Com mulheres no poder, Corinthians e Ferroviária decidem Brasileiro feminino

Equipes se enfrentam pela final do campeonato nacional neste domingo (29)

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São Paulo

Finalistas do Brasileiro feminino, Corinthians e Ferroviária contam com estruturas diferentes para a modalidade, mas há algo em comum na gestão dos dois clubes: ambos têm o departamento de futebol gerido por mulheres.

Ana Lorena, coordenadora da equipe de Araraquara, e Cris Gambaré, diretora de futebol feminino do Corinthians, comandaram seus times para chegar a decisão deste domingo (29), às 14h, no Parque São Jorge. O jogo terá transmissão da Band na TV aberta e também do Twitter.

O primeiro jogo da final, no domingo passado, terminou em 1 a 1. Os ingressos para o duelo na casa corintiana variam de R$ 10 a R$ 20 (sócios-torcedores alvinegros pagam metade). Oito mil entradas foram colocados à disposição.

Campeã nacional em 2014, a Ferroviária viu o futebol feminino surgir no clube em 2001, em parceria com a prefeitura de Araraquara. O apoio municipal permitiu à equipe se consolidar no cenário nacional.

Mulher agachada em gramado, com bolsa de bolas ao lado
Ana Lorena, coordenadora do time feminino da Ferroviária - Zanone Fraissat/Folhapress

Atualmente, o time ainda aproveita algumas estruturas da prefeitura, como campos municipais, transporte e uma rede de escolinhas que abastece há anos o time principal. Desde 2017, há um processo gradual de profissionalização e maior independência do futebol feminino do clube, liderado por Ana Lorena.

Segundo ela, essa é a única forma de poder competir com clubes tradicionais como o próprio Corinthians, além de outros que integram a Série A do Brasileiro masculino e que, por exigência da CBF e da Conmebol, criaram times femininos na atual temporada.

"Com a entrada dos grandes [nas Séries A e B do Brasileiro da modalidade], o que a gente resolveu? Precisa profissionalizar tudo e investir na base para sobreviver ", diz Ana Lorena, 34, à Folha.

"A gente sabe que não vai brigar financeiramente, a gente vai brigar com estrutura e profissionalismo", afirma.

Para fortalecer o feminino, a coordenadora também liderou uma integração com o aparato que a Ferroviária já tinha para o futebol masculino. O departamento médico do clube, por exemplo, passou a atender às duas modalidades, assim como o marketing, que atua também no futebol das mulheres.

Nos últimos anos, cresceu também o número de jogadoras da equipe com carteira assinada. Segundo a dirigente, as atletas registradas saltaram de seis, em 2017, para 16 meninas neste ano —hoje, pouco mais de 50% do elenco tem registro.

Natural de Campinas, Ara Lorena conta que "era dessas meninas que jogavam com os meninos na rua". Nunca atuou profissionalmente, mas o futebol permeou toda a sua carreira acadêmica. Formada em Educação Física, também tem mestrado e doutorado voltados para a área de preparação física e análise de desempenho.

Para ela, a chegada do time de Araraquara à decisão nacional mostra a força do projeto do clube, mas também das mulheres que ocupam cargos de relevância na estrutura da Ferroviária. Além dela na coordenação, há uma supervisora no departamento feminino, uma preparadora de goleiras e a treinadora, Tatiele Silveira.

"Falei para a Tatiele que era muito importante para nós estarmos nessa final. A maior dificuldade para as mulheres no futebol, mas não só no futebol, é chegar aos cargos de liderança. Precisamos tomar muito cuidado, né, porque mulher não pode errar muito. E aqui você tem os dois principais cargos de liderança [coordenadora e técnica] com mulheres", diz Lorena.

Mulheres em gramado com bola de futebol
Jogadoras do Corinthians em treino - Bruno Teixeira/Ag.Corinthians/Divulgação

Do outro lado da decisão, o Corinthians, assim como a Ferroviária, busca um bicampeonato inédito no Campeonato Brasileiro feminino.

Com um projeto iniciado em 2016 em parceria com o Osasco Audax, o clube adotou caminho similar ao da Ferroviária, aproveitando a estrutura do futebol masculino. Atualmente, a equipe feminina compartilha as instalações com a base. Mas há bastante autonomia para o departamento dentro da engrenagem corintiana.

O time tem ônibus personalizado, contas exclusivas do futebol feminino nas redes sociais e uma embaixadora, a ex-jogadora Milene Domingues, que promove a modalidade na divulgação de jogos e demais atividades da equipe.

Nem todas as jogadoras têm carteira assinada. O gasto mensal da equipe é de R$ 170 mil, com salário médio de R$ 7.000 por atleta. Valores maiores que os praticados pela maioria dos participantes na Série A.

Do surgimento da equipe feminina até a consolidação como força na elite nacional, Cris Gambaré participou como gestora nesses três anos.

"Hoje, eu me orgulho de estar no Corinthians e de ter feito esse trabalho. É uma responsabilidade muito grande. Hoje, estão começando a respeitar a modalidade, então tenho muito orgulho do que estamos fazendo e de onde queremos chegar. Estamos fazendo um feito histórico para o Corinthians e para o futebol feminino", disse a diretora corintiana ao UOL.

CORINTHIANS x FERROVIÁRIA
Às 14h, no Parque São Jorge
Transmissão: Band e Twitter

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