Descrição de chapéu Copa do Mundo

Inspiração europeia, CT ajudou a formar sete titulares da França

Centro de excelência do futebol inaugurado em 1988 completa 30 anos

Seleção francesa treina em Clairefontaine na preparação para a Copa do Mundo
Seleção francesa treina em Clairefontaine durante preparação para a Copa do Mundo - Franck Fife - 4.jun.2018/AFP
Istra

Há um motivo além da glória esportiva para os dirigentes torcerem pelo sucesso da seleção francesa na Copa. Significaria provar que Clairefontaine ainda é uma das glórias do futebol do país.

O centro de excelência do futebol da França, inaugurado em 1988, completa 30 anos com os métodos contestados, apesar de já ter sido exemplo para outros países europeus.

Inglaterra, Bélgica e Turquia copiaram o modelo de ter um espaço exclusivo para a formação de jogadores pensando na seleção nacional.

Dez anos depois da abertura, a seleção conquistou o título sobre o Brasil quando Zidane, que passou pelo local aos 13 anos, fez dois gols na final.

Foi o título que catapultou a fama do espaço de 56 hectares, 302 camas, dez campos de futebol (sete naturais e três sintéticos), laboratório de ciência do esporte, salão de jogos, biblioteca e cinema diante dos olhos do futebol mundial. Em 2000, a França também venceu a Eurocopa.

"Há uma tendência de medir o sucesso pelos títulos. Mas não é só isso. Clairefontaine é um marco do futebol francês por ter construído uma nova filosofia", disse o Gérard Houlier, ex-técnico da seleção e um dos principais defensores do lugar que também serve como centro de treinamento para a categoria profissional.

Dos 11 titulares do time que derrotou a Argentina nas oitavas de final do Mundial na semana passada, sete passaram pelo centro de formação em algum momento entre os 12 e 15 anos. É esta a idade em que os garotos são aceitos na instituição mantida pela Federação Francesa. Pavard, Varane, Umiti, Matuidi, Pogba, Giroud e Mbappé foram escalados contra os sul-americanos. Entre os nomes mais conhecidos que ficaram no banco de reservas, Dembélé também é produto do sistema.

O raciocínio por trás da limitação de idade é que é neste período da vida do jogador ele pode ser moldado pelos técnicos. A partir dos 16 anos, a redução da influência é sensível.

O treinador da seleção no título de 1998, Aimé Jacquet, disse que a maior conquista da história do esporte do país só havia sido possível graças ao centro de excelência a cerca de 40 km de Paris, em um castelo do século 17 transformado em um hotel cinco estrelas encravado em vilarejo com menos de mil habitantes.

O sucesso trouxe a complacência e o senso de que o sucesso estava garantido. "Houve erros e a percepção que algumas coisas precisavam mudar", concorda Houlier.

Com a derrocada francesa na Copa de 2010 na África do Sul, os atos de indisciplina e os conflitos internos, Clairefontaine se tornou a imagem de tudo o que havia errado.

Dirigentes da federação reconheceram que os profissionais contratados passaram a privilegiar garotos altos e fortes, enquanto a Espanha se preocupava em formar jogadores capazes de controlar a bola.

Por causa dessa filosofia, meninos como N'Golo Kanté e Antoine Griezmann escaparam da rede de olheiros e tiveram de achar outro lugar para mostrar o que podiam fazer. Kanté, que anos depois seria visto como um dos melhores volantes do mundo, ouviu que era pequeno demais para ser jogador de futebol. Griezmann só encontrou espaço na Real Sociedad (ESP) aos 13 anos.

Foi quando aconteceu a mudança. Sob a orientação de Francisco Filho, brasileiro radicado na França, os treinos passaram a ser 100% dedicados a posse de bola. Nada de atividades físicas, corridas, musculação. As revelações começaram a ser desencorajados a saírem de casa muito cedo e ficarem próximos da família o maior tempo possível.

Isso foi feito para responder à acusação de que Clairefontaine só se preocupa com o aspecto futebolístico e não tem nenhuma intenção de formar pessoas. Há a tentativa de ajudar no crescimento intelectual dos meninos.

Nem sempre dá certo. Antes da Copa de 2014, o técnico da seleção Didier Deschamps levou os convocados para o centro de treinamento antes da viagem para o Brasil. Ele pediu que seus escolhidos lessem dois livros: as autobiografias de Sir Alex Ferguson, do Manchester United e de Phil Jackson, da NBA, a liga de basquete dos Estados Unidos. Só o lateral Patrice Evra e o zagueiro Laurient Kolscieny cumpriram o dever.

No Mundial há quatro anos, o time em momento de transição caiu nas quartas de final para a futura campeã Alemanha. Em 2016 chegou à final da Eurocopa, mas perdeu em casa para Portugal.

A Copa na Rússia é a oportunidade para mostrar que Clairefontaine ainda é a vanguarda.

Por isso que os envolvidos com o futebol francês se irritam com a afirmação de que o estilo de treinar os garotos nos últimos anos é uma cópia do modelo do Barcelona consagrado pelo time de Pep Guardiola entre 2009 e 2013.

"É ao contrário, não é? Eles é que nos copiaram. O modelo é nosso", contesta Houlier.

Quem mais passou pelo centro

Paul Pogba, 25
O meio-campista do Manchester United é um dos líderes desta equipe francesa
 
Olivier Giroud, 31
Jogador do Chelsea, é um ponto de referência no ataque da seleção

Benjamin Pavard, 22
Defensor do Sttutgart, fez um belo gol na vitória sobre a Argentina nas oitavas

Samuel Umtiti, 24
Camaronês naturalizado francês, atua como defensor no Barcelona

Raphael Varane, 25
Defensor do Real Madrid, foi indicado ao prêmio de melhor jovem jogador da Copa-2014

Kylian Mbappé, 19
A velocidade do atacante do PSG tem sido o trunfo da seleção francesa

Blaise Matuidi, 31
Filho de angolanos, o meio-campista defende a Juventus

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