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Após perder pai, jovem tenista busca na quadra alívio para luto

Amanda Anisimova, 18, é uma das principais revelações dos Estados Unidos

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Christopher Clarey
Bradenton (Flórida) | The New York Times

Com sua carreira no tênis decolando, Amanda Anisimova, então com 17 anos, sofreu um choque abrupto e ficou de fora do US Open no ano passado porque estava de luto.

O pai dela, Konstantin Anisimov, tinha só 52 anos quando morreu de um ataque cardíaco, uma semana antes do início do último torneio de Grand Slam do ano passado.

Anisimov, um imigrante russo imponente e de alto intelecto, com voz de barítono, foi treinador de sua filha por muito tempo, e embora ele e a mãe de Amanda, Olga, tivessem se separado pouco tempo antes e a tenista tivesse começado a trabalhar com uma nova equipe de treinadores, Anisimov se mantinha regularmente em contato com sua família.

Amanda Anisimova saca durante partida no torneio de Auckland, antes do Australian Open
Amanda Anisimova durante partida no torneio de Auckland, antes do Australian Open - Michael Bradley - 8.jan.2020/AFP

Sua morte, em casa na cidade de Aventura, Flórida, aconteceu enquanto Anisimova, um dos jovens talentos mais promissores do tênis dos Estados Unidos, estava em Nova York se preparando para o US Open, depois de seu primeiro grande sucesso, a semifinal de Roland Garros, mais cedo na temporada.

Anisimova abandonou o torneio e voltou a Miami, com Olga e Maria Egee, sua irmã mais velha, antes de retornar por breve período aos torneios, no final de setembro.

“Foi realmente difícil deixar minha casa, sabe?”, disse Anisimova em uma entrevista no mês passado.

Ela deu passos importantes em sua carreira, recentemente. Assinou um contrato de longo prazo com a Nike que deve lhe garantir milhões ao ano, ainda que os termos não tenham sido revelados. Também contratou Carlos Rodriguez, um dos treinadores de maior sucesso na história do tênis feminino, que no passado ajudou Justine Henin a reencontrar seu caminho depois da morte da mãe.

Mas Anisimova, compreensivelmente, continua a enfrentar dificuldades, com a morte do pai. Quando perguntada se estava em condições de falar sobre ele, ela levou as mãos ao rosto e chorou silenciosamente por mais de um minuto, antes de deixar claro que gostaria de fazê-lo.

“Essa é obviamente a coisa mais difícil que já tive de enfrentar e a coisa mais difícil que já me aconteceu, e eu realmente não converso sobre esse assunto com ninguém”, ela disse. “A única coisa que tem me ajudado é jogar tênis e estar na quadra. É isso que me faz feliz, e sei que o faria feliz, e é assim que as coisas são."

Ocupando o 22º posto no ranking do tênis feminino, ela parece em ótima forma, a caminho da abertura do Australian Open (sua estreia está prevista para a madrugada de terça).

Anisimova, que fez 18 anos recentemente, abriu a temporada chegando às semifinais do ASB Classic, em Auckland, Nova Zelândia. Também realizou um de seus objetivos de longo prazo ao enfrentar Serena Williams, que mostrou a Anisimova por que vem sendo a maior tenista de sua era ao derrotá-la por 6-1, 6-1.

Com altura de mais de 1,80 metro e um dos melhores backhands de duas mãos no esporte, Anisimova é uma tenista de força, e também é capaz de se defender no canto da quadra e mudar o ritmo de seu jogo.
O potencial dela é evidente. Mas não importa aonde vá, no futuro, o tênis jamais será o mesmo para ela, porque o esporte era parte de sua jornada familiar.

“Não acho que Amanda tenha passado completamente pelo processo de luto”, disse Rodriguez em Bradenton, Flórida, onde eles estavam treinando na IMG Academy. “Temos de ser muito cuidadosos e muito sensíveis e não podemos apressar as coisas. Nos últimos meses a situação dela foi muito difícil e ela não teve muito tempo para reagir."

Os pais de Anisimova se mudaram de Moscou para os Estados Unidos em 1998, durante uma crise financeira em seu país de origem.

Eles vieram, disse Konstantin Anisimov, em busca de um futuro melhor para Maria, que tinha 10 anos na época. Radicaram-se em Colts Neck, Nova Jersey, uma comunidade afluente conhecida por seu bom sistema escolar. Maria, como seus pais, inicialmente falava muito pouco inglês, mas enquanto aprendia começou a canalizar parte de sua energia considerável para o tênis.

Em 2002, um ano depois de Amanda nascer, Maria convenceu os pais a viajar a Bradenton, onde eles fizeram sua primeira visita à IMG Academy, chegando sem aviso às 4h30min, para conversar com o respeitado treinador Nick Bollettieri. Não tinham como saber que, 17 anos mais tarde, a academia teria papel central no desenvolvimento de Amanda como tenista.

