Descrição de chapéu The New York Times

Repleto de 'gigantes', tênis também tem espaço para 'baixinhos'

Sacar é uma das maiores dificuldades para tenistas de menor estatura

Stuart Miller

Quando Laura Siegemund, que um dia chegou ao 26º posto no ranking do tênis feminino, se lesionou e teve de cair para o ITF Pro Circuit enquanto se recuperava, ela percebeu uma grande diferença em seus novos colegas de circuito, que ia além da técnica e dos fundamentos.

"Havia muitas jogadoras menores por lá, e quanto mais você sobe no tour, mais altas as tenistas são", disse Siegemund, que tem 1,68 metro de altura. "Ou seja, as jogadores mais altas têm vantagem".

Tracy Austin, vencedora do Aberto dos Estados Unidos, mede 1,65 metro, o que era bem normal em sua época, mas hoje faria dela uma jogadora franzina.

"Martina Navratilova era vista como alta, na época, e ela tinha 1,73 metro", disse Austin.

A ex-tenista disse que o tamanho e força das jogadoras que ela vê nos vestiários a deixam "espantada".

Mesmo Julia Glushko, que tem 1,70 metro, disse que "me sinto baixinha na tour".

Embora os melhores tenistas nada tenham de gigantes —Serena Williams tem 1,75 metro, e Roger Federer e Rafael Nadal têm 1,85 metro—, o balanço de poder agora favorece os altos, e os jogadores menores precisam se adaptar —e não só ao acrescentar três ou cinco centímetros à sua estatura nas fichas de inscrição. "O jogador precisa ter qualidades especiais ou não será visto no tour. Vai jogar no ITF Circuit ou, entre os homens, na Challenger Tour", disse Austin.

O tamanho faz diferença em termos de amplitude, de ritmo e de ângulos, na rede, nas jogadas rente ao piso e, especialmente, no saque. Cinco dos 16 homens que chegaram à quarta rodada de simples do Aberto dos Estados Unidos têm alturas de 1,96 metro ou mais, e sete das 16 mulheres têm pelo menos 1,78 metro.

A falta de estatura não desqualifica um tenista, de forma alguma. Sloane Stephens, que está defendendo seu título no Aberto dos Estados Unidos, tem 1,70 metro de altura, e na quarta rodada conta com a companhia de Ashleigh Barty, que tem 1,65 metro; Carla Suárez Navarro, que tem 1,63 metro; e Dominika Cibulkova, que tem 1,60 metro. A tenista que lidera o ranking feminino do esporte é Simona Halep, que tem só 1,68 metro.

A tenista alemã Laura Siegemund saca durante partida do Aberto dos EUA
A tenista alemã Laura Siegemund saca durante partida do Aberto dos EUA - Geoff Burke - 28.ago.18/USA Today Sports/Reuters

Uma das vitórias mais inesperadas no torneio masculino aconteceu na terceira rodada, quando Philipp Kohlschreiber, cuja ficha lhe atribui altura de 1,78 metro, derrubou Alexander Zverev, o quarto do ranking masculino, que é 20 centímetros mais alto.

Kohlschreiber disse que gosta de jogar contra adversários mais altos. "Faço com que eles se movimentem muito", ele disse. "É um dos meus pontos fortes".

Ele apontou para a variedade de jogadas em seu arsenal como uma arma poderosa contra adversários mais altos. Ele usou o slice de backhand com mais frequência diante de Zverev, para manter a bola baixa.

"Eu alternei bolas altas, bolas baixas, e diferentes ângulos", disse Kohlschreiber.

Os jogadores mais baixos tendem a ser mais rápidos e mais ágeis, com um jogo de pés melhor que o de seus rivais que têm a altura de jogadores de basquete, mas Austin disse que eles também precisam de técnica superior e de mais precisão nas devoluções. Ela acrescentou que os jogadores baixinhos de sucesso precisam de "estabilidade emocional" e da "mentalidade guerreira" de um Michael Chang ou David Ferrer, que jogou seu primeiro Aberto dos Estados Unidos este ano.

Alguns tenistas menores, como Cibulkova, são adeptos do jogo de força. Ricardas Berankis, que tem 1,75 metro, costuma disparar saques com velocidade próxima aos 200 km/h, mas jamais conseguirá acompanhar a velocidade de saque de John Isner, que tem 2,08 metros, ou Kevin Anderson, que tem 2,03 metros.

