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Paraíso de zebras, Copa Argentina tem gol de juiz e técnico 'Seu Madruga'

Democrático, torneio tem participação de clubes de todas as divisões do país

Pablo Vico, técnico do Brown de Adrogué, protagonizou algumas das boas histórias da Copa Argentina
Pablo Vico, técnico do Brown de Adrogué, protagonizou algumas das boas histórias da Copa Argentina - Luciano Thieberger/Clarin
Bruno Rodrigues
São Paulo

Quando entraram em campo as equipes do Brown de Adrogué e do Central Córdoba de Santiago del Estero, na quarta-feira (26), a Copa Argentina pôde mostrar a sua principal faceta: a de ser o torneio mais democrático do país.

A competição, que reúne times de todas as divisões do país, se tornou atrativa principalmente para os clubes pequenos, que ganham visibilidade em confrontos contra os grandes e sonham com a conquista de uma vaga na Copa Libertadores, um dos prêmios ao campeão do torneio.

Arsenal de Sarandí e Huracán, equipes tradicionais, mas modestas, já tiveram o gosto de levantar a taça e disputar a competição continental.

Disputada em jogos únicos e eliminatórios, a Copa Argentina abre o calendário do futebol local. Com pouco tempo de preparação para os clubes grandes e jogos realizados em estádios neutros espalhados pelo território nacional, o mata-mata vira terreno fértil para a proliferação das zebras. Como as que protagonizaram o Brown e o Central Córdoba.

A equipe de Santiago del Estero, cidade no noroeste da Argentina e que fica a cerca de 1.200 quilômetros de Buenos Aires, é a principal surpresa até aqui.

Recém-promovida para a segunda divisão, já eliminou nos pênaltis o Vélez Sarsfield, campeão da Libertadores e do mundo em 1994; o Tigre, que também disputa a elite argentina, e o Brown de Adrogué na última quarta. Na próxima fase, encara o Gimnasia y Esgrima, outro time da primeira divisão, que já deixou pelo caminho o poderoso Boca Juniors.

“Sem dúvidas os times de divisões menores se concentram um pouco mais, têm a guarda um pouco mais alta. Quando chega a oportunidade de jogar partidas contra equipes de divisões superiores, temos que estar muito concentrados. Se o rival se coloca em vantagem, é muito difícil para nós, de menor categoria, conseguir a virada”, conta à Folha o técnico do Central Córdoba, Gustavo Coleoni.

Com quase 500 partidas comandando equipes das divisões de acesso, ele também credita o sucesso de pequenos contra grandes no torneio à característica habitual do jogador argentino de superar a desvantagem técnica por meio da raça. Entretanto, lembra que só a motivação não é suficiente.

“Há de se trabalhar com as ideias claras, com os pés no chão e, sobretudo, com uma ideia de trabalho. Quando começa o jogo, acreditarmos que somos os melhores e ir pelo sonho. Mas sem ficarmos loucos, e sabendo que não é fácil”, afirma o treinador.

​Seu adversário na última rodada também aprontou na competição. Eliminou San Martín de San Juan e Independiente, equipes da primeira divisão, ambos nos pênaltis.

Gustavo Coleoni, técnico do Central Córdoba, uma das surpresas da Copa Argentina
Gustavo Coleoni, técnico do Central Córdoba, uma das surpresas da Copa Argentina - Alejandra Sandrez/Divulgação Gustavo Coleoni

O treinador do Brown de Adrogué, Pablo Vico, está há 20 anos no clube e há dez comanda o time principal. Dono de portentoso bigode, é apelidado de “Don Ramón”, como é chamado o Seu Madruga, da série Chaves, nos países de língua espanhola.

Após classificação contra o Independiente, Vico comemorou no gramado segurando um boneco do personagem.

O goleiro do Brown e herói da classificação nas penalidades, Martín Ríos, confessou depois do jogo que ele e seu preparador haviam estudado com atenção os batedores do Independiente, mas que na hora das cobranças simplesmente se esqueceu de tudo.

“Bom, seja o que Deus quiser. Ele vai nos ajudar”, disse o preparador de goleiros a Ríos, que defendeu dois pênaltis e colocou a equipe na fase de oitavas de final.

Outro episódio ilustre do torneio aconteceu no duelo entre Platense e Belgrano. Ao ver duas bolas no campo de jogo, o árbitro Pedro Argañaraz tentou afastar uma delas e acabou encobrindo o goleiro do Platense, marcando um golaço. Atletas que estavam próximos comemoraram o lance e brincaram com o talento do juiz.

Entre as zebras da Copa Argentina, houve também a vitória do Sarmiento de Resistencia sobre o Racing, logo na primeira rodada. O gol do triunfo por 1 a 0 foi marcado por Horacio Orzán, experiente meio-campista de 30 anos com boa passagem pelo Newell’s Old Boys, campeão nacional em 2013.

“Não sou de chutar no gol. Este deve ter sido o sexto chute da minha carreira e foi dentro”, disse o volante, que não marcava um gol desde 2014.

Azar do poderoso Racing, que também foi eliminado da Libertadores, torneio que pode ter no ano que vem equipes como o Sarmiento de Resistencia ou o Central Córdoba, do sonhador Corleoni.

“Há de se olhar sempre para frente, ter sonhos. O dia em que deixemos de sonhar, não haverá mais nada na vida.”

Equipes de divisões inferiores que eliminaram clubes da 1ª divisão na Copa Argentina 2018

Primeira fase:
Racing 0 x 1 Sarmiento de Resistencia
Belgrano 0 x 1 Platense 
Vélez Sarsfield 1 (3) x (4) 1 Central Córdoba 
Banfield 1 (2) x (3) 1 General Lamadrid 
San Martín de San Juan 0 (4) x (5) 0 Brown de Adrogué 
Godoy Cruz 1 (2) x (4) 1 Defensores Unidos

Segunda fase: 
Central Córdoba 2 x 0 Tigre
Lanús 1 x 2 Atlético de Rafaela
Sarmiento de Resistencia 2 x 1 Unión de Santa Fe
Independiente 1 (3) x (4) 1 Brown de Adrogué

Oitavas de final:
Argentinos Juniors 0 x 2 Temperley

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