Amanda Anisimova comemora vitória em Roland Garros, no ano passado
Amanda Anisimova comemora vitória em Roland Garros, no ano passado - Charles Platiau - 6.jun.19/Reuters

A família se mudou para Miami em 2004, em parte para ajudar Maria a tentar o tênis de forma mais séria, e os Anisimov estudaram o esporte e começaram a ensiná-lo. No começo, Amanda imitava sua irmã mais velha.

”Se eu jogava um torneio, Amanda assistia do outro lado da cerca da quadra e imitava meus movimentos”, disse Maria Egee. “Ela tinha uma raquete infantil e meus pais disseram que está bem, íamos tentar."

“Os dois pais investiram muito no tênis de Amanda”, disse Nick Saviano, treinador veterano e conselheiro da família e amigo de Konstantin Anisimov por muitos anos. “É muito empolgante ver tudo começar a dar certo, e muito triste saber que Konstantin não poderá ver todos os seus sonhos se realizando."

Konstantin continuou a ser o treinador principal de Amanda até se separar de Olga. Amanda então foi morar com a mãe.

Mas a família manteve contato, e em agosto Olga começou a se preocupar quando Anisimov passou diversos dias sem fazer contato, o que não era seu costume. A polícia foi chamada quando ficou claro que porta do apartamento dele estava trancada por dentro. Um oficial arrombou a porta e o encontrou morto, caído no chão.

“Fomos apanhados de surpresa, aconteceu de modo completamente inesperado”, disse Egee, que se afastou de seu escritório em Nova York para fazer companhia à mãe e irmã, e que não quis falar para este artigo.

“Depois do acontecido, houve muitos altos e baixos, e com certeza alguns momentos ruins e sombrios, e muita coisa sobe o que pensar”, ela disse. “Quando você perde alguém e ainda é muito jovem, pensa em muita coisa de que se arrepende, ou em coisas quer gostaria de ter dito, ou em coisas que a pessoa gostaria de ter dito antes de morrer."

Anisimova disse que a presença de sua irmã vem sendo vital. “As coisas são evidentemente muito difíceis para todos nós, mas acho que, porque temos umas às outras, a situação fica mais fácil”, ela disse. “Acho que ficamos muito mais fortes juntas."

Anisimova voltou a jogar no final de setembro, em torneios em Wuhan e Pequim, China, mas enfrentou problemas.

Na China, ela começou a trabalhar com Rodriguez, cuja base fica em Pequim.

Rodriguez estava afastado do circuito da Associação Feminina de Tênis (WTA, na sigla em inglês) há cinco anos e disse ter rejeitado “cerca de 15” propostas sérias para treinar tenistas e acompanhá-las em torneios internacionais.

Mas Max Eisenbud, o agente de Anisimova, e Rodriguez se reúnem em Pequim todos os os anos e, agora que seus dois filhos estão mais velhos, Rodriguez disse que estava mais disposto a voltar à estrada.

Depois de assistir a muitos vídeos dos jogos de Anisimova, Rodriguez deixou claro seu interesse em trabalhar com ela. A tenista havia dispensado Jaime Cortés, que a treinou no ao passado quando ela conquistou seu primeiro título da WTA, em Bogotá, e chegou às semifinais de Roland Garros.

O contrato de treinamento de Rodriguez com Anisimova vai até o final do Australian Open, que se encerra em 2 de fevereiro, mas Rodriguez e Eisenbud esperam que o torneio seja só o começo.

Fora das quadras, o foco de Anasimova está em melhorar seu condicionamento e evitar novas lesões.
“Há uma grande disparidade entre o nível de seu tênis e o nível de seu condicionamento físico”, disse Rodriguez, que apontou que, como no caso de muitos tenistas, o lado esquerdo do corpo de Anisimova é muito mais fraco que o lado direito, dominante.

“É por isso que ela teve alguns de seus problemas físicos, e o que explico a todos é que não é algo que se possa resolver em um ou dois meses. Precisamos de seis meses de trabalho consistente, porque é preciso fazer as coisas devagar. Estamos construindo uma campeã, mas preciso que me deem tempo para desenvolver as rotinas e criar a mentalidade necessária."

No entanto, a jovem Anisimova parece ter pressa. “Acredito mesmo que eu possa vencer um torneio de Grand Slam em 2020”, ela disse. “Estou trabalhando o mais que posso para fazer com que isso aconteça e, com a equipe que tenho agora sei que isso é possível."

Sua ascensão vem sendo rápida, mesmo. Ela é a jogadora mais jovem a ter posto entre as 60 melhores do ranking e, por ter completado 18 anos, não está mais sujeita a restrições quanto ao número de torneios que está autorizada a jogar. Seus “groundstrokes” estão melhorando muito e seu jogo vem evoluindo.
O desafio será manter o foco e o ímpeto, depois de alguns meses difíceis.

“Não acaba nunca”, ela disse sobre a dor de perder o pai. “Mas é algo que não se pode mudar, e você precisa voltar a viver."

Tradução de Paulo Migliacci

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