Escalador vence a morte e o Oscar ao conquistar El Capitan sem proteção

Alex Honnold se tornou um dos maiores atletas da história de qualquer esporte

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A escalada de Alex Honnold no paredão El Capitan em cena do documentário 'Free Solo' Jimmy Chin/National Geographic

Andrea Murta
Washington

Figurar em um documentário vencedor do Oscar é pouco para o que fez Alex Honnold, 33, ao escalar sem cordas um dos paredões mais icônicos do mundo —o El Capitan, no parque nacional do Yosemite (Califórnia). Em 3 de junho de 2017, Honnold se tornou definitivamente um dos maiores atletas da história de qualquer esporte.

Quem não escala talvez ignore a dimensão da proeza. O El Capitan é um paredão de quase um quilômetro de altura, com várias vias de dificuldade variada. Honnold subiu pela Freerider, que chega ao grau 5.13a na escala americana (acima de 5.12 a via é considerada avançada —e difícil). A maioria dos escaladores jamais chegará a esse grau, mesmo com cordas de segurança.

No caso de Freerider, é ainda mais complicado devido aos trechos de escalada positiva --em que o ângulo é maior que 90° e a parede é quase lisa, sem nada além de minúsculas ondulações em que o escalador se apoia com base na fricção da sapata de borracha. Escorregou, é queda e morte certa.

Ainda não se assustou? Pense agora que o El Capitan é uma parede de granito polida pelo efeito da água. E o granito é notoriamente escorregadio.

A rota que Alex fez —com alguns desvios— tem 31 cordadas, ou seções. É cansativo o suficiente escalar apenas uma. Escaladores normais descansam minutos, ou até horas, entre cordadas. Para completar mais de 30, o normal é levar dias. Honnold fez a via inteira em menos de quatro horas.

Ele precisou enfrentar vários desafios, sendo as partes de escalada positiva algumas das mais complicadas. Mas é na cordada 23 que se encontra o "crux" —parte mais difícil— de toda a rota. É o "boulder problem", na altura do Canto Teflon. A seção tem movimentos técnicos, intensos e difíceis em agarras mais finas que um lápis. Ali, é impossível ter 100% de certeza do resultado. E o "boulder problem" está a 625 metros de altura. 

Depois que essa parte foi superada, a questão era mais de cansaço. Quem escala já sentiu o antebraço inchar com fluxo de sangue e oxigênio, o que às vezes faz com que as mãos parem de obedecer. É o que costuma acontecer na seção Enduro, já perto da Mesa Redonda.

Lembre-se que Honnold fez isso sem alternativas caso algo desse errado. O controle mental necessário é inimaginável. É por isso que se estima em menos de 1% os escaladores ativos que se aventuram pelo free solo. E a maior parte só o faz em vias fáceis, bem longe do nível dos solos de Honnold, que já havia ganhado fama com outras ascensões sem proteção.

Dos que chegaram perto do risco assumido pelo americano, muitos morreram —como Derek Hershey, que caiu em outra via no Yosemite em 1993, ou John Bachar, que morreu escalando a Dike Wall em 2009. 

Os solistas são os unicórnios da escalada, cuja audácia é muito distante mesmo para adeptos do esporte. Esta que vos fala não gosta sequer de sair do chão em uma via sem proteção —costumo "clipar" a corda no primeiro mosquetão da parede com ajuda de varas improvisadas. Portanto, não pergunte a todo escalador que encontrar se ele usa cordas; é como perguntar a um corredor se ele usa tênis.

Não é fácil imaginar nenhum feito esportivo que se aproxime da combinação de técnica, resistência, força e controle mental que Honnold demonstrou no El Capitan. Em "Free Solo", o documentário, outro dos melhores escaladores do mundo, Tommy Caldwell, assim descreve o feito: "É como disputar a medalha de ouro nas Olimpíadas; e se você perde, você morre". 

O problema agora é seguir sendo desafiado. O que pode Honnold fazer depois de escalar El Capitan em free solo —e continuar vivo?

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