Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Com corte inédito de verba da Globo, Cruzeiro terá desafio nas contas

Time é o primeiro grande a perder garantia de dinheiro de TV ao ser rebaixado

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São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro

Rebaixado pela primeira vez no Campeonato Brasileiro e vivendo a pior crise financeira da sua história, o Cruzeiro estreará na Série B em 2020 como o primeiro clube grande a enfrentar o corte de verbas de TV.

A redução pode chegar a 60% do orçamento. Em um ano sem títulos nacionais, a equipe já teve queda na receita em 2019. No ano passado, R$ 185 milhões do total de R$ 322 milhões arrecadados vieram de cotas de TV.

O modelo de contrato que o Grupo Globo passou a implementar em 2019 prevê que as verbas para os fundos de TV dos clubes —tanto transmissões de TV aberta quanto na fechada— dependem da presença deles na Série A.

Pelo novo acordo, que entrou em vigor neste ano e terá validade até 2024, 40% do valor pago pela Globo é igual para todos os clubes, 30% depende do número de transmissões e outros 30% da performance do clube no campeonato. Somente quem terminar classificado até o 16º lugar recebe esse valor no ano seguinte. Os rebaixados ficam sem nada.

A mudança derrubou a cláusula conhecida como paraquedas, que valia até 2018 e garantia aos times o mesmo valor das cotas da Série A no primeiro ano disputando a segunda divisão.

Esse dispositivo ajudou outros grandes a ficarem apenas um ano na Série B. Em 2017, o Internacional recebeu R$ 60 milhões, enquanto o Vasco ganhou R$ 100 milhões um ano antes.

Com as novas regras, times rebaixados podem optar por receber o valor fixo pago a todos na disputa (R$ 8 milhões) ou ficar com valores correspondentes à venda de jogos em pay-per-view (em 2019, cerca de R$ 30 milhões).

À Folha o Cruzeiro disse que irá sentar com a Globo para negociar valores. Ainda sem aprovar as contas de 2018, o clube não sabe estimar a receita e o rombo da dívida que terá de equilibrar em 2020.

A cota de 2020 já terá desconto, porque em 2018 a gestão do presidente Wagner Pires de Sá pediu antecipação parcial das verbas de TV até 2022. A informação foi confirmada pelo clube.

O Profut (Programa de Modernização da Gestão de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) proíbe antecipação de receitas referentes a períodos posteriores ao fim da gestão ou mandato corrente, exceto para percentual equivalente a 30% da receita do primeiro ano de gestão. Pires de Sá foi eleito para o período 2018-2020

Em uma projeção feita por Cesar Grafietti, consultor de finanças e gestão do esporte, o corte na verba da TV será a maior diferença em 2020.

A receita total clube deve chegar a R$ 137 milhões no próximo ano, considerando cota de TV, publicidade estável e venda de atletas igual à média da última década. O valor é equivalente a 42% da receita de 2018.

A situação do Cruzeiro é mais difícil do que a de outros grandes rebaixados, na avaliação dele, mas não chega a ser exatamente desconfortável em comparação aos rivais de 2020, já que as receitas de clubes da série B costumam girar entre R$ 50 e 60 milhões.

“A gente está falando de um clube que deve receber entre R$ 100 e 120 milhões de receita e, se vender atletas, o valor pode aumentar. Acho que a grande questão do Cruzeiro é repensar seus custos e fazer com que caibam dentro desses valores”, diz Grafietti.

Thiago Neves em jogo do Brasileiro contra o Santos; meia tem um dos salários mais altos do elenco
Thiago Neves em jogo do Brasileiro contra o Santos; meia tem um dos salários mais altos do elenco - Washington Alves - 18.ago.19/Reuters

Um levantamento do Itaú BBA aponta que a dívida do Cruzeiro cresceu 41% de 2017 a 2018, chegando a R$ 469 milhões. Considerando débitos, a origem deles e como é feita a gestão do clube, estudo da consultoria legislativa da Câmara dos Deputados estimou que o agremiação levaria 200 anos para quitar suas dívidas.

Além de questões legais em aberto, outro ponto em discussão na reestruturação do Cruzeiro para o ano que vem será o elenco grande e caro, com nomes como Fred e Thiago Neves —afastado, o meia disse à Fox Sports que aceitaria reduzir o salário, mas Zezé Perrella, gestor de futebol, afirma que o atleta não vestirá mais a camisa do time.

A renegociação dos contratos de jogadores que tiveram altos salários neste ano na série A é um dos pontos centrais da reestruturação, segundo Perrella. Ele fez a análise logo após a derrota para o Palmeiras no último domingo (8), resultado que sacramentou o rebaixamento.

“É hora de cada um entender que o Cruzeiro não tem condição de bancar isso. Vou ter que conversar com aquelas pessoas com salário fora da realidade do clube e tentar alguma coisa, para poder recomeçar dentro da realidade”, disse.

Erramos: o texto foi alterado

O novo acordo de TV entre clubes e Grupo Globo vai até 2024, não 2022, como inicialmente publicado. A informação foi corrigida

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