Taça das Favelas chega a São Paulo e cobra espaço das mulheres

Competição entre comunidades carentes terá meninas "vestindo as cores que quiserem"

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Mulheres disputam a edição carioca da Taça das Favelas 2018 - Iris Cristina/Cufa
São Paulo

Não foi um Globo de Ouro, mas a cerimônia de lançamento da edição paulistana da Taça das Favelas teve a mulher na pauta. Como tem ocorrido na premiação do cinema nos Estados Unidos e em outras manifestações culturais pelo mundo, houve uma preocupação com o espaço ocupado por elas, mesmo em um ambiente predominantemente masculino.

Divulgada como “o maior campeonato de futebol do mundo entre favelas”, o evento espera movimentar 20 mil atletas em comunidades carentes de São Paulo. Peneiras definirão a formação de 32 times masculinos e 16 femininos que brigarão por um título que nasceu no Rio de Janeiro, em 2012, e hoje está em 12 estados.

As equipes de homens ainda são maioria. Será mais difícil preencher os espaços reservados às mulheres, motivo pelo qual não há limitação de idade para elas – os times masculinos terão jogadores de 14 a 17 anos.

“Quando fizemos um torneio de basquete, também falaram: ‘Não vai ter jogadora’. Mas temos que fazer a nossa parte, abrir o espaço. É importante falar do espaço feminino”, disse a cantora Nega Gizza, uma das criadoras da Cufa (Central Única das Favelas), idealizadora da Taça das Favelas.

Ela apresentou o campeonato ao lado do irmão, o rapper MV Bill, em cerimônia que uniu a formalidade de patrocinadores e políticos – o prefeito Bruno Covas compareceu, prometendo ajuda com campos e arbitragem – à irreverência de artistas como o humorista Hélio de la Peña.

Jogadores da favela carioca da Caixa D'Água fazem a festa na final de 2018 - Iris Cristina/Cufa

Houve também o cuidado de que ao menos um dos embaixadores fosse mulher. Por isso, a ex-jogadora de basquete Marta apareceu, ao lado do ex-jogador de futebol Cafu e do rapper Dexter, para abençoar a iniciativa.

“Estou aqui para representar todas as mulheres”, afirmou a ex-atleta de 54 anos, que explicou à reportagem por que resolveu se manifestar dessa maneira.

“Quando comecei a jogar basquete, meu pai dizia que esporte era só para meninos. Olha a cabeça da gente. Não é de hoje que se fala que mulher precisa lavar, passar e mais nada. Temos que dar esse empurrãozinho, essa força para a mulherada, porque elas podem fazer o que quiserem”, disse Marta.

Isso inclui a escolha cromática. A ex-atleta foi apenas uma das várias pessoas que fizeram referência à polêmica frase de Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos: “Menino veste azul e menina veste rosa”.

A questão surgiu quando foram apresentadas as bolas da Taça das Favelas. Havia uma versão com detalhes em azul, outra com detalhes em rosa, mas a organização tratou logo de avisar ao microfone: “As meninas e os meninos usam as cores que eles quiserem”.

Mulheres da Caixa D'Água celebram título carioca da Taça das Favelas de 2018 - Iris Cristina/Cufa

​Thais da Silva, 16, representou as atletas que estarão em campo e recebeu uma dessas bolas. Não deu bola para a cor e se mostrou ansiosa para disputar o campeonato – que começará em abril e terá as finais masculina e feminina, em 1º de junho, transmitidas pelo SporTV.

“Vamos mostrar que a gente tem direito de futebol, que a gente também tem nosso espaço no futebol”, avisou a moradora da enorme favela de Heliópolis, com população estimada em 200 mil habitantes. 

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