrô de São Paulo, que era a cara do sossego com o jogo da seleção brasileira, só com um ou outro passageiro de camiseta amarela, de repente virou um apinhado de gente, digno do horário de pico mais claustrofóbico.

A muvuca começou poucos minutos após as 13h, quando a maioria dos escritórios da região da avenida Paulista liberou os funcionários para assistir a partida contra a Sérvia.

Era tanta gente descendo pelas escadas da estação Paulista da linha 4-amarela, que seguranças correram para inverter o sinal das catracas para dar vazão à onda de gente.

A fila para passar o bilhete na catraca foi ficando cada vez maior, na mesma proporção da aflição das pessoas que queriam ver o jogo na TV.

Engravatados carregavam o paletó na mão, enquanto usavam o celular para avisar que iriam se atrasar. A gola da camiseta amarela da seleção era visível debaixo do colarinho das camisas brancas.

Perrengue mesmo foi atravessar o túnel que separa as estações Consolação, da linha 2-Verde, e Paulista, da amarela. O calor humano apertava ainda mais a cada trem que parava na plataforma e despejava mais passageiros.

As pausas entre os mini-passos, obrigatórias se não quisesse atropelar o cidadão à frente, quase fizeram a chapeira Andreia Pereira Souza, 26, desistir. “Nesse ritmo, vou chegar em casa depois que o jogo acabar”, disse ela, que seguia rumo a Santo Amaro e já estava há 40 minutos tentando vencer a massa humana para embarcar na plataforma.

O percurso que, em média, não leva nem 10 minutos tomava cerca de 20 de quem corria para assistir o jogo. “Se não der tempo, vou ver do celular mesmo”, disse, resignado, o engenheiro de produção Marcelo Amador, 26.

Como se não bastasse o aperto, havia ainda torcedores precoces que insistiam em assoprar as vuvuzelas e cornetas no ouvido alheio. Como buzinas no trânsito parado, bastava um começar para o outro responder e o barulho piorar com o eco formado pelas paredes do túnel.

A ansiedade para assistir o jogo fez muita gente pular o almoço. Atendente de um dos quiosques que vendem salgados na estação Pinheiros corria para colocar mais pães de batata e croissants de presunto e queijo no forno elétrico para dar conta da demanda. “Não vai dar tempo de almoçar”, disse a vendedora Aline Cintra, 21, para a amiga na fila.

O clima de festa dentro dos trens era tímido, se comparado aos dias de jogos do Brasil na Copa do Mundo de 2014.

Havia pouca gente com adereço na cabeça. Alguns começaram o esquenta no trem mesmo e dividiam entre os amigos goles na garrafa de catuaba sabor pina colada.

Outras usavam o tempo gasto no transporte para terminar de se arrumar.

A publicitária Aline Reis, 29, pedia dicas das amigas para terminar de ajeitar a maquiagem. “Fiz correndo e ainda enchi a pia do banheiro da empresa de glitter”, disse ela, que seguia com as amigas para uma festa “com DJ e open bar” na Vila Madalena.

Apesar da confusão, tinha gente que comemorava o fato de poder ver a partida fora do trabalho. “No último jogo assisti no computador da empresa. Tinha um delay de uns 15 segundos, foi horrível”, disse o analista contábil Guilherme Diegues, 30, que seguia a Taboão da Serra (Grande SP).

Enquanto isso, na superfície, o trânsito da capital estava assustador desde uma hora antes até o momento em que o jogo começou. Com paralisações no corredores leste-oeste, norte-sul e vice-versa, além das duas marginais, o congestionamento bateu 203 km às 14h. O recorde do ano havia sido em uma manhã do final de abril, com 197 km.

“A gente vai chegar pra ver o jogo”, esperançou-se o entregador de flores Helio Gomes às 14h55, no viaduto Tutoia, espremido no banco da frente de numa van ao lado de dois outros funcionários, enquanto já via pelo celular a apresentação das equipes.

Metros abaixo, o congestionamento da avenida 23 de Maio parecia impossível de ser resolvido. Segundo dados da CET, a cidade sofria 156 km de congestionamento às 15h. Só que, 20 minutos depois, com o jogo já iniciado, as pistas já respiravam livres.

Após o primeiro gol, o motorista de Uber Henry K. pulou da famigerada tarifa dinâmica de 2,5 para a normal em menos tempo do que um juiz leva para pedir ajuda ao árbitro de vídeo. Tarifa dinâmica de 2,5 significa que o aplicativo está cobrando do cliente duas vezes e meia mais do que a tarifa do dia a dia. “A última vez que peguei isso foi no Réveillon”, disse. “Quer dizer, teve dinâmica de 2,5 na greve dos caminhoneiros, mas eu não tinha gasolina para trabalhar.”

No final do primeiro tempo, às 15h45, o trânsito em São Paulo já estava do jeito que o paulistano gosta: de feriado no meio da semana. A exceção era a Marginal Tietê, eterna risca vermelha no mapa.

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