O saque é o aspecto do tênis no qual os jogadores menores sentem mais a diferença de altura - eles não podem atingir a bola de cima, e com isso atingem potência inferior à dos jogadores mais altos.

"Não consigo muitos aces, e por isso preciso planejar meu saque", disse Tim Smyczek, que tem 1,75 metro. "Variação é um dos meus pontos fortes, e tento estruturar os pontos computando o saque e a primeira rebatida, em lugar de apenas o saque".

Kirsten Flipkens, que tem 1,65 metro, e venceu Coco Vandeweghe, de 1,85 metro, na primeira rodada do Aberto dos Estados Unidos, diz que é especialmente importante que os tenistas mais baixo se concentrem em seus saques, nos jogos contra adversários mais altos, quanto é difícil conseguir breaks e manter o serviço é crucial.

A devolução de saques é uma das áreas nas quais os tenistas baixinhos tendem a se sair melhor do que seus colegas mais altos.

Embora os 10 melhores sacadores da tour masculina sejam todos ou muito altos ou se chamem Federer ou Nadal, seis dos oito melhores jogadores nas devoluções têm estatura inferior a 1,83 metro, entre os quais Diego Schwartzman, de 1,70m metro, o segundo melhor tenista no quesito devoluções.

Halep tem o melhor desempenho na WTA este ano, vencendo 49,4% de seus games como recebedora, antes de sua derrota na rodada de abertura do Aberto dos Estados Unidos, enquanto Stephens é a segunda colocada, Daria Kasatkina (1,70 metro) é a terceira e Monica Niculescu (1,68 metro) é quarta.

Flipkens disse que os jogadores mais baixos precisam aprender a analisar melhor o jogo, e a ler os saques dos oponentes para maximixar suas oportunidades de devolução.

Austin disse que "antecipação não é exatamente uma técnica, mas é algo que é crucial desenvolver".

Depois que a bola entra em jogo, os jogadores menores muitas vezes podem depender de sua velocidade superior. "Todo mundo é mais alta que eu", disse Kurumi Nara, de 1,55 metro, "e por isso tento me movimentar bem, e mais rápido que o adversário".

Embora os jogadores mais altos estejam ganhando agilidade, a maioria deles ainda não se move com leveza. Bolas baixas, próximas dos pés, lhes causam desconforto.

Glushko diz que jogadores mais altos "não gostam da bola perto do corpo", e isso também se aplica aos saques.

Jogadores menores, como Siegemund, disseram que a melhor tática é se posicionar no fundo da quadra, o que permite que corram para a bola e faz com que esta chegue a eles em altura mais administrável. Mas para jogar bem na defesa e conseguir rallies longos, os tenistas menores precisam se manter na melhor forma.

"Todos os tenistas estão em forma, mas a nossa precisa ser ainda melhor", disse Siegemund.
Há quem diga que a abordagem oposta pode ser mais útil. "O ponto do tênis é roubar o tempo de seu oponente", disse Austin. "Pode-se fazer isso na força bruta ou rebatendo a bola mais cedo. Os jogadores baixos precisam rebatê-la ainda mais cedo".

Berankis joga com agressividade, o que, segundo ele, combinado à sua velocidade, "pode causar desconforto ao oponente". Mas ele reconheceu que "isso também gera mais riscos do meu lado, e às vezes preciso encontrar um meio do caminho".

Smyczek disse que "você pode se encrencar se mantiver o jogo de fundo e correr o dia todo, mas se você se movimentar para tirar o tempo do adversário e ele estiver acertando lances bons, você também roubará tempo de você mesmo. O tenista precisa ser capaz das duas coisas. Ser agressivo de acordo com as oportunidades que encontra".

Berankis diz que com o esporte se tornando mais físico e mais dependente da força, ele estava preocupada por "ninguém pensar muito em quadra".

Glushko ganhou quase cinco quilos de musculatura, para aumentar seu poder de fogo, e disse que "me sinto muito melhor em quadra".

Mas Vania King, que tem 1,63 metro, disse que "não posso ganhar muito mais massa sem me comprometer de outras maneiras".

À medida que os tenistas se tornam mais altos e passam a sacar mais forte, disse Austin, a preocupação dela é que os rallies longos desapareçam. "Você precisa de versatilidade e estilos conflitantes, para um jogo interessante", ela disse.

Mas muitos jogadores menores não estão preocupados.

"Os tenistas menores não se tornarão totalmente obsoletos", disse King. "Há como combater o tamanho. Precisamos ser mais rápidos e mais astutos".
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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