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Após chorar de saudade do futebol, Mourinho volta mais espirituoso

Treinador português comanda o Tottenham, time que havia jurado jamais dirigir

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São Paulo

Parecia uma boa sacada mandar uma equipe de TV a Portugal para passar um dia ao lado do técnico famoso que, pela primeira vez em 17 anos, estava desempregado, em férias forçadas.

José Mourinho, 56, aceitou a oferta do canal britânico Sky Sports News, mas a entrevista saiu do script quando o treinador começou a falar sobre seus dias ociosos.

“No momento em que fui para o futebol profissional tive o clique na cabeça. Tem sido algo muito sério. E então agora [o futebol] parou e em vez de aproveitar isso, não consigo. Sinto falta”, disse o técnico, que começou a chorar no meio da explicação.

José Mourinho comemora o gol do lateral Aurier na vitória do Tottenham Hotspur sobre o Olympiacos (GRE), pela Champions League
José Mourinho comemora o gol do lateral Aurier na vitória do Tottenham Hotspur sobre o Olympiacos (GRE), pela Champions League - Glyn Kirk-26.nov.19/Reuters

Pouco mais de um mês depois, Mourinho foi contratado para o lugar do argentino Mauricio Pochettino no Tottenham Hotspur. Pode ser um casamento perfeito. O treinador que fez fama como máquina de ganhar títulos chega ao clube com dificuldade para ser campeão nos últimos 30 anos.

São três jogos e três vitórias para a equipe sob o comando do português. A última no sábado (30), 3 a 2 sobre o Bournemouth, pelo Inglês.

Mourinho estava sem trabalho desde dezembro do ano passado, mês em que acabou demitido pelo Manchester United —time que ele reencontra nesta quarta (4), também pela Premier League. Encerrou ciclo de dois anos e meio que começou com muita promessa, mas acabou mal. Nas semanas finais em Old Trafford, ele nem sequer conseguia conversar com o chefe executivo Ed Woodward sem que ambos terminassem gritando um com o outro.

O treinador estava frustrado com a falta de investimento em reforços. O dirigente argumentava que a família Glazer (dona do United) havia gasto 400 milhões de libras (cerca de R$ 2 bilhões em valores atuais) em novos jogadores.

Mourinho também não tinha mais qualquer relacionamento com Paul Pogba, o jogador mais caro do elenco. Pouco ajudava o futebol burocrático, sem vida ou vitórias que o time mostrava em campo.

Em duas temporadas e meia, porém, Mourinho pode lembrar que conquistou dois títulos: a Copa da Liga e a Liga Europa de 2017, este último o troféu mais importante da agremiação após a aposentadoria do lendário treinador Alex Ferguson, em 2013.

Ele se sentiu vingado porque, em 2018, pediu que o zagueiro Harry Maguire fosse comprado do Leicester por cerca de 20 milhões de libras (por volta de R$ 100 milhões). Ouviu como resposta que não valia o investimento. Há quatro meses, o Manchester United contratou o defensor por 80 milhões de libras (R$ 400 milhões).

No Tottenham, além de voltar a vencer, Mourinho precisa acabar com a imagem de que se tornou um técnico com prazo de validade cada vez menor. O último emprego de que saiu por vontade própria foi a Internazionale (ITA), em 2010.

No Real Madrid, nas duas passagens pelo Chelsea (onde se autoproclamou “o especial”) e no Manchester United, começou bem e depois implodiu.

Sob o comando de Pochettino, o Tottenham voltou a ser uma força do futebol britânico. Chegou à final da última Champions League e brigou por outros títulos. Esteve perto, mas não ganhou nenhum. A equipe não vence a liga nacional desde 1961. A última conquista europeia foi a antiga Copa da Uefa (atual Liga Europa), em 1984. O jejum começou em 2008, quando levantou o troféu da Copa da Liga.

Mourinho parece estar à vontade em suas primeiras semanas do retorno a Londres. É a cidade em que se habituou a viver e onde seus filhos estudam.

Uma das reclamações sobre sua passagem pelo Manchester United foi que se recusou a alugar uma casa. Passou 895 dias morando em suíte no luxuoso The Lowry Hotel, um dos mais caros da região, às custas do clube. Quando foi embora, a conta ficou no equivalente a R$ 2,5 milhões.

Mesmo diante das perguntas mais agressivas das entrevistas, ele tem se saído como um comediante de stand up. Com respostas curtas, de uma linha e engraçadas.

Ele nem sequer vacilou quando questionado se o elenco do Tottenham ainda sentia o baque por ter perdido a decisão do principal torneio europeu. “Não sei. Eu nunca perdi uma final de Champions League”, devolveu.

Mourinho foi campeão em 2004, com o Porto (POR) e em 2010, com a Internazionale.

Também deu uma alfinetada no eterno rival Pep Guardiola ao ser perguntado sobre o que disse aos jogadores no intervalo do jogo contra o Olympiacos (GRE), na última terça: “Você vai ter de esperar alguns meses e comprar o filme da Amazon".

Quando ele estava no United, o serviço de streaming produziu série sobre a temporada do Manchester City, comandado por Guardiola, em que o português aparecia como vilão, o contraponto ao futebol bonito e ofensivo do espanhol.

O que continua imutável é seu gosto por chamar a atenção para si. Fez questão de cumprimentar e abraçar o gandula Callum Hynes, 15, que entregou rapidamente a bola para a cobrança de um lateral dos Spurs diante do time grego. Na sequência do lance, saiu o gol de empate da sua equipe —o jogo acabou 4 a 2.

“Eu gosto de gandulas inteligentes, como eu fui. Eu fui um gandula brilhante quando era garoto. E esse menino hoje foi brilhante. Ele lê o jogo, o entende e fez uma assistência importante”, elogiou.

Hynes foi convidado para para almoçar com o elenco neste sábado, antes da partida no New Tottenham Football Stadium.

A equipe está em quinto lugar na tabela da Premier League, a 20 pontos do líder Liverpool. Entrar na disputa pelo título nesta temporada é praticamente impossível. Mas nada que preocupe José Mourinho.

Ele não perdeu o rebolado ao ser lembrado do juramento feito quando era técnico do Chelsea, de que jamais dirigiria o rival Tottenham. Então, o que mudou? “O Chelsea me demitiu.”

Erramos: o texto foi alterado

Este texto foi chamado equivocadamente na home de Esporte antes de sua publicação

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