Time LGBT diz ter sido alvo de discriminação por sócios de clube em São Paulo

Unicorns treinavam vôlei no local; entidade afirma ter tomado providências

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São Paulo

Quatro anos depois da sua criação, o clube Unicorns, composto apenas por jogadores LGBTs, diz ter sido perseguido e sofrido com atitudes homofóbicas durante suas práticas desportivas.

Os organizadores do grupo afirmam que tiveram de romper contrato e deixar de treinar em um ginásio que alugavam, no Brooklin, zona oeste de São Paulo. Atualmente com cerca de 200 atletas, eles se juntam para praticar quatro modalidades desportivas: futebol, vôlei, corrida e ginástica funcional. 

As queixas de perseguição aos jogadores começaram no início deste ano, após sócias do clube Açaí, onde o Unicorns treinava vôlei, entrarem no ginásio durante a atividade do grupo, começarem a filmá-los e a dizer que os integrantes do grupo eram uma ameaça.

Jogadores do time Unicorns dizem ter sofrido discriminação em clube que frequentavam
Jogadores do time Unicorns dizem ter sofrido discriminação em clube que frequentavam - Karime Xavier/Folhapress

Em um segundo episódio, de acordo com a direção do Unicorns, senhoras teriam feito ameaças e xingado uma jogadora transexual que havia usado o banheiro feminino. Os maridos dessas mulheres teriam também se aproximado dos jogadores com intuito de chamá-los para briga.

“Acusaram os meninos de atos ‘inapropriados’, e falaram que ‘veado merecia morrer’. Tudo foi levado oficialmente ao clube, mas nada foi feito. O conselho disse ainda que não poderia garantir a nossa segurança. E sugeriu que rescindíssemos o contrato”, afirma Filipe Marquezin, 32, um dos dirigentes do Unicorns, que pagava para usar as instalações do clube.

Um boletim de ocorrência por injúria e ameaça —não existe o crime de homofobia no Brasil, discussão sobre essa demanda está no Supremo Tribunal Federal— e um pedido de investigação por parte da Secretaria da Justiça de São Paulo foram registrados.

A administração do clube Açaí informou que todas as providências administrativas que cabiam a suas responsabilidades foram tomadas e que não encontrou indícios, durante a apuração dos fatos, de prática de homofobia dentro de suas instalações.

Para o advogado do clube, Claudio Barbosa, 50, “problemas de relacionamento são normais em todos os lugares e isso nada tem a ver com orientação sexual, credo ou raça das pessoas. Assim que foi acionada, a diretoria adotou um procedimento administrativo disciplinar e aplicou uma pena preventiva às sócias que foram denunciadas [20 dias de suspensão] e encaminhou o caso ao conselho”.

Segundo o Açaí, sócias do clube também protocolaram queixas contra o Unicorns por infringir normas internas relativas a horário e organização do ambiente, o que foi reconhecido pela agremiação.

“O Unicorns passou a exigir do clube acesso aos vídeos e aos nomes dos sócios que os gravaram, mas isso não é de nossa competência. Recomendamos que eles procurassem as autoridades. Os atletas exigiram também medidas exclusivas de segurança para eles jogarem, o que também não podemos garantir. Foram eles que resolveram romper o contrato conosco”, diz Barbosa.

Ainda de acordo com o advogado, a denúncia de hostilização à atleta transexual não foi oficialmente realizada pelo Unicorns, mas, mesmo assim, foi feita uma apuração que não conseguiu encontrar provas materiais do ato.

Para os atletas, as medidas tomadas pelo clube Açaí foram apenas protocolares. Segundo eles, nada de concreto foi feito para apoiar e incentivar a permanências deles nas instalações do clube.

O Açaí, que tem cerca de 700 sócios, informa que pretende, no futuro, fazer uma ação de valorização do respeito à diversidade.

“Não vemos razão para pedir desculpas, agimos dentro dos nossos limites estatutários. Pode ser que as condutas adotadas não tenham satisfeito a eles, mas não temos de responder por todos nossos sócios, não são nossos prepostos”, disse o advogado.

Desde a saída do clube do Açaí, o Unicorns treina em outros espaços. O grupo ainda não conseguiu um local fixo para os treinos de todas as modalidades. A equipe de vôlei, por exemplo, está agora em uma quadra na Barra Funda.

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