Descrição de chapéu Copa do Mundo Feminina

Futebol é raro exemplo de igualdade de jogo para homens e mulheres

Maioria dos esportes tem variações nos equipamentos utilizados por cada gênero

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Copa do Mundo feminina de 2019, que tem sua final marcada para domingo (7), na França, deu grande visibilidade à luta das jogadoras de futebol pela igualdade de condições entre mulheres e homens no esporte.

Se a disparidade salarial e de oportunidades entre os gêneros ainda é grande na maioria dos países, por outro lado o futebol é uma das poucas modalidades, ao menos entre as mais populares no Brasil, em que as competições masculina e feminina são totalmente iguais em termos de regras e equipamentos utilizados pelos atletas.

Dimensões do campo, tempo de jogo, tamanhos da bola e do gol: não há diferenças em nenhum desses quesitos.

Bárbara (1,71 m), goleira da seleção brasileira, faz defesa durante a Copa do Mundo feminina de 2019
Bárbara (1,71 m), goleira da seleção brasileira, faz defesa durante a Copa do Mundo feminina de 2019 - Loic Venance/AFP

Mas mesmo nesse setor em que o futebol aparece como raro exemplo de igualdade, é comum surgirem discussões sobre possíveis mudanças que poderiam ser feitas para supostamente melhorar a qualidade do jogo.

A mais frequente é sobre as dimensões do gol (2,44 m de altura e 7,32 m de largura). O principal argumento dos defensores da sua redução costuma ser o de que em geral as goleiras têm estatura menor que seus equivalentes masculinos.

Nesta edição da Copa, três arqueiras dividem o status de mais alta da competição, com 1,82 m: Christiane Endler (Chile), Karen Bradsley (Inglaterra) e Peng Shimeng (China). Entre os homens, Lovre Kalinic (Croácia), com 2,01 m, foi o goleiro de maior estatura no Mundial de 2018.

Emma Hayes, técnica do time feminino do Chelsea, abordou o tema em um artigo publicado recentemente no jornal inglês The Times. Segundo ela, as discussões sobre essa alteração não devem ser vistas como sexistas.

"O debate sobre essas situações no futebol feminino sempre é silenciado com um medo irreal de que qualquer mudança vai estragar o esporte ou com seu ideal de equidade", escreveu a treinadora.

Já a historiadora e pesquisadora Brenda Elsey afirmou em entrevista à Folha que considera essa “a pior ideia possível” e que a diminuição poderia até prejudicar um processo movido pela seleção feminina dos EUA contra a federação do país em que busca igualdade de condições de trabalho.

“Mudar isso não só segrega meninos e meninas, mas mina o processo que elas estão tocando. Porque o time masculino poderia dizer então que eles têm um trabalho diferente, em um esporte diferente. É isso o que vai acontecer. E é ridículo. As goleiras não estão pedindo isso”, disse Elsey.

A goleira Aline Reis (1,63 m), reserva da seleção brasileira, é uma das que recusam essa adaptação. “Muitas vezes as pessoas falam que eu sou baixinha. Mas eu consigo chegar numa bola no ângulo. Tenta achar uma bola que eu levei gol de cobertura. Não tem. Não é questão de ser grande, é questão de saber fazer a leitura da jogada", afirmou em entrevista ao blog Dibradoras, do UOL.

Waleska Vigo Francisco, que pesquisa gênero e sexualidade no esporte na USP, lembra que na primeira edição da Copa do Mundo feminina, em 1991, as partidas tinham 80 minutos. No Mundial seguinte, em 1995, a Fifa adotou os 90 minutos tradicionais.

“Desde o início dos Jogos Olímpicos, em que as mulheres eram proibidas de participar, existe um histórico de contenção delas no esporte. Diminuir espaços seria voltar a conter as mulheres e dizer que elas são limitadas”, ela afirma.

Modalidades que têm a altura como um importante fator de sucesso, como o vôlei e o basquete, lidam com as adaptações de formas diferentes. Enquanto no vôlei a rede das mulheres é 19 cm mais baixa que a masculina, no basquete a cesta não sofre variação de altura —ambas ficam a 3,05 m do solo. No basquete feminino, porém, a bola é menor e mais leve, enquanto no vôlei elas são iguais.

No atletismo, as barreiras usadas em algumas das provas femininas também são menores. Já nos eventos de arremesso (peso, disco dardo e martelo), o objeto lançado é mais leve na categoria feminina.

Após a proibição dos chamados supermaiôs (traje tecnológico que facilitava a flutuação dos atletas e permitiu várias quebras de recordes) na natação de piscina, em 2010, a federação internacional definiu que o traje masculino pode cobrir no máximo da região do umbigo aos joelhos. Já para as mulheres, os limites são joelhos, ombros e pescoço.

O judô tem uma diferença sutil de vestimenta. As mulheres têm que usar uma camiseta branca de manga curta por baixo do quimono obrigatoriamente, e os homens não podem usar nada.

Cori Gauff, tenista americana de 15 anos que é destaque em Wimbledon
Cori Gauff, tenista americana de 15 anos que é destaque em Wimbledon - Hannah McKay/Reuters

No caso do tênis, as partidas masculinas dos torneios do Grand Slam são disputadas em melhor de cinco sets, enquanto as femininas, em melhor de três. Já no tênis de mesa, assim como no futebol, não há nenhuma diferença entre os gêneros.

Para Guilherme Artioli, professor da Escola de Educação Física e Esporte da USP, em muitos esportes há um padrão físico de altura e força que costuma definir o sucesso de um competidor, o que explica várias dessas adaptações.

“No futebol, isso é mais complicado, porque a questão técnica muitas vezes se sobrepõe aos aspectos físicos. Então um atleta com um corpo diferente do tido como ‘vantajoso’ pode superar as desvantagens físicas”, ele afirma.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.